Título: Demóstenes pede arquivamento
Autor: Mascarenhas, Gabriel
Fonte: Correio Braziliense, 26/04/2012, Politica, p. 7

Demóstenes pede arquivamento

Senador goiano apresenta defesa ao Conselho de Ética. Argumento é de que as provas contra ele foram colhidas ilegalmente

A defesa do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) apresentou ontem um documento de 61 páginas para tentar arquivar o processo que corre contra o parlamentar no Conselho de Ética por quebra de decoro. Basicamente, a estratégia no campo político é a mesma adotada no Supremo Tribunal Federal (STF): tentar mostrar que as provas utilizadas foram colhidas ilegalmente.

No caso do Conselho de Ética, que se reunirá hoje de manhã, a defesa do senador argumenta que o colegiado não pode julgar Demóstenes por quebra de decoro com base em reportagens jornalísticas. Ele lembrou que os parlamentares não tiveram acesso às informações apuradas nas operações Vegas e Monte Carlo, da Polícia Federal, que apontam a suposta ligação de Carlinhos Cachoeira com agentes públicos, como Demóstenes, e empresários.

Sustenta ainda que, além de não terem valor legal, as matérias veiculadas na mídia são resultado de vazamentos de dados sigilosos, o que configuraria crime. Outro ponto é que, segundo a defesa, fatos ocorridos antes de o senador ser eleito para o atual posto não podem ser usados agora pelo Conselho de Casa.

Em relação ao rádio Nextel doado por Cachoeira ao senador, segundo as investigações, para que eles se comunicassem com um equipamento supostamente impossível de grampear, o parlamentar afirma que se tratou de um presente. Argumenta que não sabia a motivação do contraventor ao entregar-lhe o equipamento. "Jamais lhe foi dito que o aparelho teria a finalidade presumida", ou seja, escapar dos grampos da PF. A defesa diz ainda que o Conselho não tem como levar em consideração as suspeitas de que o parlamentar passaria informações privilegiadas ao bicheiro. Segundo a defesa, o diálogo divulgado não responde a questionamentos básicos, como qual seria a informação e por que seriam sigilosas.

Os advogados também rechaçam as acusações de que Demóstenes recebia dinheiro de Cachoeira. Argumentam que Ministério Público Federal e Polícia Federal não reconhecem o senador como integrante da quadrilha de exploração de jogos ilegais. O documento entregue ao Conselho de Ética coloca dúvidas ainda sobre a autenticidade de um diálogo que, supostamente, aponta o senador pedindo R$ 3 mil a Cachoeira. Segundo a defesa, há indícios de manipulação: "Enquanto o cabeçalho da transcrição explicita que o diálogo tem duração de 00:02:14, o áudio traz apenas 00:01:38 de conversa".