Título: Graça impõe perfil técnico à Petrobras
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Fonte: Correio Braziliense, 28/04/2012, Economia, p. 12

Dois meses depois de assumir a maior empresa do país, titular troca três diretores e contém influência política

Numa demonstração de força e apoio de Dilma Rousseff, a presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, conseguiu trocar ontem três importantes diretores da estatal, em favor de um perfil menos político e mais técnico da sua equipe. Após reunião em São Paulo, o Conselho de Administração da estatal definiu a troca de Paulo Roberto Costa (Abastecimento) e Renato de Souza Duque (Engenharia, Tecnologia e Materiais) por nomes desvinculados de partidos aliados do governo. Foram escolhidos, respectivamente, para as vagas José Carlos Consenza e Richard Olm. Ambos são gerentes executivos de longa carreira na empresa.

O diretor Jorge Zelada (Internacional), cuja demissão também era esperada, se desligará em um mês. Ele e Duque teriam “pedido para sair”, enquanto Costa, ligado ao PP, foi demitido por decisão explícita de Foster. Costa e Duque, esse indicado pelo PT, exerciam os cargos desde 2003, primeiro ano do governo Lula. Zelada, por sua vez, estava desde 2008 na função, por indicação do PMDB. Analistas avaliam que o diretor da área internacional já estava enfraquecido com o esvaziamento de suas funções. Costa era criticado por problemas na execução de gastos, inclusive os envolvendo contratos com a Delta Engenharia. Duque não teria atingido metas para a indústria naval.

“A presidente da Petrobras acertou com Dilma que queria reduzir ao máximo as interferências políticas na estatal. Por isso, não se poupou nem o PT, nem o PMDB, nem o PP. Todos perderam”, disse um assessor do Planalto. Ele ressaltou que os peemedebistas tentaram, sem sucesso, indicar um novo diretor para a área internacional, mas Foster recusou. Por isso, Zelada ficará mais um mês no cargo, para que a chefe da estatal chegue a um nome da sua confiança. “Muita gente não percebeu, mas a presidente da Petrobras já havia tentado emplacar Richard Olms no comando da Transpetro, no lugar de Sérgio Machado, homem-forte do PMDB. Como não conseguiu, deu-lhe um cargo na direção da petroleira”, completou.

Em nota, a Petrobras agradeceu aos diretores demitidos pelos “relevantes serviços prestados” e pela “liderança, competência técnica e elevado grau de profissionalismo e dedicação”. Antes da demissão dos executivos, a companhia promoveu trocas de gerentes-gerais em pelo menos nove de suas 13 refinarias. As mudanças ocorreram cerca de duas semanas antes da saída de Paulo Roberto Costa. Independentemente dessa dança de cadeiras, os investidores reagiram bem aos rumores de trocas. A maior sinalização veio do desempenho das ações na Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa). Na quinta-feira, os papéis preferenciais (PN) fecharam em alta de 0,52% e as ordinárias (ON), de 0,95%. Ontem, voltaram ao patamar anterior. As PNs caíram 1,22%, cotadas a R$ 20,98, e as ONs recuaram 0,54%, para R$ 22,16.

Apesar de a diretoria da Petrobras ser geralmente formada por funcionários de casa, o estatuto da empresa favorece a barganha política ao atribuir à Presidência da República a prerrogativa de escolher os auxiliares mais próximos do chefe da diretoria executiva. O forte apoio dado por Dilma e a preferência dela e da própria Graça Foster pelo rigor técnico favoreceram o corte de vagas loteadas por legendas amigas. Além da influência da maior empresa do país, os cargos dos executivos são atraentes pelos salários. Um diretor da Petrobras ganha de R$ 1,12 milhão a R$ 1,6 milhão por ano.

Desde fevereiro, quando o petista José Sergio Gabrielli deixou a presidência da estatal, era grande a expectativa de que a sua sucessora reformularia a alta direção da empresa. Mas foi só ao longo desta semana que a substituição dos três diretores ganhou novo impulso. Os três diretores foram informados da troca na noite de quinta-feira. Outro cargo ameaçado por mudanças, o do diretor financeiro, continua com Almir Barbassa, ligado ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, presidente do conselho de administração da estatal. Ele é o último remanescente dos principais nomes da gestão Gabrielli (2005-2012). O ex-senador cearense Sérgio Machado está mantido na presidência da Transpetro, com o apoio de Renan Calheiros (AL), líder do PMDB no Senado.

Apoio aos amigos A presidente da Petrobras, Graça Foster, disse, no dia da sua posse, não gostar de mudar nomes. Apesar disso, fez importantes trocas em pouco mais de dois meses à frente da estatal. José Formigli foi para a diretoria de exploração, que era de Guilherme Estrella. Na diretoria de Gás e Energia, ocupada antes pela própria Graça, entrou José Alcides Santoro Martins. José Eduardo Dutra, ex-presidente do PT e da própria Petrobras, assumiu um cargo recém-criado, de diretor Corporativo e de Serviços.

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