Correio braziliense, n. 20148, 21/07/2018. Política, p. 4

 

Centrão cobra caro de Alckmin

Rodolfo Costa

21/07/2018

 

 

Suporte do bloco formado por DEM, PP, PRB, PR e Solidariedade à candidatura do tucano impõe contrapartidas. Coalizão, mais forte até agora, teria mais da metade do tempo de tevê. Na mesa do jogo, as presidências do Congresso

 

O possível apoio do centrão a Geraldo Alckmin, pré-candidato do PSDB à Presidência, vai custar caro e não trará apenas pontos positivos. Ter o suporte do bloco formado por DEM, PP, PRB, PR e Solidariedade vai impor a responsabilidade de agradar as legendas, não apenas durante o governo, mas também nestas eleições. Com o reforço dos partidos à base já assegurada, de PSD, PTB, PPS e PV, a campanha tucana terá pouco mais da metade das quase duas horas diárias previstas no horário eleitoral gratuito de rádio e televisão.

A negociação com o centrão inclui uma série de contrapartidas. Algumas, em fatura a ser cobrada ainda nestas eleições, como o apoio a vagas ao Senado de candidatos do PRB. Mas a conta será mais alta, caso Alckmin vença a disputa presidencial. O blocão deu as cartas e deixou claro que não abre mão de garantir as presidências da Câmara dos Deputados e do Senado.

O trabalho feito à frente da Câmara credencia Rodrigo Maia (DEM-RJ) à recondução. E isso é algo que será costurado entre PSDB e o centrão, para que o democrata permaneça por mais dois anos. No Senado, a aposta é de que o PP indicará o nome que sucederá Eunício Oliveira (MDB-CE). O emedebista embarcou em uma coligação com PT e PDT no Ceará, sem apoio do blocão.

Em caso de vitória de Alckmin nas urnas, a costura aponta para uma coligação que pode render uma das alianças mais fortes já vistas desde a redemocratização. Atualmente, o blocão detém 164 deputados e 32 senadores. E a perspectiva de líderes do centrão é de que esses números cresçam na próxima legislatura. A governabilidade tucana, no entanto, ficará condicionada ao bom relacionamento e ao cumprimento das contrapartidas.

O Solidariedade, partido presidido pelo deputado Paulinho da Força (SP), exige a articulação e aprovação de algum dispositivo que revise o financiamento a sindicatos. Desde que a reforma trabalhista entrou em vigor, a contribuição sindical obrigatória foi extinta. A medida provocou perdas de receitas às centrais, como a Força Sindical, presidida pelo parlamentar. O PR, por fim, conseguiu emplacar o empresário Josué Alencar, filho do ex-vice-presidente José Alencar, como vice na chapa.

Caciques de legendas do centrão negam, contudo, a existência de negociações explícitas em troca de apoio. O vice-líder do DEM no Senado e ex-presidente nacional do partido, José Agripino, negou a recondução de Maia como condicionante para fechar a aliança com os tucanos. Ele lembrou que a definição do presidente da Câmara é feita por meio de voto entre os deputados, e ressaltou que a escolha dos parlamentares não é negociada pela coligação, mas pelo voto.

“Ninguém negocia 513 votos. Ou tem capacidade de angariar e aglutinar ou não tem cacife para ganhar (a eleição). O que acontece é que, neste trabalho de coordenação, Rodrigo Maia mostrou que tem condições de, mais uma vez, se reeleger presidente da Câmara. Não que isso tenha passado por articulações, negociações ou compromissos”, justificou Agripino.

Denúncias

Apesar de forte politicamente, a união entre tucanos e o centrão cria uma grande aliança, na qual importantes nomes das legendas são investigados pela Polícia Federal, foram formalmente acusados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) ou respondem na Justiça. É o caso do próprio Alckmin, suspeito de ter recebido, da Odebrecht, R$ 10 milhões nas campanhas de 2010 e 2014. O presidente nacional do PP, senador Ciro Nogueira (PI), foi denunciado por associação criminosa no inquérito conhecido como “quadrilhão do PP”. O processo foi interrompido no Supremo Tribunal Federal (STF), após o ministro Gilmar Mendes pedir vista.

Apesar dos pontos negativos, o analista político Cristiano Noronha, sócio da Arko Advice, vê mais bônus do que ônus na possível coligação. Para o especialista, diferentemente do MDB, que sofreu grande desgaste com a prisão de Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara, e de Geddel Vieira Lima, ex-ministro-chefe da Secretaria de Governo, os nomes da coalizão não levam o eleitor a uma associação negativa. A escolha de Josué Alencar como vice é, para Noronha, um antídoto. “Até o Ciro (Gomes) estava negociando com o blocão. A aliança garante muitos minutos de televisão e é importantíssima”, ponderou.

