Título: Depoimentos distantes do foco da CPI
Autor: Gama, Junio
Fonte: Correio Braziliense, 05/05/2012, PolÍtica, p. 3

Depoimentos distantes do foco da CPI

Procuradores que serão ouvidos na próxima quinta não investigaram políticos nem empresas acusadas de fraudes

A aprovação do requerimento para que procuradores da República compareçam à CPI do Cachoeira desagradou os dois convidados. O depoimento de Lea Batista de Oliveira e Daniel Rezende Salgado, integrantes do Ministério Público Federal responsáveis pelas investigações da Operação Monte Carlo, está marcado para a próxima quinta-feira. Ele serão um dos primeiros ouvidos na CPI, antes mesmo do bicheiro Carlinhos Cachoeira. No entanto, interlocutores próximos aos dois procuradores afirmam que a presença deles será inócua, já que não irão aportar novas informações à comissão.

Os procuradores alegam que a operação da qual participaram seria um trabalho de contrainteligência, para apurar o esquema montado pelo contraventor baseado no vazamento de ações policiais de combate ao jogo do bicho em Goiás. As investigações, que tiveram como foco os policiais envolvidos, não incluíam políticos, no caso o senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO), ou empresas acusadas de fraudes em licitações, como a Delta. A citação de nomes de parlamentares e de empresários nas gravações seria apenas “encontros fortuitos”, termo usado pelos integrantes do MP para designar conversas interceptadas com pessoas que não são alvo da investigação.

No momento em que foi detectado que cidadãos com foro privilegiado estariam comprometidos com os negócios do bicheiro, segundo os procuradores, a investigação teria sido entregue ao Supremo Tribunal Federal (STF). “A CPI do Cachoeira é clara: quer apurar o envolvimento do bicheiro com autoridades e empresas. Na operação em que Lea e Daniel participaram, o foco era outro: o envolvimento de policiais no vazamento de informações internas da corporação”, alega um interlocutor dos dois procuradores.

Sigilo Outra questão apontada por Lea e Daniel seria a necessidade de manter sigilo sobre detalhes da operação para não afetar negativamente outras operações semelhantes em curso. A alegação é de que as investigações de contrainteligência teriam desdobramento entre si e qualquer divulgação mais detalhada sobre métodos e personagens poderia comprometer o trabalho de colegas.

O requerimento de convite aos procuradores partiu do relator da comissão, deputado Odair Cunha (PT-MG), e foi aprovado na sessão de quarta-feira. Lea e Daniel irão comparecer, até para evitar passar pelo constrangimento de serem convocados. Para o relator, a presença dos dois é importante para que deem mais informações sobre a operação, justamente o que os procuradores alegam não poder oferecer. O senador Humberto Costa (PT-PE), que também integra a CPI, relata que a possibilidade da ida dos procuradores ser infrutífera já foi levantada. “Houve em outras CPIs convites a procuradores que disseram que tudo o que poderiam informar sobre o caso já havia sido citado nos autos do inquérito”, diz.

"Houve em outras CPIs convites a procuradores que disseram que tudo o que poderiam informar sobre o caso já havia sido citado nos autos do inquérito" Humberto Costa (PT-PE), senador e integrante da CPI