Correio braziliense, n. 20141, 14/07/2018. Política, p. 2

 

Planalto adverte partidos pró-Ciro

Rodolfo Costa

14/07/2018

 

 

Ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência, Carlos Marun defende a saída da Esplanada das legendas que negociam apoio ao candidato pedetista. O recado é direcionado ao DEM e ao PP, que controlam orçamento de R$153 bilhões

O governo federal promete endurecer o jogo contra partidos do centrão que embarcarem na candidatura de Ciro Gomes, do PDT. Atualmente, Solidariedade, DEM e PP acenam com a possibilidade de construir uma coligação com o pedetista. Os diálogos e conversas desagradam ao MDB. O ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência da República, Carlos Marun, defende que as legendas deixem o governo e entreguem cargos, caso a união se concretize.

A ameaça de Marun, ministro responsável pela articulação política do governo com o Congresso, é um recado claro, sobretudo, para PP e DEM, as legendas que mais cresceram com o fim da janela partidária, encerrada em abril. Os democratas controlam o Ministério da Educação, enquanto os progressistas têm o comando do Ministério da Saúde, das Cidades e da Agricultura. Juntas, as pastas detêm um orçamento de R$ 153,5 bilhões. O PP também controla a Caixa Econômica Federal.

O corte de cargos é uma postura que o governo estuda. Mas a aposta ainda é o convencimento. Líderes do MDB, incluindo Marun, têm conversado com caciques do DEM e do PP. O articulador político do governo, por sinal, admite ter conversado com o presidente dos progressistas, senador Ciro Nogueira (PI). “Eu não mando no (senador) Ciro Nogueira, mas já expressei a ele minha preocupação com essa coligação (com Ciro Gomes)”, afirmou.

A ação do PDT é vista por Marun como oportunista. O ministro ressalta que DEM e PP são legendas que tiveram ampla participação na aprovação de reformas e demais pautas encaminhadas pelo governo e aprovadas no Congresso que Ciro promete derrubar caso seja presidente da República, como a reforma trabalhista. “Ao mesmo tempo que enxovalha o governo e que diz que tudo que o governo fez foi errado, a atitude do senhor Ciro Gomes em procurar partidos que estão no governo demonstra oportunismo”, disse.

O articulador político do governo se diz na “torcida” pela “hipótese” de que o PDT esteja aliciando DEM e PP, e não as legendas que estejam procurando um embarque na candidatura de Ciro. Havendo a aliança, ele é enfático na opinião de que os partidos deixem o governo. “Eu penso que devem até pedir para sair do governo. Agora, obviamente, no caso de não pedirem, isso vai ser uma decisão do presidente (Temer), onde, no máximo, vou expressar minha opinião”, sustentou.

Protagonismo

A situação de embarque das legendas do centrão à campanha pedetista ainda não está fechada. O PP está com conversas adiantadas com o PDT, e o DEM ainda ensaia os diálogos. A aposta é que Ciro possa angariar capital político de outros partidos da centro-esquerda, como PSB, e postular uma vaga no segundo turno contra o pré-candidato do PSL, provavelmente Jair Bolsonaro.

O que está em jogo, sobretudo, são as condições de agregar apoio às candidaturas estaduais. No caso do DEM, esse é um fator importante que sinalizará onde a legenda embarcará, afirma o deputado Efraim Filho (PB), vice-líder do partido na Câmara. A avaliação dele é de que a aliança nacional seja balizada e norteada pelos oito estados onde os democratas têm candidaturas para governadores. “Meu voto será de acordo com essa avaliação, que ainda não está definida. Será partidária e de acordo com aquele que puder agregar mais”, disse, para continuar: “Acredito que o Democratas tenha autonomia e independência para construir a aliança que entender e que é a mais apropriada para as eleições. E o governo toma as decisões que sejam de governo. O Democratas não irá se balizar por interesses de cargos ou loteamento de espaços para construir a agenda do futuro.” Além de Ciro, a legenda dialoga, atualmente, com Geraldo Alckmin, do PSDB, Álvaro Dias, do Podemos, e Bolsonaro.

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Flávio Rocha sai da corrida

Alessandra Azevedo

14/07/2018

 

 

Com o prazo curto para que os partidos definam quem, de fato, participará das eleições, começa oficialmente a rodada de desistências. O PRB anunciou ontem a retirada da pré-candidatura do empresário Flávio Rocha, dono da rede Riachuelo, da disputa presidencial, em nome da convergência do chamado “centrão” — grupo composto por partidos como PRB, Solidariedade, DEM e PP. O motivo, exposto em nota divulgada pelo partido, é a necessidade de união das “forças de centro” em um “projeto”.

