Correio braziliense, n. 20145, 18/07/2018. Política, p. 4

 

Ciro atira para todos os lados

Deborah Fortuna e Alessandra Azevedo

18/07/2018

 

 

ELEIÇÕES 2018 » Enquanto o pré-candidato se encontrava com caciques da esquerda, no Recife, equipe técnica tentava alinhar programa econômico às pautas mais liberais de partidos de centro-direita, como DEM, Solidariedade e PP

Enquanto o presidenciável Ciro Gomes (PDT) se encontrava ontem com caciques do PCdoB, no Recife, em busca de uma aliança de esquerda, a equipe técnica do pré-candidato tentava alinhar o programa econômico dele com as aspirações do Centrão — grupo que inclui DEM, Solidariedade e PP. Com a indecisão do PSB, que ainda debate internamente se apoiará Ciro ou o nome escolhido pelo PT, o pedetista aponta para a esquerda, mas tenta, a todo custo, o apoio de legendas inclinadas a pautas mais liberais.

A dois dias do início das convenções, o cenário muda frequentemente. O partido comunista ainda luta, oficialmente, pela pré-candidatura de Manuela D’ávila, mas, com a convenção marcada para apenas 1º de agosto, ainda há chances de uma união entre o PCdoB e PDT. Outra possibilidade é que, com a porta fechada para Jair Bolsonaro (PSL), o PR também possa intensificar as conversas com Ciro.

Cotado, o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, já marcou a reunião do diretório nacional para o próximo dia 30. O encontro irá oficializar se o partido apoiará Ciro, o candidato escolhido pelo PT, ou se seguirá neutro. A definição será em Brasília, às 14h, no Hotel Nacional, conhecido recinto de conchavos e negociações políticas da capital federal.

Do outro lado, o Centrão também ainda não decidiu com quem formará aliança. A dúvida continua sendo entre Ciro ou Geraldo Alckmin (PSDB). A próxima reunião dos dirigentes dos partidos será nesta noite, possivelmente na casa do presidente do PP, Ciro Nogueira, em Brasília. O objetivo é chegar a um acordo até o fim da semana, mas alguns nomes ligados às negociações se mostram pouco otimistas em relação à possibilidade de baterem o martelo ainda hoje.

“Talvez avance alguma coisa, mas é muito difícil chegar a um consenso entre todos os partidos, porque ainda há muitas divergências”, disse o presidente do Solidariedade, Paulinho da Força (SP). Nos últimos dias, houve uma aproximação com o candidato do PDT, por se tratar de um candidato “aberto a discutir o programa de governo”. A última reunião do centrão com Ciro, no sábado, “foi bastante produtiva”, mas ainda não o suficiente para que o grupo conseguisse chegar a um consenso. “Ele falou sobre as propostas e se comprometeu a rediscutir alguns pontos de conflito no programa”, disse Paulinho.

Fontes ligadas ao PP afirmaram que, atualmente, o partido também está mais voltado para Ciro do que para Alckmin. A reunião de amanhã não deve ser a única da semana. “É mais complexo que a questão econômica. Os partidos têm preocupações com as definições estaduais também”, disse uma pessoa ligada à legenda. “Cada um quer ir para um lado. São muito diferentes”, acrescentou.

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PDT tem de flexibilizar pontos

18/07/2018

 

 

Os assuntos que desagradam o centrão em relação às propostas do presidenciável pedetista Ciro Gomes se voltam, em grande parte, à economia. Temas como Previdência, mudanças na reforma trabalhista e gestão da dívida pública são espinhosos e têm gerado discussões calorosas entre os participantes das conversas. As reuniões técnicas, como a que houve ontem entre coordenadores econômicos da campanha do pedetista e do Solidariedade, PP e DEM, têm como objetivo flexibilizar alguns pontos, para conseguir diminuir as resistências fundamentadas nessas questões.

Em relação à reforma da Previdência, por exemplo, Ciro tem se mostrado alinhado a algumas propostas do centrão, como a mudança do sistema de repartição para o de capitalização. Mas o posicionamento do pedetista a respeito da reforma trabalhista não agrada a nenhum dos partidos do bloco. Em algumas ocasiões, Ciro afirmou que revogará a medida aprovada no governo Michel Temer, que teve o DEM como um dos principais defensores.

O presidente nacional do Solidariedade, Paulinho da Força, afirmou que Ciro se mostra disposto a negociar esse ponto. Já o deputado Ricardo Barros (PP), acredita que os caminhos dos progressistas e do PDT “não se alinham”. “Entendo as razões pragmáticas que levam a essa aproximação, mas não coaduno com essa solução”, disse. Ele continua se colocando como uma opção, caso o bloco não chegue a um acordo.