Mercado aprova blocão

O impacto da aliança entre Geraldo Alckmin (PSDB) e o centrão foi visível no mercado financeiro. O dólar caiu 1,9% ontem, a maior queda diária em cinco meses, cotado em R$ 3,77. A Bolsa de Valores de São Paulo (B3) disparou 1,36%, com o Ibovespa, o principal índice de lucratividade do mercado, atingindo os 78.538 pontos. Na avaliação dos investidores, com a aliança, o tucano ganhou força para disputar o segundo turno e, quem sabe, vencer as eleições.

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Lula: agenda cheia na prisão

Renato Souza

21/07/2018

 

 

Mesmo preso na Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba, o ex-presidente Lula mantém uma agenda de pré-candidato e está realizando seu plano de campanha. Ontem, recebeu a vista do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad e do advogado Sepúlveda Pertence. A convenção do PT para lançar o candidato da legenda a presidente da República está marcada para 4 de agosto.

Até o momento, a sigla resiste à ideia de deixar Lula fora da disputa eleitoral. Com isso, o petista avança em sua estratégia jurídica e política. O prazo final para registro oficial de candidatura é 15 de agosto. Após essa data, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) analisa se ele pode ou não concorrer, por conta de ter sido condenado a 12 anos e um mês de cadeia pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4). A Lei da Ficha Limpa determina que pessoas condenadas por um tribunal colegiado, como é o caso do TRF-4, fiquem inelegíveis.

Após deixar a sala onde Lula está preso, Haddad disse que, entre os planos de governo, de Lula e do partido, estão propostas de mudanças que vão da economia ao Poder Judiciário. “Ainda não podemos tratar de propostas em si. Mas já posso adiantar que um dos principais objetivos é tirar a nossa economia da lama. Outra proposta de mudança diz respeito à forma de composição dos tribunais superiores. Temos a intenção de criar mandatos com período de atuação limitado. Vamos manter as indicações, mas com tempo pré-determinado, talvez 11 anos”, afirmou.

Racha na defesa

Durante a tarde, Lula recebeu a visita do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Sepúlveda Pertence, que integra sua defesa. Foi a primeira vez que eles conversaram após um desentendimento entre Sepúlveda e o defensor Cristiano Zanin Martins, que atua nas ações que o petista responde na Justiça.

Sepúlveda chegou a indicar que deixaria a defesa de Lula por conta das divergências com Zanin em relação às estratégias de atuação. Haddad não comentou sobre a possível mudança no corpo de advogados, mas demonstrou que uma decisão em torno do caso deve ser tomada pelo pré-candidato nos próximos dias. “Lula comentou que foi uma conversa boa. O doutor Pertence é amigo do presidente Lula há décadas. Ele ouviu as considerações e estratégias do ministro. E vai encaminhar os desdobramentos da conversa nos próximos dias”, afirmou.

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Bolsonaro polemiza com gesto

21/07/2018

 

 

Durante uma visita a Goiânia, o deputado federal Jair Bolsonaro, pré-candidato à Presidência da República pelo PSL, protagonizou mais uma polêmica. Imagens divulgadas ontem nas redes sociais mostram o parlamentar fazendo uma criança simular uma arma de fogo com as mãos. A menina, que aparenta ter menos de três anos de idade, aparece nos braços de Bolsonaro. Ela tem dificuldades em fazer o gesto, então é auxiliada por ele, que posiciona os dedos da garota simulando o cano e o gatilho de um revólver.

A cena ocorreu em meio a uma multidão de seguidores do político, em cima de um trio elétrico. Algumas pessoas estranharam o fato, mas a maioria aplaudia e gritava palavras de ordem em apoio ao parlamentar. As fotos geraram polêmica nas redes sociais e levantaram críticas de políticos. “Bolsonaro, em Goiânia, pegou uma criança no colo e incentivou gesto simbólico de uma arma empunhada. Eu, como pai, sinto nojo e lamento uma pessoa dessa estar solta por aí destilando ódio. Bolsonaro não é um adversário eleitoral, é adversário do Brasil”, postou no Twitter o pré-candidato do Psol à Presidência, Guilherme Boulos.

O deputado alegou que não estava no local para fazer campanha, mas prometeu liberar a posse de arma de fogo para todos os cidadãos, caso seja eleito. Em seguida, o pré-candidato seguiu para a cidade de Rio Verde, em Goiás, onde participou de uma feira agropecuária e conversou com produtores rurais. Procurada pela reportagem do Correio, a assessoria do deputado não se manifestou sobre o assunto. No gabinete da Câmara, ninguém atendeu às ligações.