Rocha afirmou que ele e o PRB entendem “o Brasil passa por um momento turbulento” e que, portanto, acredita ser necessário “que todos que sonham com um Brasil livre e democrático se unam num único projeto de convergência”, afirmou, em vídeo publicado em uma rede social. O discurso foi reforçado por uma nota divulgada ontem pelo partido, na qual o PRB afirma que, “ao deixar a pré-candidatura, o PRB e Flávio Rocha abrem espaço para o diálogo firme em busca de construir a proposta mais equilibrada para o Brasil”.

O foco, de acordo com o documento assinado pelo presidente do partido, Marcos Pereira, e pela bancada do PRB no Congresso, será “liderar esse processo e fazer valer a vontade da maioria dos brasileiros, que é o equilíbrio econômico, a retomada do crescimento e o reencontro com o emprego”.

Há três meses oficialmente na corrida eleitoral, Flávio Rocha desistiu depois de ter conversado com os presidenciáveis de vários partidos na última semana — entre eles, Geraldo Alckmin (PSDB) e Álvaro Dias (Podemos). Embora não tenha declarado apoio a ninguém, oficialmente, a expectativa dos especialistas é de que ele apoie Alckmin. Em discussões entre os partidos, o nome de Rocha já foi cogitado para assumir o papel de vice em chapa com o tucano.

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Alckmin recebe apoio do PSD

Bernardo Bittar

14/07/2018

 

 

O apoio do PSD aos tucanos às vésperas das convenções transformou as preocupações de Geraldo Alckmin (PSDB) em esperança. Criticado pelo mau desempenho em determinados estados e pressionado por parte do partido a desistir da candidatura, a nova aliança do ex-governador de São Paulo aumenta as chances de outros acordos nacionais. Os tucanos estão de olho no PTB, PPS e PV. A união daria ao pré-candidato cerca de 20% do tempo total de TV.

Embora os partidos declarem que a decisão oficial só sai depois de 5 de agosto, quando termina o prazo das convenções partidárias, o apoio aos tucanos é dado como fechado. “Dia 28 teremos uma reunião da executiva nacional para bater o martelo. Uma aliança com o PSDB é ideia forte, ainda mais pela proximidade com Alckmin em São Paulo. É o caminho natural”, explica um dirigente do PV.

Representantes do PPS também veem a aliança como certa. “Tem um indicativo do congresso nacional para apoiar Geraldo. Não é nada estranho pensar nisso. Como não temos candidatos, estamos abertos às negociações. Assim como o PSDB. Sem alianças, ninguém ganha. Não adianta ficar pensando que os puros, imaculados, vão chegar até o fim”, analisa o ex-ministro Roberto Freire, presidente nacional da legenda.

Avesso às entrevistas depois do escândalo financeiro envolvendo o PTB e o Ministério do Trabalho, o presidente da legenda Roberto Jefferson não foi encontrado pela reportagem. Pessoas próximas ao deputado cassado, no entanto, dizem que o bloco composto pelo PTB e PROS tem, sim, interesse em andar ao lado de Alckmin. “Ao se unir aos nanicos, ele só tem a ganhar. Juntos, daremos quase 20% do tempo de tevê para o PSDB. Aumenta as chances, claro, e é bom pra todo mundo”, conta um cacique petebista.

Nesta semana, o PSD fechou questão com Alckmin e deu fôlego às negociações. A aliança com o partido aumentará o tempo de rádio e tevê dos tucanos em 1,4 minutos. A definição de tempo é calculada a partir do número de parlamentares eleitos. Em 2014, 35 deputados pedetistas iniciaram seus mandatos. Tratava-se da quinta maior bancada da Câmara.

Unificação

Definidas as alianças nacionais, o grande problema dos candidatos à Presidência da República é a unificação dos palanques estaduais. Em São Paulo, por exemplo, o PV deve apoiar Márcio França (PSB), jogado para escanteio por Alckmin ao concordar com o palanque único no estado. “Embora a gente tenha uma relação muito boa com o Geraldo Alckmin, nosso compromisso será a reeleição do Márcio França”, diz o representante do PV. O próximo do PSDB é conseguir o apoio do chamado “centrão” — bloco composto por DEM, PP, PRB e Solidariedade.