O Estado de São Paulo, n. 45523 , 07/06/2018. Política, p. A6

OPERAÇÃO PRENDE SINDICALISTA POR ENGANO

 

 

 

 

 

Breno Pires

 

 

A Polícia Federal prendeu por engano o sindicalista Ruy Queiroz de Amorim na Operação Registro Espúrio, no dia 30 de maio, em Sorocaba (SP). O equívoco foi identificado graças à ajuda de outro preso, e Amorim foi liberado no mesmo dia.

O sindicalista foi preso por causa de uma troca de mensagens do servidor Renato Araújo Júnior, da Secretaria de Relações do Trabalho do Ministério do Trabalho, com um interlocutor identificado no celular dele como “Amorim UGT”. Segundo o delegado, a referência seria a Ruy Amorim. Ele foi apontado como responsável por “forte intromissão” nos rumos de registros sindicais no Ministério do Trabalho visando aos interesses da União Geral dos Trabalhadores (UGT).

Mas, após a prisão e a negativas do sindicalista, a PF apresentou a foto de Ruy Amorim a Renato Araújo Júnior. O servidor disse não ter trocado mensagens com ele, mas sim com um outro Amorim, assessor pessoal do presidente da UGT, Ricardo Patah.

O relatório de análise da interceptação telemática Nº 004/2017, ao tratar da conversa de Renato com “Amorim UGT”, afirmou que “constatase que o interlocutor do investigado é, provavelmente, Ruy Queiroz de Amorim, 1.º Secretário Adjunto de Finanças da União Geral dos Trabalhadores”. A hipótese de Ruy não ser o Amorim exato não foi mencionada pelo delegado Leo Garrido na representação da Polícia Federal que baseou a Operação Registro Espúrio.

Após ser informado por um agente da PF que Renato não reconheceu Ruy Amorim, o delegado titular do inquérito instaurado no Supremo Tribunal Federal pediu que o ministro-relator, Edson Fachin, revogasse a prisão. “É que há fortes indícios de que houve um equívoco por parte desta equipe de investigação, haja vista que, a partir das declarações do preso e informações coletadas junto a Renato Araújo Júnior, resta patente que o ‘Amorim’ que integra o núcleo sindical da Orcrim (organização criminosa) não é Ruy Queiroz de Amorim, 1.º secretário adjunto de Finanças da UGT, mas sim José Luiz Amorim, que seria assessor direto de Ricardo Patah (presidente da UGT), mas que não ocuparia cargo na Central Sindical em questão”, disse o delegado ao STF.

Fachin, observando a “urgência da medida pleiteada”, autorizou a revogação da prisão no mesmo dia. Ao todo, foram emitidos 23 mandados de prisão na Registro Espúrio, que buscou desmantelar um esquema formado por políticos, lobistas, dirigentes de sindicatos e funcionários públicos que atuavam na negociação para liberar registro sindical pelo ministério.

Questionamentos. Procurada, a PF não se manifestou até a conclusão da edição. A reportagem questionou a PF, por e-mail e por telefone, se alguma apuração adicional eliminou a dúvida admitida no próprio relatório quanto à identificação de “Amorim UGT” e se havia algum elemento à parte que pudesse justificar a prisão. Também não houve resposta se foi adotada alguma providência diante do equívoco.

Questionado sobre o caso, o gabinete do ministro Fachin afirmou que há sigilo sobre o caso.

A reportagem não conseguiu contato com Renato Araújo. José Luiz Amorim e Ricardo Patah não atenderam as ligações. A UGT disse que contratou um advogado para analisar todo o processo e que, quando tiver acesso ao material colhido nas investigações, poderá se manifestar.

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FHC pediu a Odebrecht doações para campanhas

Luiz Vassalo

Ricardo Brandt

Fausto Macedo

 

 

Um laudo da Polícia Federal anexado a uma ação penal em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é réu na Lava Jato cita e-mails enviados pelo expresidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), em 2010, ao empresário Marcelo Odebrecht. Nas mensagens, Fernando Henrique pede doações para dois então candidatos tucanos ao Senado, Antero Paes de Barros (MT) e Flexa Ribeiro (PA).

FHC, que não é investigado na Lava Jato, afirmou que, se houve solicitações, foram “legais”. “Posso ter pedido, mas era legal. Não sei se deram e não foi a troco de decisões minhas, pois eu estava fora dos governos”, disse ele, que, à época, já era presidente de honra do PSDB e não ocupava cargo público. Os outros citados não foram localizados pela reportagem.

Na troca de e-mails entre o tucano e o empreiteiro, não há citação a valores. Em um deles, FHC fala em “SOS” para campanha e envia dados bancários. “Recordando nossa conversa no jantar de outro dia, enviolhe um SOS. O candidato ao Senado pelo PSDB, Antero Paes de Barros, ainda está em segundo lugar, porém a pressão do governismo, ancorada em muitos recursos, está fortíssima”, afirma FHC a Marcelo, em mensagem no dia 13 de setembro de 2010. “Seria possível ajudá-lo?”

No mesmo dia, Marcelo responde: “Presidente, estou fora até amanhã, mas até 4.ª dou uma olhada e retorno. Fique tranquilo (no que depender de nós). Depois aproveito, e lhe dou o feedback dos demais apoios e reforços que fizemos na linha do que conversamos.”

Em 21 de setembro, FHC insiste pela doação. “Desculpem a insistência e nem mesmo sei se já atenderam o que lhes pedi, mas, há dois possíveis senadores que precisam atenção.”

Em outra troca de e-mails, com o assunto “iFHC”, do então executivo da Odebrecht André Amaro para Marcelo, são citados valores. “Em alinhamento com EO (Emílio Odebrecht) informei a Daniel que nossa contribuição será de 1,8 mi em 24 meses, conforme acertado no último encontro dos empresários no Instituto”, diz Amaro.

O laudo foi produzido pela PF com autorização do juiz Sérgio Moro, que atendeu a pedido da defesa de Lula para determinar uma perícia no computador de Marcelo