O globo, n. 30978, 31/05/2018. País, p. 5

 

Paulo Preto é preso, e Gilmar mandar soltar de novo

Carolina Brígido e Gustavo Schmitt

31/05/2018

 

 

Filha do ex-diretor da Dersa também foi detida sob suspeita de influenciar testemunhas, mas acabou liberada

BRASÍLIA E SÃO PAULO- Cerca de 13 horas após o cumprimento de novo mandado de prisão contra o engenheiro e ex-diretor da Dersa Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto, Gilmar Mendes concedeu a ele mais um habeas corpus. O ministro do Supremo já havia libertado Paulo, apontado como operador do PSDB, em 11 de maio e repetiu a decisão. O investigado foi solto na noite passada.

O Ministério Público Federal (MPF) havia pedido a prisão preventiva do engenheiro anteontem em razão de ameaças a testemunhas e a outros réus do processo no qual ele é acusado de incluir falsos beneficiários na lista de desapropriações de uma obra da Dersa. O investigado nega todas acusações.

Relatos de ameaças a testemunhas apontadas como laranjas nos cadastros supostamente fraudados e a uma exfuncionária da estatal têm sido constantes nesse processo. No último dia 18, procuradores do MPF pediram que ficasse registrado na ata da audiência que uma das testemunhas havia ligado chorando com medo de sofrer retaliações.

Em reação à decisão de Gilmar, a procuradora regional da República Adriana Scordamaglia, que participa das investigações, afirmou que recebeu a notícia com “muita estranheza”. Ela disse que a medida contribui para a impunidade e põe testemunhas em risco. Afirmou ainda que as novos depoimentos da acusação estão previstos.

 

TUCANOS EM RISCO

Segundo Gilmar, porém, “não há fatos concretos a justificar o novo decreto cautelar”.

Filha do ex-diretor da Dersa, Tatiana Arana Souza Cremonini também chegou a ser detida ontem, mas acabou beneficiada pelo habeas corpus de Gilmar Mendes. Ela é acusada de ter contratado advogados para três testemunhas de acusação e por ter solicitado autorização de viagem para as Ilhas Maldivas, um paraíso fiscal do Oceano Índico. Uma dessas testemunhas mudou depoimento prestado em 8 de setembro de 2015 para uma versão favorável a Paulo e sua filha em nova oitiva.

A prisão da filha sempre foi o maior temor do ex-diretor da Dersa. Os investigadores acreditam que uma eventual colaboração de Paulo Preto tem potencial para atingir caciques tucanos.