Título: Vale desiste da Argentina
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Fonte: Correio Braziliense, 27/04/2012, Economia, p. 12

Vale desiste da Argentina

Incertezas políticas no país que reestatizou a YPF pesaram na decisão da mineradora de paralisar investimento

A Vale está reavaliando o bilionário projeto de potássio Rio Colorado, na Argentina, um dos maiores empreendimentos já aprovados pelo seu Conselho de Administração, no valor de US$ 5,9 bilhões, com investimentos já executados de US$ 1,1 bilhão. A produtora de minério de ferro espera se tornar uma das principais fornecedores de fertilizantes nos próximos anos. O presidente da Vale, Murilo Ferreira, informou ontem que inflação, incertezas políticas e temores com relação a impostos, infraestrutura e à política cambial levaram a empresa a tomar a decisão.

O projeto Rio Colorado tornaria a Argentina um dos cinco maiores produtores globais de potássio, matéria-prima importante para a produção de fertilizantes. Com o comunicado de Ferreira, o projeto, que era considerado definitivo e com obras em andamento, tem um cenário incerto.

O presidente da Vale ponderou que a empresa já estava reavaliando o projeto antes mesmo da expropriação da YPF, petrolífera controlada pela Repsol. A decisão provocou uma crise sem precedentes entre Argentina e Espanha, além de levantar incertezas nas multinacionais que atuam no país. Na madrugada de ontem o Congresso argentino aprovou o pedido de expropriação em nome da soberania nacional enviado pela presidente Cristina Kirchner.

%u201CNós já estávamos fazendo uma verificação por conta de uma potencial explosão inflacionária prevista pelos analistas quando aconteceu esse evento político. Esse evento político é mais um elemento de preocupação para nós, mas ele não é exclusivo nem foi o detonador da situação%u201D, disse Ferreira.

O anúncio da Vale sobre a reavaliação do projeto ocorre quase um ano depois de a província de Mendoza, onde estão as reservas de potássio, ter suspendido o empreendimento. Os motivos para o procedimento seriam que a empresa não teria cumprido alguns itens contratuais, como a realização de compras locais e a contratação de trabalhadores na região.

Posteriormente, houve um acordo para a Vale seguir adiante com o projeto, que compreende o desenvolvimento de reservas com capacidade de 4,3 milhões de toneladas de potássio por ano. O projeto previa também a construção de um ramal ferroviário de 350 km e instalações portuárias.

Petrobras As ferrovias da Vale poderão ser úteis para que a Petrobras amplie seu acesso ao interior do Brasil, afirmou Ferreira durante teleconferência de imprensa em resposta à pergunta sobre o teor de documentos assinados recentemente entre a mineradora e a estatal. O acordo entre Vale e Petrobras deve contemplar ainda o uso de portos da maior produtora de minério de ferro do mundo, em troca de prioridade no abastecimento de gás.

Outro projeto que pode atender aos interesses das duas companhias é o de produção de terras raras. A Vale poderá ter como garantia de investimentos na exploração dos compostos minerais um contrato de longo prazo com a estatal, que atualmente importa 100% das suas necessidades da China para o refino de gasolina.