Correio braziliense, n. 20147, 20/07/2018. Política, p. 2

 

Alckmin puxa alianças e mina acordos de Ciro

Rodolfo Costa e Murilo Fagundes

20/07/2018

 

 

ELEIÇÕES 2018 » Iniciado o período das convenções, negociações ocorrem nos bastidores e podem se prolongar até 15 de agosto, quando as coligações devem estar registradas. Tucano recebeu promessa do blocão, que também negocia com pedetista

Os movimentos que importam na formação de aliança passam longe das convenções partidárias. Na ação mais efetiva até agora no tabuleiro político, o presidenciável do PSDB, Geraldo Alckmin, conseguiu, ontem, a promessa de ter apoio do blocão, que reúne DEM, PP, PRB, PR e Solidariedade. O tucano disputa o conglomerado de legendas com o candidato do PDT, Ciro Gomes, que, hoje, abre a sequência de convenções que se estende até 5 de agosto. A questão é que o prazo para as negociações que garantirão tempo de TV e dinheiro do fundo partidário ultrapassa este prazo e só deverá ser efetivado perto da data para o registro das candidaturas, em 15 de agosto.

Os partidos, que juntos contam com 164 deputados e oferecem três minutos de tevê em cada bloco de 12 minutos e 30 segundos, vão tentar esticar até o fim a corda e barganhar o espaço político na aliança a ser composta. Líderes partidários admitem a possibilidade de uma definição antes de 5 de agosto, mas não há uma unidade em torno disso. Não é para menos a indefinição. Alckmin não consegue decolar nas pesquisas de intenção de voto e ainda enfrenta um aumento da rejeição. O temperamento intempestivo e explosivo de Ciro, bem como o grau de rejeição, também não joga a favor.

Caciques do centrão sabem das dificuldades de Ciro e Alckmin de convencer o eleitorado. Por esse motivo, quanto mais esticarem as conversas, mais tempo terão para negociar cargos e espaço em um governo pedetista ou tucano. Os partidos vão colocar na ponta do lápis os prós e contras de ambos antes de cravar o embarque para uma candidatura ou outra. Na balança do centrão, o apoio irá para o lado que pesar mais.

Três critérios serão adotados pelas legendas para definir o suporte à campanha do PDT ou do PSDB: identidade de agenda, perspectiva eleitoral e repercussão da aliança nos palanques estaduais. A penetração de Ciro entre os eleitores do Nordeste, sobretudo em uma possibilidade de fechar com o PSB, joga a favor do presidenciável. Mas divergências na pauta econômica do pedetista jogam contra ele e a favor de Alckmin.

Os partidos do centrão foram fiéis da balança do governo do presidente Michel Temer em tocar uma agenda reformista. Já a pauta de Ciro na economia é encarada por alguns líderes do blocão como incompatível. No campo de costumes, a agenda centro-esquerda do pedetista não é bem-vista pelo PRB, ligada à Igreja Universal do Reino de Deus, legenda presidida por Marcos Pereira. Em contrapartida, Alckmin é avaliado como um candidato mais alinhado com as pautas do blocão.

As pesquisas de intenção de votos sinalizam um caminho, mas não serão conclusivas, adverte o deputado Efraim Filho (DEM-PB), vice-líder da legenda na Câmara. “Estamos preocupados é com o filme, não o retrato atual. Estamos olhando o ponto de vista qualitativo para onde prevemos que a sociedade irá. Essa agenda de centro, de fazer a travessia desse clima de intolerância que ninguém suporta mais, é, hoje, essencial”, analisou.

O temperamento explosivo de Ciro é um problema para transparecer ao blocão as qualidades de fazer a “travessia do clima de intolerância”. Nesta semana, o pedetista ofendeu com palavras de baixo calão uma promotora do Ministério Público de São Paulo (MP-SP), que abriu inquérito contra ele por injúria racial, após ter chamado o vereador paulista Fernando Holiday (DEM) de “capitãozinho do mato”. Efraim admite que a postura dele está sob análise, mas nega que isso seja determinante para a tomada de qualquer decisão a curto prazo. “São todos elementos que serão levados em consideração e entra dentro dessa análise da agenda e da viabilidade eleitoral. Mas é muito cedo para dizer que um elemento isolado vai definir isso”, declarou.

Vice

O centrão deu as cartas na definição do vice. Independentemente da candidatura escolhida para apoiar, a chapa deve ser formada com o empresário Josué Alencar, filho do ex-vice-presidente José Alencar. Filiado do PR, o nome dele foi uma condicionante para a adesão da legenda na aliança. Alckmin e Ciro apreciam a escolha, que foi indicado pelo próprio ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e cogitado anteriormemte para compor uma chapa com o PT.