Título: Crise dá o tom na França
Autor: Vicentin, Carolina
Fonte: Correio Braziliense, 26/04/2012, Mundo, p. 22

Crise dá o tom na França

François Hollande promete equilibrar os gastos e o crescimento do país, caso seja eleito em 6 de maio, e éelogiado pelo Banco Central Europeu. Sarkozy nega acordo com extrema direita

A dez dias da escolha do novo presidente francês, o socialista François Hollande fez um discurso voltado para a Europa, abordando o que mais preocupa o continente: a gestão da crise financeira. Em uma coletiva de imprensa com ares presidenciais, Hollande, favorito nas pesquisas de intenção de voto, chamou para si a responsabilidade pelo equilíbrio entre o controle dos gastos públicos e o crescimento da região. A fala chegou a ser mencionada pelo presidente do Banco Central Europeu, que manifestou um inesperado apoio à proposta do candidato do Partido Socialista (PS). Do outro lado da disputa, o presidente Nicolas Sarkozy segue à caça dos eleitores da ultradireita, embora tenha negado qualquer associação com políticos da Frente Nacional, caso vença o segundo turno, em 6 de maio.

Hollande disse que, se ganhar a eleição, vai acionar líderes europeus para a renegociação do tratado orçamentário criado para administrar a crise. "A Europa não está condenada à recessão", afirmou. O candidato do PS sugeriu a inclusão de quatro pontos no acordo de disciplina fiscal, assinado no mês passado. A ideia é que as novas medidas retomem os investimentos e a criação de empregos. "Nessa frente, as coisas já estavam caminhando. Antes da eleição (do último) domingo, alguns líderes já mencionavam o que eu estou propondo", lembrou Hollande. "Hoje, muitos chefes de Estado e de governo estão esperando as eleições francesas para abrir essa discussão", assinalou.

Pouco depois do discurso de Hollande, Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu (BCE), mencionou a proposta do socialista em uma reunião da entidade. "Precisamos de um pacto do crescimento", defendeu ele. Ulrike Guérot, representante da Alemanha no Conselho Europeu de Relações Internacionais, disse ao Correio que, dependendo da forma como Hollande orquestrar os argumentos, ele pode incluir demandas de seu governo do tratado europeu. "Eu acho que ele pode atuar por um reequilíbrio saudável entre o crescimento e as políticas de austeridade necessárias nesse momento", opinou Ulrike. "É preciso fazer algo nessa área, de um jeito ou de outro", ressaltou.

François Hollande garantiu que terá "discussões firmes e amistosas" com a chanceler alemã, Angela Merkel. A premiê, que chegou a manifestar apoio a Nicolas Sarkozy, deixou claro que trabalhará com o novo presidente francês, seja ele quem for.

Herança cobiçada

Com o discurso de ontem, o candidato do PS tentou ganhar os eleitores "revoltados", que escolheram a ultradireitista Marine Le Pen no primeiro turno. A líder da Frente Nacional ficou em terceiro lugar, com 18% dos votos. "Com o apoio de vocês, renegociarei o tratado europeu e nos protegerei da competitividade desleal", prometeu Hollande aos eleitores que a escolheram "por raiva". O capital político de Marine tem sido o alvo das declarações de Sarkozy. Após atacar os estrangeiros e os muçulmanos, na terça-feira, o presidente, da direita clássica, negou a aproximação com o partido de Le Pen. "Não haverá acordo com a Frente Nacional, mas eu devo levar em consideração o voto dos eleitores que optaram por Marine", disse Sarkozy. "Os quase 18% de eleitores que votaram (em Le Pen) não pertencem a ela e é meu dever falar para eles", acrescentou.

"A Europa não está condenada à recessão"

François Hollande, candidato à Presidência da França pelo Partido Socialista