O globo, n. 30965, 18/05/2018. País, p. 3
FH assina manifesto por ‘polo progressista’ de centro, que diz excluir centrão
Dimitrius Dantas
18/05/2018
Para ex-presidente, novo bloco não pode se misturar a grupo ‘com interesses fisiológicos’
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) assinou ontem a minuta de um manifesto por um “polo democrático e progressista”. Embora esteja empenhado na união de partidos de centro em torno dessa proposta, FH faz questão de se distanciar do chamado centrão, bloco parlamentar que une siglas que inicialmente deram sustentação ao ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (MDB-RJ), preso por corrupção na Lava-Jato.
— Não (podemos) confundir o centro com o centrão. Isso não corresponde ao meu desejo, que é reforçar o pensamento democrático, prestar atenção às desigualdades, combate à corrupção e visão de futuro — disse FH.
Segundo o ex-presidente, o centrão é um grupo de políticos com interesses fisiológicos, e uma possível aliança com esse bloco diminuiria a margem para a discussão com a população durante a campanha eleitoral.
Além de FH, também assinaram a minuta o chanceler Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), o deputado Marcus Pestana (PSDB-MG), secretário-geral do PSDB, e o senador Cristovam Buarque (PPS-DF). A proposta é criar uma iniciativa que alcance vários partidos, de liberais a sociais democratas e socialistas democráticos.
DEFESA DA REFORMA DA PREVIDÊNCIA
O texto, publicado ontem pelo jornal “O Estado de S. Paulo” e confirmado pelo GLOBO, defende, entre outros pontos, as reformas política, tributária e da Previdência, além da descentralização da tomada de decisões, fortalecendo os poderes regionais (estados e municípios).
A minuta cita a eleição presidencial de 2018 como “talvez a mais complexa e indecifrável de todo o período de redemocratização”. De acordo com o texto, o Brasil não precisa de “mais intolerância, radicalismo e instabilidade". O grupo mostra uma preocupação com a possibilidade de que se abra espaço para candidaturas que representam os extremos do espectro ideológico, seja à direita ou à esquerda. Não são citados nomes de nenhum candidato no documento.
Para os idealizadores do manifesto, o centro não faz referência ao sentido ideológico do termo, já que poderia unir a centro-direita e a centro-esquerda. O centro surgiria como metáfora para o objetivo de garantir um equilíbrio no sistema político em relação aos extremos radicais.
Novas assinaturas devem ser tomadas até o lançamento do manifesto, previsto para o próximo dia 29.
Embora o MDB participe das discussões, Fernando Henrique afirmou que é improvável que o partido apoie o candidato tucano para a Presidência da República, o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin. Segundo ele, o partido do presidente Michel Temer tem um candidato próprio e, em alguns estados, PSDB e MDB são adversários.
— Estou fora da coordenação de campanha. Digo o que eu penso, o que acho que tem que fazer. Quem vai decidir isso é o Alckmin. Mas o MDB está se organizando para ter candidato. É difícil, porque em muitos estados o MDB e o PSDB estão em choque — disse.
APOIO A ALCKMIN
Apesar da movimentação nos bastidores, o candidato do PSDB ainda não engrenou nas pesquisas eleitorais. Na última sondagem do Datafolha, em abril, Alckmin oscilou entre 6% e 8% das intenções de voto, e sua taxa de rejeição foi de 29%. Fernando Henrique, no entanto, não se mostrou preocupado com o desempenho do tucano até agora e acredita que ele tem condições de atrair mais partidos para apoiá-lo.
— O Alckmin tem tido bastante prudência nessa matéria (alianças), não tem dado passos além da perna. Ele é um político experiente, sabe que tem que jogar para o longo prazo, e tem um momento, que é o atual, de ver que aliança vai se propor, e depois o momento decisivo, que é o da campanha — analisou.