Correio braziliense, n. 20143, 16/07/2018. Política, p. 3

 

Estratégia política do PT passa por brecha jurídica

Rodolfo Costa

16/07/2018

 

 

ELEIÇÕES 2018 » Para manter Lula na disputa, petistas apostam na fragilidade da lei eleitoral e no poder de convencimento dos caciques do partido para atrair o PSB

O PT prepara estratégias políticas e jurídicas para chegar ao segundo turno das eleições. O caminho, no entanto, não vai ser fácil. No campo eleitoral, a dificuldade é convencer o PSB a embarcar na campanha petista e evitar o fortalecimento de Ciro Gomes, do PDT, na esquerda. Pelo lado da Justiça, os petistas estudam brechas na legislação que possam render recurso que convença a ministra Laurita Vaz, presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), a conceder um habeas corpus ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A aposta da legenda em Lula continua firme e forte. Embora caciques do partido admitam que há alternativas — como Jaques Wagner, ex-governador da Bahia; e Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo —, eles não dão o braço a torcer, animados, inclusive, por resultados de pesquisas eleitorais. A última sondagem da XP, divulgada na sexta-feira, após tentativa do PT de soltar o ex-presidente com um recurso apresentado ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), mostrou um aumento do desempenho do ex-presidente nas intenções de voto de 28% para 30%.

A decisão do desembargador Rogério Favreto de conceder habeas corpus a Lula foi revertida pelo presidente do TRF-4, Thompson Flores, mas gerou impacto positivo ao petista, avalia o deputado federal Wadih Damous (PT-RJ), vice-líder do partido na Câmara dos Deputados. “Todas as pesquisas mostram que ele sobe. O episódio de domingo acabou sendo um fator positivo, politicamente falando”, destaca. Com esses indicativos, o PT promete manter Lula como postulante na corrida eleitoral. “É óbvio que ele será nosso candidato. Que partido abriria mão da sua maior força eleitoral? Dia 15 de agosto, vamos registrar a candidatura no TSE (Tribunal Superior Eleitoral)”, garante Damous.

O partido e a defesa do ex-presidente estudam, agora, uma nova estratégia para liberar Lula, tendo como base as decisões de Laurita no STJ, que negou, na semana passada, mais de 260 habeas corpus a favor do ex-presidente. A maioria sustentada com base em um pretenso fato novo, de que Lula é pré-candidato e, por isso, deve ser solto. As centenas de indeferimentos mostram aos advogados que a tática adotada deve seguir por outro caminho. “Vamos tentar tudo que estiver ao nosso alcance, dentro da lei, para tentar liberar o presidente Lula. Mas ainda não temos nada definido”, admite Damous.

Alianças

No campo eleitoral, o PT espera alinhar o discurso com o PSB. Para isso, o diretório nacional, capitaneado pela presidente da legenda, senadora Gleisi Hoffmann (PR), estuda oferecer apoio a candidaturas estaduais pessebistas em Pernambuco, Amapá, Amazonas, Tocantins, Rondônia e Paraíba. A oferta petista balançou a cúpula da legenda, mas ainda não há nada fechado, uma vez que as negociações com o PDT estão em estágio avançado.

A ideia de coligar com uma legenda cujo presidenciável se encontra preso, somada às dificuldades em conseguir alguma vitória na Justiça que o libere, é uma situação que constrange líderes dos partidos com quem o PT mantém conversas, sobretudo diante da impossibilidade de Lula assumir a Presidência da República caso seja eleito, devido à Lei da Ficha Limpa. Por esse motivo, o PR, que conversou com os petistas, não cogita uma coligação. O partido ofereceu, em troca, o posto de vice em uma chapa com o empresário Josué Alencar, filho do ex-vice de Lula, José Alencar. A proposta foi bem avaliada por Wagner, mas rechaçada pela cúpula do PT.

Diante das dificuldades em chegar ao segundo turno, há quem defenda, no PT, o registro da candidatura de Haddad ou Wagner. No último dia antes da definição dos nomes nas urnas, em 17 de setembro, o escolhido seria substituído por Lula. O especialista em direito eleitoral Marcellus Ferreira Pinto, do escritório Nelson Wilians e Advogados Associados, acredita que “o PT vai tirar proveito das brechas eleitorais”, que, segundo ele, não são poucas.

Para o analista político Cristiano Noronha, sócio da Arko Advice, o TSE deve se manifestar antes de 17 de setembro sobre o registro de Lula. “Já vão ter transcorrido quase 20 dias de propaganda de rádio e televisão. Acho que a Justiça Eleitoral não vai dar tanto tempo para responder”, pondera.

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Lula completa 100 dias na prisão

16/07/2018

 

 

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva completou ontem 100 dias preso na sede da Polícia Federal, em Curitiba, condenado em segunda instância a 12 anos e um mês por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do tríplex do Guarujá (SP). Apesar de todas as tentativas da defesa de liberar o petista terem sido negadas, a presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), senadora Gleisi Hofmann garantiu que não desistirá de buscar a liberdade de Lula.

