O globo, n. 30996, 18/06/2018. País, p. 4

 

De criticados a cortejados

Catarina Alencastro

18/06/2018

 

 

Alvos de ataques no passado, antigos adversários resistem a apoiar Ciro

Empenhado em angariar apoios para sua candidatura presidencial, Ciro Gomes (PDT-CE) enfrenta o desafio de superar resistências de antigos adversários — hoje possíveis aliados — que já foram alvos de ataques do pedetista.

A ambição de Ciro é fechar uma coligação que dê preferência a partidos de esquerda, como PSB e PCdoB, sem excluir um acordo com siglas de centro-direita, como DEM e PP. Mas o estilo verborrágico assusta potenciais apoiadores, especialmente os de centro-direita.

No DEM, partido que virou fiel da balança do centrão, há uma ala “em pânico” com a possibilidade de aliança com Ciro, defendida por parte da legenda. Em 2005, então ministro do governo Lula, ele chamou o atual presidente do DEM, ACM Neto, de “tampinha” e “anão moral”. Três anos antes, no entanto, Ciro havia recebido o aval do PFL (que depois foi batizado de DEM) e de ACM à sua candidatura ao Palácio do Planalto.

Mais recentemente, o pedetista fustigou um ex-líder do DEM na Câmara, o deputado Pauderney Avelino (AM): “Esse capitão do impeachment, capitão de pau, foi corretor da compra de votos da reeleição”, disse.

— Eu não dou muita atenção para esse cidadão. É um descompensado — diz Pauderney, que está processando Ciro.

A origem política de Ciro é de direita. Ele começou sua carreira em 1982, no Ceará, como deputado estadual do PDS. De lá para cá, mudou de partido seis vezes.

Além do temperamento de Ciro, alguns quadros da centro-direita questionam o programa de governo do pedetista.

— Nós temos um pé no mercado financeiro. Como vamos explicar um apoio a quem diz que vai revogar a reforma trabalhista e o teto de gastos? — pondera um centrista que vem mantendo conversas com a campanha de Ciro.

Diferentemente da centro-direita, esquerda e centro-esquerda partilham da agenda do pedetista. Mesmo sem a dificuldade programática, a esquerda também está sujeita a farpas desferidas pelo presidenciável. Hoje, Ciro busca como aliado preferencial o PSB, mas no passado acusou Eduardo Campos — morto em 2014 — de controlar a burocracia do partido “como uma capitania hereditária que herdou do avô (Miguel Arraes)”.

Num episódio recente, Ciro defendia um irmão de um grupo de populares, no meio da madrugada, e, ao ouvir menção ao nome do ex-presidente Lula, xingou o petista.

Pessoas próximas ao pré-candidato revelam que ele está “muito bem treinado” para não falar mal de Lula. Ciro não conta com o apoio do PT no primeiro turno, mas sonha obtê-lo caso chegue ao segundo.

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Bolsonaro: outra ‘ex’ vai tentar mandato

Bruno Abbud

18/06/2018

 

 

Após a primeira desistir, segunda ex-mulher quer vaga na Câmara

Sai uma, entra a outra. De duas ex-mulheres de Jair Bolsonaro, só uma pretende aproveitar o sobrenome do presidenciável nas urnas em outubro. Enquanto a primeira, Rogéria Nantes Nunes Braga, desistiu da candidatura a deputada estadual, a segunda, Ana Cristina Valle, que o conheceu enquanto ele era casado com Rogéria, prepara a sua campanha para disputar uma vaga na Câmara dos Deputados.

Convidada pelo Podemos para compor chapa com o senador Romário, pré-candidato ao governo do estado, Ana Cristina, que é advogada, pretende pegar uma carona na popularidade do “ex-marido” — embora não tenha se casado no papel com Bolsonaro, é assim que ela o chama.

— Foram dez anos juntos — disse Ana Cristina.

No início deste mês, após dez anos, a advogada conversou pela primeira vez com Bolsonaro, no gabinete do filho dele com Rogéria, o deputado estadual Flávio Bolsonaro, na Assembleia Legislativa do Estado do Rio (Alerj). Na conversa, segundo conta, o presidenciável informou que Rogéria acabara de desistir da candidatura. Não disse o porquê.

— Ele (Bolsonaro) me falou que ela (Rogéria) não vai mais vir candidata a deputada estadual. Ele me falou que ela desistiu, o que não vai ser o meu caso. Eu não vou desistir — afirmou.

A assessoria de Bolsonaro confirmou a informação.

A conversa na Alerj, que durou menos de uma hora, serviu para sanar uma dúvida: Ana Cristina quis saber a opinião do presidenciável sobre seus planos de usar o nome “Cris Bolsonaro” nas urnas:

— Todo mundo me conhece como Cristina Bolsonaro.

Ficou acertado que ela enviaria um advogado ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) para avaliar se há algum impedimento jurídico no uso do sobrenome.

Atualmente chefe de gabinete de vereador na Câmara Municipal de Resende (RJ), Ana Cristina começou a trabalhar com política no início dos anos 1990, quando conseguiu um emprego no gabinete do ex-deputado federal pela Bahia, Jonival Lucas, em Brasília. Desde então, trabalhou no gabinete de Jair Bolsonaro, na liderança do antigo Partido Democrata Cristão (PDC), no antigo Ministério da Integração Regional e na Casa Civil do governo Fernando Henrique.

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Pré-candidatos ao Planalto tratam Copa com discrição

Sérgio Roxo

18/06/2018

 

 

Entre presidenciáveis, apenas Geraldo Alckmin comentou resultado

Ao contrário de eleições anteriores, os presidenciáveis apostaram na discrição durante a estreia do Brasil na Copa da Rússia, ontem. Com o empate que frustrou a torcida, a maioria dos principais pré-candidatos não se manifestou após o jogo.

Antes de a partida começar, Marina Silva, da Rede, postou nas redes sociais uma foto vestida com uma camisa da seleção com seu nome nas costas. Ela assistiu ao jogo em sua casa, em Brasília, acompanhada de familiares.

Geraldo Alckmin, do PSDB, foi o único que falou sobre o resultado. Em uma publicação em que aparece vestido com uma camisa amarela, ao lado, entre outros, do suplente de senador José Aníbal (PSDB-SP), do deputado federal Floriano Pesaro (PSDB-SP) e da mulher, Lu, o tucano escreveu: “A vitória não veio, mas estamos unidos e confiantes na Seleção.”

O deputado Jair Bolsonaro não falou de futebol nas suas redes sociais ontem. O précandidato do PSL assistiu ao jogo com a família no Rio.

Já Ciro Gomes, do PDT, não paralisou sua agenda de campanha por causa da partida. Ele viu parte do jogo no Aeroporto de João Pessoa (PB), onde pegou um avião para São Paulo. Ciro publicou uma foto assistindo ao jogo na sala de embarque com o presidente do PDT, Carlos Lupi.

Nas Copas anteriores, desde 1994, era comum que os candidatos, devidamente uniformizados, convocassem a imprensa e assistissem aos jogos ao lado de correligionários. Este ano, por enquanto, os pré-candidatos a presidente ainda não manifestaram intenção de fazer esse tipo de evento.