O globo, n. 30977, 30/05/2018. Economia, p. 23

 

A conta bilionária da crise

30/05/2018

 

 

Setores acumulam perdas com greve. Infiltrados impedem volta ao trabalho de caminhoneiros

No nono dia de paralisação dos caminhoneiros, indústria, comércio e serviços já contabilizam perdas bilionárias. Algumas cidades começaram a receber mais combustível e alimentos, mas a situação ainda está longe da normalização. Segundo a Polícia Rodoviária Federal, os pontos de concentração de motoristas de caminhão aumentaram de 594 na segunda-feira para 616 na noite de ontem. O governo chegou a informar que não havia mais bloqueios, mas nas o cenário é muito diferente. Lideranças sindicais denunciaram que caminhoneiros que pretendem retornar ao trabalho estão sofrendo ameaças, agressões e temem mais retaliação. Desde o começo da semana, o governo tem afirmado que o movimento foi afetado por infiltrados com motivações políticas.

O presidente Michel Temer afirmou ontem que o governo já “espremeu” todos os recursos para atender às demandas dos caminhoneiros e que não há mais margem para negociação com a categoria.

Apesar dos esforços do setor produtivo, a economia vai demorar a voltar à normalidade, o que terá impacto negativo sobre o PIB do segundo trimestre. O abastecimento de combustíveis levaria até uma semana para voltar ao ritmo habitual. Já a produção de frangos levaria dois meses, e a de suínos, até seis meses.

No Rio, 15% dos postos tinham recebido garodovias solina ontem. Em São Paulo, o quadro era de maior dificuldade. Até a tarde de ontem, apenas 36 postos tinham combustível. As principais distribuidoras vão atuar em conjunto para agilizar o abastecimento. Nos supermercados, os alimentos começam a voltar às gôndolas, mas com preço muito acima do habitual. A Ceasa recebeu 178 caminhões, mas legumes e verduras ainda saíam pelo dobro ou até o triplo do preço.