O globo, n. 30971, 24/05/2018. Rio, p. 8

 

Menos ônibus nas ruas

Vitor Seta

Gustavo Goulart

Dayana Resende

Luiz Ernesto Magalhães

24/05/2018

 

 

A greve dos caminhoneiros interrompeu o abastecimento de óleo diesel e provocou uma grande redução do número de ônibus municipais e intermunicipais em circulação na cidade do Rio e na Região Metropolitana. Segundo o gerente de Planejamento e Controle de Operações da Fetranspor, Guilherme Wilson, cerca de 40% dos veículos da frota do estado não saíram ontem das garagens, e a estimativa para hoje é que 70% estejam impedidos de circular. De acordo com ele, se a greve continuar, existe a possibilidade de completa paralisação dos ônibus a partir de amanhã.

Na cidade do Rio, a situação, ontem, não chegou a ser caótica. De acordo com o sindicato Rio Ônibus, durante a manhã, a frota municipal operou com 80% de sua capacidade. No fim da tarde, a situação piorou um pouco: 72% dos ônibus circularam. O Rio Ônibus alertou, no entanto, que “as empresas estão sob o risco iminente de falta de combustível”. Com a escassez de diesel nas garagens, muitas companhias levaram seus veículos para abastecer em postos de combustível, mas nem isso resolveu o problema.

A Única, empresa que opera uma linha entre Petrópolis e o Rio, cancelou as vendas antecipadas e reduziu a frota em circulação. Os passageiros que chegavam à rodoviária da cidade serrana tinham de esperar os ônibus lotarem para viajar. Coletivos do sistema BRT voltaram para as garagens quase sem combustível.

— Cerca de 40% da frota não saíram por falta de óleo diesel, mesmo com os esforços para abasteadiantem cimento em postos de gasolina — disse Wilson. — Se não houver abastecimento até amanhã (hoje), estimamos que cerca de 70% dos ônibus ficarão impossibilitados de circular.

Com menos ônibus nas ruas, o trânsito no Rio melhorou, mas os passageiros enfrentaram longas filas para pegar coletivos lotados. Na Central do Brasil, ontem à noite, muitos passageiros precisaram ter paciência na hora de voltar para casa. O vigilante Fábio Ferreira, que costuma aguardar entre 10 e 20 minutos por carros da linha 342, para Vigário Geral, estava impaciente:

— Estou há quase uma hora esperando. Quando vou chegar em casa? À meia-noite? Se demorar mais um pouco, vou de trem. Melhor apertado do que atrasado — disse Fábio, que já havia optado pelo trem para ir ao trabalho. — De manhã não passava ônibus onde moro, as ruas estavam bloqueadas por caminhoneiros.

Juliana Campos, moradora de Ramos, olhava a cada cinco minutos para o relógio, angustiada. A linha 312 costuma demorar em dias normais. Ontem, o tempo de espera na Central foi de 1h05m:

— Em 50 minutos, passaram três, mas, não sei por qual razão, não estavam parando no ponto. Estou cansada, e ainda não sei quando vou conseguir chegar em casa.

Segundo o Centro de Operações da Prefeitura, o Rio registrou 62 quilômetros de congestionamentos às oito da manhã, quando o normal no horário são 64 quilômetros. Às 17h, o engarrafamento chegava a 59 quilômetros; o esperado seriam 129 quilômetros.

Com menos ônibus nas ruas, a população terá de recorrer a outros modais. A Secretaria municipal de Transportes (SMTR) divulgou uma nota pedindo que a população opte por transportes de massa, como metrô, trem e VLT, cujas concessionárias já foram alertadas a reforçar as operações. O MetrôRio informou que está preparado para trabalhar com o efetivo e a frota utilizados em horários de pico além das 20h, no caso de o movimento permanecer grande nas estações. De acordo com a Supervia, não houve alterações significativas no número de passageiros ontem, mas a concessionária continua monitorando o sistema para reforçar sua operação em caso de necessidade.

Nas Barcas, a CCR também não registrou alterações no número de passageiros ontem, mas informou que está preparada para o caso de aumento da demanda hoje. Havendo necessidade, pode disponibilizar viagens extras e reduzir intervalos. A orientação é que os passageiros a compra do bilhete de volta.

De acordo com a Fetranspor, o consumo de óleo diesel em ônibus chega a 2 milhões de litros por dia no estado. Na capital, segundo o Rio Ônibus, são gastos 764 mil litros diariamente.

Na Baixada Fluminense, O GLOBO ouviu muitos relatos de diminuição do número de coletivos nas ruas. Às 9h20m, a comerciária Rafaela Duarte, que trabalha numa vidraçaria em Mauá, distrito de Duque de Caxias, aguardava um ônibus há quase duas horas na Rodovia Washington Luís, na altura do Jardim Gramacho. Segundo ela, os ônibus da Viação União costumam demorar, mas ontem estava pior:

— São quatro ou cinco ônibus de manhã, mas hoje (ontem) só três passaram, e no sentido oposto, em direção à Avenida Brasil.

Na Ilha do Governador, a Transportes Paranapuan informou logo cedo, pelas redes sociais, que estava com frota reduzida.

— Os ônibus já demoram mais de 20 minutos em dias normais. Hoje, esperei quase o dobro disso — disse o estudante Vitor Lima.

A agente de combate a endemias Elizabeth Costa Sampaio de Jesus mora em Campo Grande e trabalha em Campos Elísios. Às 8h30m, ela aguardava um ônibus num ponto do Jardim Gramacho, no sentido Região Serrana, para ir ao trabalho. Ela estava no local desde as 6h.

— Costumo ver muitos caminhões indo para a Ceasa. Hoje (ontem) não vi nada — disse ela.

Na madrugada, a circulação de passageiros era intensa no Terminal Padre Henrique Otte, no Santo Cristo, de onde partiam ônibus para diversas regiões sem registros de problemas.