Título: Araponga de olho no diretor-geral
Autor: Sassine, Vinicius
Fonte: Correio Braziliense, 29/04/2012, Política, p. 3

O araponga Idalberto Matias de Araújo, o Dadá, investigou o diretor-geral do Dnit, Jorge Fraxe, a pedido de Carlinhos Cachoeira. Assim que o nome de Fraxe foi oficializado pela presidente Dilma Rousseff, no início de agosto, o bicheiro pediu informações a Dadá. "Vou tentar aqui descobrir quem é esse cara", disse o araponga, preso pela Polícia Federal por ser o responsável por serviços de espionagem e de cooptação de agentes de segurança pública.Dadá começou então a buscar informantes para ter detalhes da "linha" de atuação de Fraxe.

O bicheiro também conversou com então diretor da Delta Construções no Centro-Oeste, Cláudio Abreu, sobre a possibilidade de influenciar na indicação do novo ministro dos Transportes, a partir da queda de Alfredo Nascimento, demitido pela presidente Dilma Rousseff em 6 de julho de 2011. O diálogo ocorreu no dia anterior à demissão. "O bom seria se valorizasse até pro Sandro ser o ministro. Aí era ótimo, né?", diz Cláudio. Sandro é o deputado Sandro Mabel (PMDB-GO). As investigações apontam também que o senador Demóstenes Torres participou de uma reunião entre o ex-diretor-geral do Dnit Luiz Pagot, antecessor de Fraxe, e "algum diretor da Delta".

Cachoeira chegou a buscar dados privilegiados sobre operação da PF no Dnit. Numa conversa em julho, o bicheiro cobra de Dadá informações sobre a operação. "Tem nada acontecendo, não?", pergunta Cachoeira. "O cara lá falou que tinha 48 mandados de prisão, num negócio do Dnit aí." O bicheiro quis saber quem seria preso, mas a conversa é encerrada sem a informação.

Integrantes do grupo criminoso falam em "zebra" nos repasses pelo Dnit e discutem os repasses da Delta Construções. A empreiteira tem 99 contratos ativos com o Dnit, que resultaram em repasses de R$ 1,4 bilhão. Nenhuma empresa recebeu tanto dinheiro por meio do PAC quanto a Delta. A quantidade de contratos paralisados equivale a 20% dos vigentes: 26 contratos da Delta com o Dnit, que resultaram em pagamentos de R$ 182,5 milhões, ficaram pelo caminho em razão de algum problema na execução. Em crise desde a deflagração da Operação Monte Carlo, a empreiteira está em busca de um comprador. Na noite de sexta-feira, o governo do Amazonas anunciou auditoria nos contratos da Delta, a exemplo de outros governos estaduais, como o de Goiás.