Correio braziliense, n. 20144, 17/07/2018. Política, p. 4

 

Prédio do trabalho é invadido

Renato Souza

17/07/2018

 

 

ESPLANADA » Investigações da Polícia Federal indicam que, pelo menos, um homem entrou no ministério na noite de domingo. Funcionários encontraram sala arrombada, documentos no chão e objetos espalhados no andar do data center da pasta

No centro de diversas polêmicas e alvo de investigações da Polícia Federal nos últimos meses, o Ministério do Trabalho foi invadido durante o fim de semana e teve gavetas e armários revirados, na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. De acordo com informações preliminares, colhidas pela PF, pelo menos um homem teria entrado no edifício às 23h40 de domingo.  A pasta é alvo de investigações da Operação Registro Espúrio, da PF.

De acordo com a assessoria do ministério, o problema foi percebido durante a manhã de ontem, quando os funcionários chegaram para trabalhar. Assim que viram documentos jogados no chão e objetos espalhados, servidores acionaram a segurança do prédio, que informou à Polícia Federal sobre a invasão. A sala que foi arrombada fica no sobreloja da sede do órgão.

Informações obtidas pelo Correio indicam que no mesmo andar está localizado o data center do prédio. O computador, com alta capacidade de armazenamento e processamento de dados, possui documentos e informações sensíveis e importantes, como registro de processos realizados pelas equipes. Oficialmente, o governo confirmou que no andar funcionam serviços relacionados ao seguro-desemprego e a carteiras de trabalho.

Em comunicado enviado à imprensa, o Ministério do Trabalho informou que “tão logo foi informado do ocorrido, o ministro Caio Vieira de Mello falou com a diretora executiva da Polícia Federal, Silvana Helena, pedindo apuração rápida e rigorosa do caso”. A pasta também destacou que as imagens captadas pelas câmeras de segurança do edifício foram repassadas aos policiais, a fim de colaborar com as investigações.

Equipes da Polícia Federal recolheram impressões digitais e vistoriaram uma janela que teria sido usada para que o suspeito entrasse no local. A perícia também foi realizada dentro das salas que estavam reviradas e nos teclados dos computadores, para encontrar qualquer indício de autoria.

Registro Espúrio

Em maio deste ano, a PF apontou a existência de um grande esquema no Ministério do Trabalho para cobrar propina pela emissão de registros sindicais. Na primeira fase da operação Registro Espúrio, foram alvo de buscas os deputados Paulinho da Força (SD-SP), Jovair Arantes (PTB-GO) e Wilson Filho (PTB-PB). A prisão deles chegou a ser solicitada ao Supremo Tribunal Federal (STF), mas foi negada pelo ministro Edson Fachin. Os três negam qualquer irregularidade.

A deputada Cristiane Brasil (PTB), indicada para o comando da pasta, foi principal alvo das ações deflagradas pela PF e pelo Ministério Público Federal na segunda fase da operação. A terceira etapa levou à queda do então ministro, Helton Yomura. Ele foi afastado do cargo por determinação do STF, ao ser apontado como integrante do esquema de corrupção que envolveu políticos e servidores públicos na cobrança de propina que se instalou na pasta.

Nas últimas semanas, a PF aprofundou as informações sobre os envolvimentos e chegou também à Câmara dos Deputados, onde o gabinete de Nelson Marquezelli (PTB-SP) foi alvo de buscas. As investigações continuam, com objetivo de identificar quem foi beneficiado com a cobrança de repasses ilegais para a emissão dos registros a entidades representativas de trabalhadores.

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Yomura seria "fantoche"

17/07/2018

 

 

Relatório da Polícia Federal na Operação Registro Espúrio afirma que o ex-ministro do Trabalho Helton Yomura “não passa de um fantoche dos caciques do PTB”. O documento ainda fala em “efetiva participação” da deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ) no núcleo político de suposta organização criminosa investigada pela concessão fraudulenta de registros sindicais no Ministério do Trabalho e atribui a ela o papel de “líder”.

A deputada chegou a ser cotada para o cargo de ministra do Trabalho no início do ano. No entanto, decisões da Justiça Federal e uma liminar da presidente do Supremo Tribunal Federal, Cármen Lúcia, suspenderam a posse. “Mesmo não ocupando formalmente qualquer cargo na estrutura do Ministério do Trabalho, (Cristiane) foi alçada, na prática, a um posto de comando da pasta, fortalecendo a estrutura de atuação do ‘subnúcleo PTB’”, diz a PF. “Para permitir a ingerência de Cristiane Brasil, a organização criminosa colocou no cargo máximo do Ministério do Trabalho alguém devidamente compromissado com os interesses do grupo, papel que coube a Helton Yomura, que não passa de um fantoche dos caciques do PTB”.

A assessoria de Cristiane Brasil disse que “indicação política não significa ingerência em órgão ou ministério nenhum”.  A defesa de Yomura afirmou que o ex-ministro não cometeu “nenhum ato ilícito”.