O globo, n. 30975, 28/05/2018. País, p. 4

 

De carona na greve

Marco Grillo

28/05/2018

 

 

Bolsonaro muda de ideia e, após criticar bloqueio de estradas por caminhoneiros, agora diz que é contra multas impostas aos grevistas pelo governo federal

O deputado federal Jair Bolsonaro, pré-candidato do PSL à Presidência, mudou de posicionamento e defendeu, ontem, os caminhoneiros que estão em greve há quase uma semana pedindo a redução do preço do diesel. Na quinta-feira, o presidenciável havia afirmado que era contrário ao bloqueio de estradas, tática adotada pelo movimento grevista em todo o país.

Em mensagem publicada no Twitter, Bolsonaro questionou a aplicação de punições aos caminhoneiros. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) multou motoristas por pararem os caminhões no acostamento, e a Polícia Federal, segundo o ministro Carlos Marun (Secretaria de Governo) pediu a prisão de empresários do setor de transportes que estariam estimulando a greve.

— Qualquer multa, confisco ou prisão imposta aos caminhoneiros por (Michel) Temer/(Raul) Jungmann será revogada por um futuro presidente honesto/patriota — escreveu Bolsonaro no Twitter.

 

MUDANÇA DE DISCURSO

Na noite de ontem, a mensagem já tinha sido curtida quase 22 mil vezes e republicada por mais de cinco mil usuários da rede social. Uma imagem que trazia a mesma mensagem, o nome e a foto do presidenciável também foi distribuída pelo deputado ontem via WhatsApp.

Na semana passada, nos primeiros dias de greve, a postura havia sido diferente. Ao ser perguntado sobre o que achava do movimento, Bolsonaro criticou as interrupções no tráfego nas estradas.

— Os caminhoneiros sofrem com preço alto dos combustíveis, roubo de cargas, a indústria das multas, as condições das estradas... Eu concordo com quem para o caminhão em casa. Agora, fechar rodovia é extrapolar. Com isso, não dá para negociar — disse o pré-candidato do PSL, que, na ocasião se absteve de opinar sobre qual solução daria para a crise envolvendo o alto preço dos combustíveis. — Quem tem de dar a solução é o governo, não sou eu.

Em outro campo da política, Bolsonaro também mudou o discurso recentemente. O deputado amenizou as resistências em negociar alianças com nomes envolvidos em casos de corrupção, como mostrou O GLOBO na semana passada. Ele reconheceu que não se opõe a conversar com o ex-deputado Valdemar Costa Neto, condenado no mensalão, para atrair o PR para a sua chapa.

— Se precisar falar com ele (Costa Neto), eu falo. Quero o (senador) Magno (Malta) como vice. Não vou condenar o PR inteiro? — relativizou.

O deputado questionou ainda se apenas ele sofreria essa cobrança, tentando dividir o desgaste com alianças polêmicas feitas pelos adversários.

— E os partidos que querem negociar com o Temer? E os que podem caminhar com o PT? Só eu que vou ser cobrado por isso?

Após a publicação da reportagem, ele foi ao Twitter e acusou a imprensa de “mentir” ao dizer que ele “acenava para corruptos e condenados”.