Correio braziliense, n. 20149, 22/07/2018. Política, p. 3

 

Boulos na corrida ao Planalto

Hamilton Ferrari

22/07/2018

 

 

ELEIÇÕES 2018 » Durante discurso na convenção do PSol, em São Paulo, o psicanalista defendeu a descriminalização do aborto, a reforma agrária e a taxação dos mais ricos, além de prometer revogar os atos do governo Michel Temer e criticar a prisão de Lula

Em convenção na tarde de ontem, o PSol formalizou Guilherme Boulos como candidato à Presidência da República. Durante o discurso, ele defendeu a descriminalização do aborto, a desmilitarização da polícia, a reforma agrária e a taxação dos mais ricos. Ele afirmou que a primeira ação de seu governo será revogar os atos implementados durante a gestão de Michel Temer que, segundo ele, dão “continuidade ao golpe”.

O anúncio do partido ocorreu no Hotel Excelsior, na Avenida Ipiranga, em São Paulo. O PSoL também lançou Sônia Guajajara como candidata à vice-presidência, a primeira indígena a disputar o cargo. Além de parlamentares e filiados ao partido, a cerimônia também reuniu representantes do PCB, que se aliou à chapa, e militantes. “O que a gente tem visto andando pelo país é que nossa atuação, essa aliança, num momento de tanta descrença, está sendo capaz de despertar esperança para as pessoas e reencantar as pessoas que não veem mais alternativas nessa forma velha de fazer a política”, defendeu Boulos.

Segundo o candidato, será um desafio enfrentar o “golpe” implementado pelo governo atual e tirar o país da crise financeira que “a quadrilha” de Temer deixou no país. “É um golpe de uma agenda de reformas, de congelamento de investimentos públicos, de entrega de petróleo e de nossas riquezas para as empresas estrangeiras”, disse. “O nosso primeiro compromisso é revogar os atos deste governo do Michel Temer”, completou.

Os partidos de esquerda têm lançado nomes próprios para as eleições. Além do PSol, o PDT anunciou Ciro Gomes como candidato. O PT mantém o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva — que está preso pelo caso do triplex no Guarujá — como um dos postulantes ao cargo. A presidenciável do PCdoB, Manuela D’Ávila, mantém a disposição em lançar a candidatura, mesmo com apelos de petistas para a união das esquerdas.

Durante entrevista a jornalistas, Boulos criticou a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que, segundo ele, é uma prisão política e uma manobra para retirá-lo das eleições. “Nós defendemos o direito do Lula ser candidato, porque entendemos que foi vítima de condenação injusta e sofreu uma prisão política. O PT tem o seu candidato e é o Lula”, afirmou.

Boulos também fez críticas aos candidatos de direita e deu alfinetadas em Ciro Gomes, que buscava aliança com o centrão — grupo de partidos que englobam o PP, o DEM, o PR, o Solidariedade e o PRB —, mas que se juntaram ao tucano Geraldo Alckmin (PSDB) na corrida presidencial. “Centrão é a turma do Eduardo Cunha (ex-presidente da Câmara, que foi preso pela Operação Lava-Jato), a turma do toma lá da cá, do balcão de negócios”, alegou.

O candidato também aproveitou para provocar o presidenciável do PSL, Jair Bolsonaro, que também foi duramente criticado durante a convenção. “É valentão, mas na hora do ‘vamo’ ver, se esconde debaixo da mesa e amarela”, disse o Boulos, questionando a “coragem” do adversário para debates políticos.

O candidato do PSol propõe combater os privilégios e taxar as grandes fortunas. Também defendeu a legalização do aborto que, segundo ele, é responsável por morte de milhares de mulheres pobres e negras. “É um tema de saúde pública”, enfatizou. “Vamos defender em alto e bom som aquilo que a gente acredita. Não vamos fugir de nenhum tema e nenhum tabu”, defendeu o candidato do PSol. “Vamos implementar uma política urbana e habitacional para ocupar prédios abandonados. Queiram eles ou não, nós vamos fazer reforma agrária e enfrentar o agronegócio no Brasil”, completou.

Perfil

Boulos nasceu em 1982 em São Paulo e se formou em filosofia pela Universidade de São Paulo (USP), em 2000. O candidato também é psicanalista, professor e escritor. Atualmente é coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) e do Povo Sem Medo. A formalização da candidatura ocorreu sob o grito “Eu não largo não o presidente que faz ocupação”.

A vice da chapa, Sônia Guajajara, declarou que a aliança traz significados históricos e é essencial para momentos difíceis de ataques à democracia.