O globo, n. 30963, 16/05/2018. País, p. 6

 

PF vê elo entre dinheiro do tráfico e políticos

Antonio Werneck

16/05/2018

 

 

Operação prende doleiro que fez delação na Lava-Jato e voltou ao crime

Ao deflagrar ontem a Operação Efeito Dominó, a Polícia Federal acredita ter chegado perto de estabelecer a ligação financeira entre o tráfico de drogas e políticos brasileiros. A ação é um desmembramento da Operação Spectrum, que prendeu no ano passado Luiz Carlos da Rocha, o Cabeça Branca, um dos maiores traficantes da América do Sul, com negócios em dezenas de países. Foram expedidos ontem oito mandados de prisão e 18 de busca e apreensão, atingindo vários doleiros e outros membros da quadrilha de Cabeça Branca, no Rio de Janeiro, Distrito Federal, Pernambuco, Ceará, Paraíba, Mato Grosso do Sul e São Paulo.

Uma das prisões que chamam a atenção é a do doleiro Carlos Alexandre de Souza, o “Ceará”. Ela já havia sido preso na Lava-Jato e tinha feito um acordo de delação premiada com o Ministério Público, homologado pelo Supremo Tribunal Federal. Ceará trabalhava para o doleiro Alberto Youssef e, na delação, contou ter feito operações financeiras em benefício de políticos como Fernando Collor de Mello, Aécio Neves e Renan Calheiros. Ele foi preso preventivamente na primeira fase da Lava-Jato, em março de 2014, e depois ganhou o direito de responder ao processo em liberdade. Em 2016, passou a atuar como doleiro do tráfico de drogas, segundo a PF, que informará a Justiça sobre a quebra do acordo de delação premiada por parte de Ceará.

Nas investigações que embasaram a operação de ontem e a prisão de Ceará, a Polícia Federal obteve indícios de uma possível conexão entre políticos brasileiros e o traficante Cabeça Branca. Segundo as investigações, dinheiro obtido pelo traficante, repassado ao doleiro, estaria sendo usado no pagamento de propina a políticos.

— O que temos até agora são indícios. Sabemos que os políticos estavam usando dinheiro do tráfico. O que estamos verificando é se eles (políticos) sabiam (que o dinheiro tinha origem no tráfico)— afirmou o delegado da PF Elvis Secco, que coordenou a prisão de Cabeça Branca e que colaborou com a operação deflagrada ontem.

O delegado Roberto Biasoli, que conduziu a operação de ontem, reforçou a suspeita:

— A gente tem indícios de um link direto do dinheiro do narcotráfico indo parar na mão de políticos corruptos (...) Eles não estão interessados em saber a origem, eles querem receber. E esse cara que lidava com o dinheiro de narcotraficantes também entregava propina a corruptos — explicou, ao “G1”.

Para o delegado Igor Romário de Paula, coordenador da Lava-Jato na Polícia Federal, é possível que os políticos tenham recebido o dinheiro sem saber de sua origem:

— Ceará atende a diversos clientes. Na Lava-Jato, era um tipo de cliente, mas não necessariamente há vinculação.

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Gilmar Mendes solta lobista que atuava para o PMDB

Carolina Brígido, Aguirre Talento e André de Souza

16/05/2018

 

 

Defesa pediu habeas corpus direto ao STF, sem passar pelas instâncias anteriores

-BRASÍLIA- O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), concedeu liminar ontem para libertar o lobista do PMDB Milton Lyra. Ele terá duas restrições: não poderá ter contato com os demais investigados por qualquer meio e está proibido de deixar o país, devendo entregar o passaporte em 48 horas. Também ontem, Lyra foi denunciado pela força-tarefa da LavaJato no Rio, acusado de envolvimento em esquema de desvio de dinheiro do fundo de pensão dos Correios.

O lobista foi preso preventivamente em abril, na Operação Rizoma, por ordem do juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal do Rio, por suspeitas de participar deste esquema. Caberá a Bretas fiscalizar o cumprimento das medidas alternativas determinadas por Gilmar.

Além deste caso, Lyra já foi alvo de outras investigações da PF. Colaboradores da Justiça como o ex-diretor da Odebrecht Claudio Melo e o ex-diretor da Hypermarcas Nelson Mello o apontaram como intermediário de propina para senadores do PMDB. Lyra argumenta que já atuou na defesa de interesses privados no Congresso, mas sempre de forma lícita.

Para libertar Lyra, a defesa apresentou o habeas corpus diretamente ao STF, sem passar pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2) e pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), instâncias intermediárias. Nesses casos, o mais comum é que o pedido seja negado sem sequer analisar seus argumentos. Mas o relator no STF pode entender ser possível conceder o habeas corpus, como fez o ministro Gilmar.

O advogado de Lyra, Pierpaolo Bottini, considerou a decisão “acertada”, porque a prisão preventiva foi decretada “sem os requisitos autorizadores”.