O Estado de São Paulo, n.45525 , 09/06/2018. Política, p.A10

Em texto, Lula prega união da esquerda

Ricardo Galhardo

Jonathas Cotrim 

 

 

Manifesto foi lido pela presidente cassada Dilma Rousseff em novo evento de ‘lançamento’ da pré-candidatura do petista, em Contagem (MG)

 

Em manifesto escrito na sala onde está preso desde abril em Curitiba pela condenação na Lava Jato, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicou a necessidade da união das forças de esquerda, mesmo que no segundo turno da eleição deste ano.

“Temos de unir as forças democráticas de todo o Brasil, respeitando a autonomia dos partidos e dos movimentos, mas sempre tendo como referência um projeto de País mais solidário e mais justo, que resgate a dignidade e a esperança da nossa gente sofrida. Tenho certeza de que estaremos juntos ao final da caminhada”, diz trecho do manifesto divulgado ontem e lido pela presidente cassada Dilma Rousseff em mais um ato de lançamento da pré-candidatura de Lula à Presidência, em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte.

No texto, Lula diz assumir mais uma vez a “missão” – embora tenha sido condenado em órgão colegiado e esteja enquadrado na Lei da Ficha Limpa – e dá as linhas do que deve ser a campanha presidencial do PT: a comparação dos dois anos do governo Michel Temer com seus dois mandatos, omitindo os erros cometidos pelo governo Dilma. “Foi um tempo de paz e prosperidade como nunca antes tivemos na história. Acredito, do fundo do coração, que o Brasil pode voltar a ser feliz.”

Apesar da condenação e prisão na Lava Jato do ex-presidente, o PT mantém Lula como pré-candidato oficial do partido. A Executiva Nacional da sigla, porém, decidiu nesta semana prorrogar a definição das candidaturas estaduais e nacional do partido. O objetivo é ganhar tempo para negociar um acordo nacional com possíveis aliados, especialmente o PSB, e evitar que estes partidos reforcem a pré-candidatura de Ciro Gomes (PDT). A prorrogação do calendário dá tempo para a construção de uma alternativa ao ex-presidente.

“Se tivermos uma aliança nacional com o PSB, as alianças locais vão ser estabelecidas em razão da aliança nacional”, afirmou ontem a presidente nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR).

 

Registro. Antes do evento em Contagem, Gleisi sugeriu que o partido vai manter a candidatura de Lula mesmo que não consiga o registro da Justiça Eleitoral. “Não existe nada que impeça de fazer o registro da candidatura de Lula. A discussão sobre impedimento começa após o registro”, disse. “Podemos definir que ele dispute mesmo sem o registro. Isso tem acontecido sistematicamente com diversas candidaturas.”

Gleisi disse ainda que o PT pediu à Justiça para que Lula possa gravar entrevistas e vídeos para a campanha.

Embora reforce que vai levar a candidatura às “últimas consequências”, Lula admite no seu manifesto que desta vez será diferente. “Sou candidato porque acredito, sinceramente, que a Justiça Eleitoral manterá a coerência com seus precedentes de jurisprudência, desde 2002, não se curvando à chantagem da exceção só para ferir meu direito e o direito dos eleitores de votar em quem melhor os representa.”