Título: Pedido para ver toda a investigação
Autor: Valadadres, João
Fonte: Correio Braziliense, 05/05/2012, Politica, p. 5

Pedido para ver toda a investigação

Senador tucano quer que a Polícia Federal envie à CPI o material bruto analisado por agentes e delegados

JOÃO VALADARES

O senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) vai requerer, na próxima terça-feira, durante reunião da CPI do Cachoeira, todo o material bruto referente aos grampos realizados pelas Operações Vegas e Monte Carlo. O parlamentar acredita que informações valiosas, colhidas a partir das interceptações telefônicas, podem ter ficado fora dos relatórios finais da Polícia Federal encaminhados ao Ministério Público Federal. De acordo com o senador, não se trata de desconfiança em relação ao trabalho desenvolvido pelos delegados. “Muitas vezes, alguns dados colhidos não são importantes para o foco da investigação e são descartados naquele momento. No entanto, podem ser interessantes para o trabalho da CPI”, justificou.

Durante o processo de investigação, os delegados recebem ao fim de cada monitoramento telefônico o auto de procedimento técnico de interceptação, onde constam as informações principais da gravação autorizada pela Justiça. “É preciso conhecer todo o material bruto para que possamos emitir um juízo de valor adequado. Só a liberação geral e irrestrita das gravações poderá minimizar o uso político e eleitoral da CPI.” Para ter validade, o requerimento do senador precisa ser apreciado e aprovado pelos 32 integrantes da comissão.

O senador salientou que decisão recente do Supremo Tribunal Federal, durante julgamento do habeas corpus do desembargador Carreira Alvim, investigado por favorecer grupo criminoso, só reconhece a legalidade da denúncia se for baseada em relatórios que contenham a íntegra de todas as gravações.

Torpedos O sistema Guardião de escuta telefônica, mantido e operado pela Polícia Federal, pelo Ministério Público e por secretarias estaduais de segurança, foi responsável oficialmente por mais de 400 mil escutas telefônicas nos últimos dois anos. O programa permite acesso às comunicações telefônicas (móvel, fixo e fax) e aos chamados torpedos (SMS), mas impede qualquer tipo de edição, supressão ou inclusão de diálogos.

O presidente da CPI do Cachoeira, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), comunicou na quinta-feira que todos os integrantes da comissão terão acesso ao inquérito da Operação Vegas a partir de segunda. Mesmo depois do vazamento das informações sigilosas, o parlamentar criou uma espécie de caverna, localizada no subsolo da sala onde funciona a CPI, com o objetivo de preservar o segredo dos documentos. No local, só há três computadores. Os deputados e senadores podem entrar na sala, monitorada por câmeras, após deixar os aparelhos eletrônicos do lado de fora. Não foi definido nenhum critério para regulamentar a ordem de acesso das informações. “Só poderemos pesquisar no período comercial, de segunda a sexta. Teremos apenas uma hora por dia para analisar um inquérito com mais de 15 mil páginas”, reclamou Cunha Lima. Até o fechamento desta edição, o senador Vital do Rêgo, procurado por meio da assessoria de imprensa, não havia sido localizado.

"Muitas vezes, alguns dados colhidos não são importantes para o foco da investigação e são descartados naquele momento. No entanto, podem ser interessantes para o trabalho da CPI" Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), senador