A declaração da presidente da agremiação foi feita em Havana, Cuba, onde ela, a ex-presidente Dilma Rousseff e outros militantes participam do Foro de São Paulo, movimento de partidos da esquerda de diversos países. “Viemos aqui para denunciar, e estamos recebendo a solidariedade para Lula. Não vamos desistir. Lula voltará a ser presidente do Brasil”, afirmou a senadora, em vídeo divulgado nas redes sociais.

No centésimo dia da prisão, os administradores do perfil oficial de Lula no Twitter reafirmaram que em 15 de agosto será registrada sua candidatura à Presidência da República. Na capital cubana, Gleisi voltou a criticar o Judiciário, lembrando a suspensão do habeas corpus, na semana passada, concedido pelo plantonista do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF), desembargador Rogério Favreto. “A tentativa de soltá-lo com uma argumentação justa e correta ficou frustrada. Parte expressiva do Judiciário mostrou que tem lado nessa disputa e politizou o tema. Não vamos desistir de Lula, pois não vamos desistir do povo brasileiro”, reforçou.

Apesar da manifestação da presidente do PT, o número de manifestantes que participam da vigília “Lula Livre” em Curitiba passou de quase 2 mil por dia para 200 pessoas por semana. Hoje, está prevista uma audiência de conciliação do Ministério Público, envolvendo o PT e os movimentos sociais, como CUT e MST, além de grupos de direita, como o Movimento Brasil Livre (MBL), e a Polícia Federal, para tratar do futuro da vigília pró-Lula.

O clima entre moradores da região e os manifestantes agora é mais ameno. A maior parte das pessoas na porta da PF não dorme mais em barracas próximas, mas em alojamentos emprestados ou casas de amigos e parentes. Mesmo assim, moradores ainda reclamam da mudança de rotina. Todos os dias, os militantes gritam “bom-dia”, “boa-tarde” e “boa-noite” ao ex-presidente. “A gente não tem paz, não consegue sair de casa. Dizem que o ex-presidente é um preso político, mas, na verdade, eu é que me sinto refém do PT”, criticou a consultora de seguros Vivian Comin. Já a costureira Rosa de Fátima Trento Espíndola apoia a causa e até auxilia os manifestantes. “Acho que os moradores acabaram entendendo que cada um tem seu livre -arbítrio. Acredito que, em relação aos que não apoiam, a situação está mais tranquila”, disse.

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Mulheres serão fiel da balança em outubro

16/07/2018

 

 

O eleitorado feminino é hoje o responsável pela maioria dos votos brancos e nulos declarados em pesquisas de intenção de voto para presidente da República. Seis em cada 10 eleitores dispostos a não votar nos pré-candidatos apresentados são mulheres na faixa etária dos 35 aos 44 anos, desiludidas com os recorrentes escândalos de corrupção envolvendo a classe política e preocupadas com o rumo da economia.

A mesma preponderância feminina é observada no grupo dos eleitores indecisos. O detalhamento da última pesquisa CNI/Ibope para presidente mostra que, enquanto elas representam 52% do eleitorado nacional, são 58% na fatia dos que votam branco ou nulo e 55%, entre os que não se decidiram.

A indignação feminina, especialmente com a retomada do emprego e o risco da inflação, explica o fenômeno. Especialistas apontam, ainda, mais dois motivos: o sentimento de que os atuais políticos não as representam — em 2014, elas preencheram apenas 10% das vagas na Câmara dos Deputados — e a indefinição em torno de quem será ou não candidato em outubro. A vendedora Denise de Melo, 35 anos, faz parte da estatística. Vai anular o voto porque não sente empatia pelos pré-candidatos. “A gente pesquisa, pesquisa, mas não encontra ninguém que nos represente com dignidade”.

O percentual de eleitores dispostos a anular o voto é o que mais chama a atenção. No cenário sem a participação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso pela Lava-Jato, o índice total de eleitores que declaram voto em branco ou nulo chega a 31%. Em 2014, de acordo com o Ibope, a taxa era de 16%. Entre os que se dizem indecisos, o percentual se mantém em 8%. Apesar de se considerar também uma desiludida com a política, Iris Cristina dos Santos Liu, 37, quer “fugir” do voto branco ou nulo. Dona de salão de beleza em São Paulo, ninguém ainda conquistou sua confiança. “Quero escolher um nome. Mas o voto em branco não está descartado”.

Para a cientista política Vera Chaia, da PUC-SP, o não voto não significa necessariamente desinteresse. “A mulher critica, reivindica e participa mais hoje. Há muito mais cobrança, movimentos contra assédio, a favor da equiparação de salários e isso faz com que tenham mais poder de decisão. O número de votos brancos e nulos é uma crítica ao atual momento da política e aos candidatos”, afirmou. O resultado das pesquisas qualitativas confirma essa percepção. As mulheres deixam para decidir quase na véspera da eleição, justamente porque são mais críticas, avaliou a CEO do Ibope Inteligência, Márcia Cavallari Nunes.