O globo, n. 30974 , 27/05/2018. País, p. 5

 

Aposta de Alckmin, virada eleitoral é fato raro

Silvia Amorim

 

 

A reviravolta eleitoral pregada pelo pré-candidato à Presidência Geraldo Alckmin (PSDB) para chegar ao segundo turno é tão incomum em eleições presidenciais que, se concretizada pelo tucano, será um feito. Desde a redemocratização, apenas uma vez um presidenciável com a intenção de voto de Alckmin conseguiu uma vaga na reta final.

Foi em 1989, quando o expresidente Lula chegou ao segundo turno contra Fernando Collor. A quatro meses daquele pleito, o petista tinha 7% nas pesquisas, mesmo patamar de Alckmin hoje. Faltando um mês para a eleição, ele superou o segundo colocado, Leonel Brizola, e ficou com a vaga para enfrentar Collor.

Trata-se, entretanto, de um caso único. Nas demais corridas presidenciais, a previsibilidade dominou, e chegaram ao segundo turno aqueles candidatos que, entre abril e maio, já ocupavam o primeiro e segundo lugares nas pesquisas. Em todos esses casos, a disputa foi entre PT e PSDB.

DESCONFIANÇA NO PSDB

Estagnado nas pesquisas com 6% a 8% das intenções de voto, Alckmin (PSDB) tem pregado que a melhora do seu desempenho virá com o início da campanha em agosto. Para dar lastro ao seu prognóstico, ele destaca viradas de tucanos em eleições estaduais e municipais, como a do ex-governador de São Paulo Mario Covas em 1998 e a do ex-prefeito João Doria, em 2016. Mas nunca menciona que, em nível nacional, esse é um fato isolado.

Dentro e fora do PSDB, políticos desconfiam das chances de Alckmin nesta eleição. Em 2006, ele chegou ao segundo turno contra Lula.

Na tentativa de acalmar os ânimos, o tucano projetou pela primeira vez, na semana passada, uma meta de votos para estar no segundo turno. O tom foi tranquilizador.

— Se chegar a 17%, estamos lá — disse Alckmin, numa palestra em São Paulo.

Alckmin aposta num confronto direto com o pré-candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro, ainda na pré-campanha, para “chegar lá”. As primeiras investidas de polarização com o deputado foram registradas na semana passada. O tucano acusou Bolsonaro de ser igual ao PT. O pré-candidato do PSL reagiu, e um bateboca entre os dois se arrastou por dois dias nas redes sociais.

Bolsonaro ocupa o segundo lugar nas pesquisas com Lula, enquanto Alckmin fica em quinto. Sem Lula, o deputado é líder.

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Tucano se apega a tropeços de adversários

 

 

Aliados acreditam que eleitor vai desistir do voto de protesto.

SÃO PAULO- A confiança que Geraldo Alckmin (PSDB) tenta transmitir de que estará no segundo turno apoia-se em fatores imprevisíveis. Um deles é que a candidatura de Jair Bolsonaro (PSL) murchará ao longo da campanha por tropeços decorrentes da inexperiência dele em eleições majoritárias.

Outro foco de esperança tucana é a falta de estrutura partidária por trás do adversário. Alckmin também não acredita que a influência das redes sociais será decisiva na eleição e continua apostando no horário eleitoral. Bolsonaro pensa exatamente o oposto.

Para reduzir a desconfiança em Alckmin, tucanos recorrem, às vezes, a argumentos equivocados.

— Olhem nas últimas eleições quem as pesquisas indicavam como vencedor a cinco, seis meses da votação. Vocês vão ver que o acerto é mínimo — disse o coordenador do plano econômico de Alckmin, Persio Arida, ao sair em socorro do pré-candidato durante uma entrevista.

Na maioria das eleições presidenciais, no entanto, o líder nessa fase da disputa foi eleito. Apenas em 1994 e 2010 isso não aconteceu.

O PIOR DESEMPENHO TUCANO

Aliados de Alckmin minimizam o histórico de reviravoltas, alegando que 2018 será um pleito diferente de todos os outros. O próprio pré-candidato tem rejeitado comparações.

— O pessoal compara com a eleição do Collor em 1989. Não tem nada a ver. Aquela era uma eleição só para presidente. Agora vamos votar para seis cargos. Teremos os melhores palanques do Brasil e chegaremos lá — disse Alckmin.

Articuladores tucanos destacam o que consideram vantagens do pré-candidato este ano. Com poucos recursos à disposição das campanhas, eles defendem que os grandes partidos terão condições de oferecer melhor estrutura a seus candidatos do que siglas pequenas. A eleição mais curta, de apenas 45 dias, exigirá, dizem eles, apoiadores e rede partidária organizados para buscar votos em pouco tempo. Já em relação à ameaça de rejeição nas urnas de velhos políticos, alckmistas apegam-se ao imponderável.

— Na hora H, o eleitor vai deixar o voto de protesto de lado e fará um voto consciente — torce Alckmin.

O tucano é o presidenciável com pior desempenho em pesquisas da história do PSDB. Nenhum presidente foi eleito tendo mais do que 35% de rejeição no primeiro turno. Alckmin tem 29%, Bolsonaro 31% e Lula 36%, segundo pesquisa Datafolha.