Correio braziliense, n. 20134, 07/07/2018. Política, p. 4

 

Brasília-DF

Denise Rothenburg

07/07/2018

 

 

Vice-presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli está em férias e sequer foi avisado de que poderia ser chamado a assumir o comando da Suprema Corte no recesso. Ele retorna ao Brasil apenas em 21 de julho, faltando dois dias para a segunda viagem do presidente Michel Temer deste mês. Sobram especulações de que, nesse caso, a presidente do STF, Cármen Lúcia, poderia acumular a Presidência de dois Poderes.

Conforme a coluna publicou ontem, advogados do ex-presidente esperam contar com a interinidade de Toffoli no STF para tentar soltar Lula no período de convenções partidárias. Acreditam que, pelas mãos de Toffoli, por onde passou a liberdade de José Dirceu, pode passar também a do ex-presidente. Ocorre que, se Cármen Lúcia acumular tudo, as esperanças dos advogados se fecham. Ministros do STF consideram que ela não pode acumular o comando de dois Poderes. Nos próximos dias, vão chover análises nos dois sentidos. A polêmica está quente nos bastidores.

Batalha pós-eleitoral I

Quem pensa que o período eleitoral será o mais tenso deste ano não perde por esperar o que vem em seguida. Vislumbra-se no horizonte o encerramento do ano com um embate entre o Judiciário e o Legislativo, onde segue o projeto de limitar as decisões monocráticas dos ministros do STF, como bem mostrou a reportagem do Correio esta semana. A Suprema Corte não vai ver o Legislativo reduzir seus poderes calada.

Batalha pós-eleitoral II

Num seminário em Londres, o polêmico ministro Gilmar Mendes, do STF, lembrou que o ativismo judicial é “institucionalizado”: “É a própria Constituição que cobra que o Judiciário faça essa intervenção e dê resposta em caso de omissão inconstitucional”, disse. Gilmar, porém, defendeu um esforço pela “desjudicialização” do país: “O Brasil se tornou um país judiciário-dependente. É preciso ver uma outra solução para resolução de demandas”.

Ainda tem muito jogo...

... Eleitoral pela frente. A última pesquisa eleitoral da XP Investimentos divulgada essa semana mostra que 49% dos eleitores só escolhem seus candidatos depois que a campanha começa. Desse total, 18% depois do último debate, 13% no dia eleição, 10% quando a campanha de tevê começa e 8% alguns dias antes da votação. Quarenta e um por cento escolhem antes de a campanha começar. E 10% não souberam responder.

Com dinheiro, não há fronteiras

Ao descobrir que as contas bancárias de Miguel Skin foram zeradas, o Ministério Público do Rio de Janeiro teve a convicção de que o empresário, considerado o maior corruptor da área de saúde do Rio de Janeiro, se preparava para fugir do país. Ele foi preso na última quarta-feira, na Operação Ressonância, desdobramento da Lava-Jato.

O maior torcedor/ Quem mais torce pelo encerramento do semestre é o deputado emedebista Lúcio Vieira Lima (foto). A aposta dos emedebistas é a de que ele não será cassado antes da eleição, porque não haverá movimento suficiente na Câmara para isso. E, se for reeleito na Bahia, não serão os colegas que vão cassá-lo. Ou seja, o caso dele está hoje mais nas mãos dos eleitores baianos do que dos parlamentares.

Congresso trabalhando.../...Dois dias! Com o Brasil fora da Copa, a Câmara terá sessão normal na próxima terça-feira, para concluir a votação da lei que regulamenta a venda das distribuidoras de energia. Depois, é votar a Lei de Diretrizes na quarta-feira e correr para o recesso.

Às bases!/ Os deputados estão desesperados para deixar Brasília, porque, a partir de 20 de julho, já pode ter convenções partidárias para escolha de candidatos, e é preciso fechar as alianças estaduais.

