Correio braziliense, n. 20137, 10/07/2018. Economia, p. 7

 

Meirelles vê apoio no MDB

Rosana Hessel

10/07/2018

 

 

CONJUNTURA » Ex-ministro da Fazenda contabiliza 443 votos de um total de 629 na convenção que escolherá o candidato do partido à Presidência, em 4 de agosto. Ele enfrenta oposição em Pernambuco, Ceará, Alagoas, Sergipe e Paraná

Ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles está cada vez mais confiante na confirmação de sua candidatura à Presidência da República. Fontes próximas ao pré-candidato pelo MDB contabilizam 443 votos favoráveis do total de 629 previstos na convenção do partido, marcada para dia 4 de agosto. Segundo as fontes, esse foi o resultado da contagem de apoios depois de uma reunião de Meirelles com o presidente do MDB, senador Romero Jucá (RR), e com os ministros Moreira Franco (Minas e Energia) e Eliseu Padilha (Casa Civil), na manhã de ontem, na sede da legenda em Brasília.

Se o placar da votação for confirmado, será a primeira vez que o partido terá um candidato próprio desde 1994, quando o ex-governador de São Paulo Orestes Quércia disputou o Palácio do Planalto pelo então PMDB.

Meirelles deixou o comando da equipe econômica do presidente Michel Temer no início de abril e, de lá para cá, não para de viajar pelo país em busca de apoio das lideranças estaduais da legenda. No fim de maio, ele ficou sendo o único concorrente da legenda porque Temer abriu mão da candidatura. O ex-ministro vem bancando a pré-campanha com recursos próprios, o que, na avaliação de analistas ouvidos pelo Correio, é ótimo para o partido, que terá mais recursos para as candidaturas regionais.

Desde abril, Meirelles já visitou 15 estados e, segundo assessores, vem sendo bem recebido por onde passa. Nos próximos dias, a missão do emedebista será ligar para cada um dos integrantes da convenção em busca de votos. Além disso, continuará com a agenda de viagens. O economista José Márcio Camargo, professor da PUC-Rio, lidera a equipe que elabora o programa econômico do candidato.

Nesta semana, Meirelles vai a duas capitais: Cuiabá e Natal. Na semana que vem, tem na lista Curitiba, Florianópolis, Rio de Janeiro, Manaus e Belo Horizonte. Ceará, Alagoas, Sergipe, Paraná e Pernambuco, estados onde ainda há resistências de lideranças locais à candidatura do ex-ministro, que pretende visitá-los para buscar apoio dos caciques locais.

As apostas de Meirelles estão nos palanques regionais. Dos 12 candidatos que devem disputar as eleições pela legenda nos estados, oito são considerados muito fortes e, como o MDB é um dos partidos com maior capilaridade nacional, isso garante a ele chegar aonde outros concorrentes de partidos menores não conseguem. O pré-candidato também vem conversando com lideranças de partidos da base governista para alianças. O Palácio do Planalto tenta negociar apoio com ministros de Estado de outros partidos.

No entanto, o maior desafio de Meirelles será melhorar sua colocação nas pesquisas, sem ser contaminado pela rejeição de Temer, que alcança quase 80%. Em um cenário sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o emedebista tem apenas 1% das intenções de voto, conforme dados da pesquisa do Ibope em parceira com a Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgada no último dia 28.

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Projeção de alta para inflação

Gabriel Ponte

10/07/2018

 

 

Analistas de mercado, ouvidos pelo Banco Central (BC) para o Boletim Focus, elevaram, pela oitava semana consecutiva a projeção de inflação para este ano. A projeção para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) passou de 4,03%, na semana passada, para 4,17%. Atualmente, a meta do BC para a inflação é de 4,5%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.

Para Marcel Balassiano, pesquisador da área de economia aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), dificilmente o IPCA anual ficará acima do centro da meta. “A inflação está bem comportada. Acredito que não passe de 4,5%. Hoje, a inflação é o menor dos problemas econômicos”, afirmou.

Para manter a carestia dentro da meta, a autoridade monetária faz uso da política monetária, por meio da taxa básica de juros (Selic). No entanto, os mesmos analistas que apostam em uma inflação mais alta projetam a manutenção da Selic em 6,5% no fim do ano. Para 2019, a estimativa é de que atinja 8%.

Já a expectativa para atividade econômica, de acordo com o Focus, foi reduzida de crescimento de 1,55% para 1,53% neste ano. Para o próximo, foi mantida a alta de 2,5% no Produto Interno Bruto (PIB). Na análise de Balassiano, o cenário de crescimento interno é negativo. “A situação do PIB é muito pessimista. No início do ano, cogitou-se um avanço de 3,9%. No entanto, as previsões foram diminuindo devido a fatores como a greve dos caminhoneiros. Isso mostra que a recuperação econômica está sendo mais lenta e gradual do que se esperava”, esclarece.

As instituições financeiras consultadas pelo Banco Central também mantiveram a expectativa de cotação da moeda norte-americana em R$ 3,70 no fim deste ano. No entanto, para 2019, calcula-se uma queda de 2,7% na taxa de câmbio, estimando o dólar em R$ 3,60.

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Desemprego: medo cresce

Bruno Santa Rita

10/07/2018

 

 

O medo de perder o emprego volta a assolar o brasileiro. Em 22 anos, essa é uma das poucas vezes em que o cidadão se mostra preocupado com a situação do trabalho no país. O índice do medo do desemprego, divulgado ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), subiu para 67,9 pontos em junho, numa escala de 0 a 100. O valor é 4,2 pontos mais alto do que o registrado em março e encontra-se 18,3 pontos acima da média histórica de 49,6 pontos.

O índice é um dos maiores da série histórica, iniciada em 1996. Apenas em maio de 1999 e em junho de 2016, o indicador alcançou pontuação semelhante. O medo do desemprego cresceu mais entre homens e pessoas com menor grau de instrução. No período de março a junho, o indicador subiu 5,6 pontos, contra 2,8 para as mulheres. Entre os brasileiros que têm até a quarta série do ensino fundamental, o índice subiu 10,4 pontos e alcançou 72,4 pontos.

O professor de economia da Universidade de Brasília (UnB) Newton Marques explicou que o resultado da pesquisa reflete uma expectativa negativa em torno da economia. “O investidor não quer mais investir e não vai contratar mais mão de obra”, sinalizou.

O porteiro Roberto Sousa Lima, 25 anos, está em busca de um novo trabalho. Ele participou de uma entrevista que tinha seis vagas para 100 pretendentes. “Nunca vi um ano tão ruim para se achar emprego”, reclamou.