O globo, n. 30993, 15/06/2018. País, p. 6

 

Sem Aécio, Alckmin monta time de caciques para a campanha

Silvia Amorim e Cristine Jungblut

15/06/2018

 

 

Perillo será coordenador; meta é fortalecer alianças nos estados

Para reduzir a pressão do PSDB pelo fraco desempenho nas pesquisas, o pré-candidato à Presidência da República, Geraldo Alckmin, montou um grupo de coordenadores políticos, formado por caciques da legenda e sem a presença do senador Aécio Neves, investigado na Lava-Jato e alvo da delação da J&F.

O grupo será liderado pelo atual primeiro-vice-presidente do PSDB, Marconi Perillo, que foi nomeado coordenador político da campanha. Na sede nacional do PSDB, em Brasília, Perillo disse que a meta é a “concertação” com os partidos do centro democrático, e não descartou o apoio do MDB. A principal tarefa do ex-governador de Goiás será finalizar o arranjo de alianças estaduais. José Aníbal, Tasso Jereissati, Alberto Goldman e Pimenta da Veiga são alguns dos cotados a integrar a equipe.

— Pedi ao Marconi, que vai coordenar essa área política e vai ajudar nesta conversa política em vários estados. A eleição não é só para presidente da Republica. A gente deve fazer em equipe. Claro que, sendo pré-candidato, eu converso com as pessoas e gosto disso. Mas é importante você ter parceiros para ajudar. Por isso, pedi ao Marconi para coordenar essa área política — disse Alckmin.

Detalhes sobre a divisão de tarefas ainda estão em discussão. Alckmin pretende resolver dois problemas com a escalação. O primeiro é de ordem interna: reduzir as críticas de centralização dos trabalhos por sua campanha, dando espaço a lideranças de vários alas do partido. O segundo, mais pragmático, é aumentar a articulação regional com militantes e partidos aliados para dar volume ao projeto presidencial.

No início deste mês, Alckmin participou de um jantar com a cúpula do partido em que foi cobrado a delegar mais a condução da campanha. Ele reagiu e, em tom de desabafo, disse aos colegas que o partido que o escolheu poderia substituilo se não estivesse satisfeito. Dias antes do encontro, aliados do presidenciável tinham identificado um movimento para tirar Alckmin do comando partido.

Há uma preocupação na campanha tucana de que a centralização dos trabalhos leve a uma falta de engajamento de candidatos do partido país afora na candidatura presidencial. O objetivo principal é mobilizar os candidatos a deputado estadual e federal nos estados.

— Se eles dedicarem cinco minutos do dia para falar do candidato a presidente em suas atividades de campanha já estará ótimo — explicou um dos articuladores de Alckmin.

A situação política em São Paulo, onde Alckmin tem dois palanques em guerra, também está no radar como prioritária. O pré-candidato procura um coordenador que possa apaziguar os pré-candidatos a governador João Doria (PSDB) e Márcio França (PSB). A dificuldade está em encontrar alguém que transite bem entre as duas campanhas.

Hoje, tucano enfrenta dificuldades para fazer agendas públicas no estado, onde governou por 13 anos e precisa ampliar sua votação. Nas pesquisas, ele aparece empatado com Jair Bolsonaro (PSL). O clima bélico na base de Alckmin em São Paulo forçou sua equipe a tomar a decisão de organizar no estado uma estrutura própria para a candidatura presidencial.

Também ontem, o ex-presidente Fernando Henrique gravou vídeo de apoio à candidatura do presidenciável. Ele segue a estratégia de desgastar a imagem de Bolsonaro. Na gravação, FH diz aos eleitores que é preciso escolher um candidato que defenda a democracia.

— A escolha de um presidente é um momento crucial para um país. Agora, mais do que nunca, porque precisamos escolher um presidente que reforce a democracia e tenha um olhar competente para resolver as questões do povo — afirmou FH.

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Meirelles: economista coordena propostas

Leticia Fernandes

15/06/2018

 

 

Pré-candidato elege nome da PUC para chefiar programa de governo

Pré-candidato à Presidência pelo MDB, o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles escolheu o economista José Márcio Camargo para coordenar o programa que vai apresentar na campanha, especialmente as diretrizes da área econômica. Camargo, professor da PUC-Rio, elegeu como prioritárias, neste momento, quatro áreas de interesse, que serão desenvolvidas com a ajuda de especialistas de cada assunto: infraestrutura e privatizações; Educação, com foco no ensino infantil; Saúde; e Segurança Pública.

O economista faz sua estreia no universo de campanhas eleitorais. Ele afirma que “Meirelles é provavelmente o único candidato com quem eu estaria disposto a trabalhar” e diz que o programa de governo a ser apresentado pelo candidato é uma compilação dos documentos elaborados recentemente para o MDB. As bases virão do “Ponte para o Futuro”, implementado em parte pelo governo Michel Temer, e do “Encontro com o Futuro”, lançado quando foi oficializada a pré-candidatura de Meirelles pelo partido.

Camargo e Meirelles nunca tiveram relação pessoal. Se aproximaram durante a discussão sobre a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) do Teto de Gastos e também nas rodadas de encontros promovidas por aliados de Temer, para conscientizar parlamentares sobre a importância da aprovação da reforma da Previdência — que terminou sendo um dos maiores fracassos do governo, sepultada sem ir a voto.

Segundo relatos, naqueles encontros o ex-ministro ficou muito bem impressionado com o economista, que também era levado às reuniões pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de quem é próximo. Maia é pré-candidato ao Palácio do Planalto, mas deve desistir da candidatura em breve.

Apesar da relação pouco próxima com o novo chefe, o economista contou ao GLOBO que alguns dos integrantes da equipe econômica do atual governo, escolhidos por Meirelles, foram professores ao seu lado ou seus alunos na PUC-Rio. Por isso, Camargo diz que já acompanhava os passos do então ministro. Um dos ex-alunos ilustres é o atual presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, escolhido a dedo por Meirelles para ocupar o posto que o próprio ex-ministro da Fazenda ocupara no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

 

AJUDA A DIVERSOS PARTIDOS

Assim como na biografia de Meirelles, no currículo do economista há contribuições para partidos de diferentes colorações políticas. No início dos anos 1990, por exemplo, Camargo ajudou a estruturar as bases para o programa Bolsa Escola, implementado primeiro na prefeitura de Campinas (SP), comandada na época por José Roberto Magalhães Teixeira, do PSDB, e depois nacionalmente no governo do também tucano Fernando Henrique Cardoso. Já quando Lula chegou ao poder, em 2002, interlocutores do petista procuraram José Márcio Camargo para que ajudasse a implementar o que viria a ser o programa Bolsa Família.

Na época em que ajudou a estruturar o programa usado em administrações tucanas, militou brevemente no PT, sem nunca ter se filiado ao partido. Antes disso, no fim da década de 1970, se aproximou do antigo MDB, numa relação que durou cerca de vinte anos, retomada recentemente.