Palocci tinha medo/ O carcereiro, o japonês da federal e os presos da Lava Jato, do jornalista Luís Humberto Carrijo, chega hoje às livrarias com histórias inéditas a respeito do dia a dia da carceragem da PF em Curitiba. Conta, por exemplo, que o ex-ministro Antonio Palocci pediu ao japonês Newton Ishi que lhe indicasse seguranças para a família. A noite de autógrafos em brasília está marcada para 8 de agosto, mês da bruxa solta na política.

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Desafio contra a rejeição

Bernardo Bittar e Gabriel Ponte

07/07/2018

 

 

Candidatos ao Palácio do Planalto tentam calibrar discurso para isolar desconfianças. Especialistas admitem que as estratégias variam, mas o principal conselho é ter propostas consolidadas e viáveis ao Longo da campanha eleitoral

A eliminação do Brasil na Copa do Mundo aproxima o país das eleições. Especialistas acreditam que, sem futebol, a sociedade deverá voltar seus olhos para as definições políticas de outubro. Enquanto a campanha não começa oficialmente, pré-candidatos à Presidência da República aproveitam as sabatinas da imprensa e os eventos de categorias para se posicionar. Os eleitores, por sua vez, usam a internet para falar sobre suas preferências ou desafetos.

Relatórios da Diretoria de Análise e Políticas Públicas (DAPP) da Fundação Getulio Vargas (FGV) demonstram queda no interesse pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas últimas semanas. Lula perdeu engajamento para Jair Bolsonaro (PSL), o mais lembrado pelos internautas entre 27 de junho e 3 de julho. O levantamento observa semanalmente duas redes sociais: o Twitter, para ver o que se fala sobre os candidatos, e o Facebook, para avaliar o quanto as pessoas se engajam com os posts nas páginas dos presidenciáveis.

“Essas matérias saem como termômetro da percepção das pessoas sobre as eleições, pois o monitoramento de atores políticos traz questões importantes que o eleitor deverá levar em consideração”, explica o pesquisador Amaro Grassi, um dos responsáveis pelo relatório de FVG. No documento, diálogos sobre os pré-candidatos somaram 718.840 engajamentos com pautas diferentes sobre direita e esquerda.

Comentários na internet têm força especial na eleição curta e sem dinheiro que vem por aí. Por isso, os presidenciáveis têm que buscar maneiras de evitar a má fama on-line. Embora Lula normalmente o mais citado, tenha perdido pontos para o deputado Bolsonaro. Os dois têm altos índices de rejeição, confirmado com pequenas diferenças numéricas pelo último DataFolha, publicado em junho.

As últimas pesquisas revelaram que o eleitor prefere Lula — que estaria impedido de concorrer pela Lei de Ficha Limpa —, seguido por Bolsonaro e Marina Silva (Rede). Levantamento da Confederação Nacional do Transporte (CNT) mostra que Bolsonaro e Marina estão empatados na liderança de uma eleição sem Lula. O cenário muda com a participação do petista, largamente à frente dos demais. A mesma pesquisa aponta que eles são os mais rejeitados pela população.

Para Cristiano Noronha, analista político da consultoria Arko Advice, uma forma de diminuir os comentários negativos é afrouxar o discurso. “Algumas colocações podem atingir os presidenciáveis, ainda mais agora, que não falamos mais de futebol depois que o Brasil foi eliminado de Copa. O que eles precisam fazer é suavizar as palavras. Adequar suas ideias ao leitor que quiserem conquistar. O Bolsonaro, por exemplo, precisa crescer no eleitorado feminino. O Lula, nos servidores públicos”, completa.

Professor de políticas públicas da Universidade Federal de Goiás (UFG), Carlos Bezerra explica que a rejeição é uma forma de conseguir visibilidade. “Ao conseguir despertar a curiosidade das pessoas, alguns candidatos acabam se dando bem. Mas isso só acontece se conseguirem mostrar que, por trás das polêmicas, podem oferecer um discurso conciso”.