O globo, n. 30955, 08/05/2018. País, p. 5

 

Contra regalias, presos da Lava-Jato serão monitorados

Chico Otavio

Daniel Biasetto

08/05/2018

 

 

Convênio com o MP permitirá controle por câmeras em tempo real de internos que foram para Bangu.

Um convênio firmado entre a Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) e a Coordenadoria de Segurança e Inteligência (CSI) do Ministério Público vai permitir que as autoridades controlem, em tempo real, a movimentação de presos da Lava-Jato que estão sendo transferidos esta semana de Benfica para Bangu 8. A medida busca evitar que alguns deles, a exemplo do ex-governador Sérgio Cabral, possam receber regalias dentro e fora de suas celas.

A Seap informou que ofereceu, por meio de ofício à Procuradoria-Geral de Justiça, o acesso às imagens das câmeras de segurança de cinco unidades prisionais monitoradas online pela Corregedoria da Seap: Penitenciária Laércio da Costa Pelegrino (Bangu 1), Presídio Gabriel Ferreira Castilho (Bangu 3B), Penitenciária Dr. Serrano Neves (Bangu 3A), Presídio Pedrolino Werling de Oliveira (Bangu 8) e Presídio José Frederico Marques (Benfica).

Bangu 8 será a primeira unidade a ser monitorada pelo Ministério Público. Esse novo formato de vigilância acontecerá em toda a unidade, inclusive nas áreas comuns com a Cadeia Pública Joaquim Ferreira de Souza, como pátio e o parlatório usado pelos presos de advogados.

A transferência dos internos de Benfica para Bangu 8 começou ontem, com a ida de 121 detentos. Estão na lista todos os alvos da Operação Lava-Jato no Estado do Rio , como os deputados Paulo Melo e Edson Albertassi, além de Felipe Picciani, filho do ex-presidente da Assembleia Legislativa Jorge Picciani, do PMDB.

Cenário de escândalos envolvendo mordomias a presos liderados pelo ex-governador Sérgio Cabral, a cadeia de Benfica passará, a partir desta semana, a ser exclusivamente porta de entrada do sistema prisional do Rio de Janeiro, de acordo com a política de reestruturação planejada pela Secretaria de Administração Penitenciária, com o aval do comando da intervenção federal na Segurança Pública do estado.

DELATOR, CARLOS MIRANDA FICARÁ EM BENFICA

Oficialmente, a mudança é justificada pela incompatibilidade de operar como unidade de ingresso no sistema e, ao mesmo tempo, servir para abrigar presos com curso superior e detentos temporários federais. Mas a principal motivação foi a sequência de denúncias sobre as facilidades oferecidas aos presos do grupo de influência ex-governador.

Com a reestruturação, o grupo da Calicute será integralmente transferido para a Cadeia Pública Petrolino Werling de Oliveira, mais conhecida como Bangu 8, no complexo penitenciário de Gericinó. Já estão nessa unidade o ex-governador Sergio Cabral (desde que voltou de Curitiba, há três semanas) e o ex-secretário de Obras de sua gestão, Hudson Braga, transferido recentemente. Todos os demais serão remanejados até sexta-feira próxima.

Ainda existem pendências judiciais mantendo alguns presos em Benfica, mas a Seap espera convencer a Vara de Execuções Penais a autorizar a completa transferência dos detentos federais em uma semana, no máximo.

Único preso da Lava-Jato que vai continuar em Benfica é o economista Carlos Miranda, que firmou acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal (MPF) e pediu para concluir sua pena em regime fechado (dois anos) nessa unidade.

Com capacidade oficial para 184 presos, número que pode ser ampliado em caso de necessidade, Bangu 8 é dividida em celas para duas pessoas e uma cadeia coletiva, chamada de Maracanã. Até o momento, Cabral fica sozinho em uma das seis celas da galeria E, que tem seis metros quadrados.

As mulheres presas em decorrência da Operação Lava-Jato também deixarão a cadeia Benfica e serão transferidas para o Presídio Nelson Hungria.