O globo, n. 30993, 15/06/2018. Rio, p. 7

 

Economia de risco

Natália Boere e Dayana Resende

15/06/2018

 

 

Crivella diz que não deve renovar contrato do Centro Presente porque é muito caro

O prefeito Marcelo Crivella admitiu ontem que o programa Centro Presente, que reforça a segurança da região com mais de 500 policiais, pode acabar. Isso porque o município não quer mais arcar com os custos do projeto, que chega a R$ 4 milhões mensais, divididos com o Sesc RJ. A proposta de Crivella é levar para o Centro o Rio Mais Seguro, um esquema de vigilância implantado pela prefeitura. Com a participação de guardas municipais, foi lançado em dezembro de 2017 em Copacabana e custa R$ 850 mil por mês. Com a economia, segundo ele, a região de Laranjeiras também poderá receber patrulhamento especial.

— Queremos trazer a experiência que tivemos em Copacabana, com o Rio Mais Seguro, para o Centro. Gostaríamos de mostrar as economias que estamos fazendo lá e tentar implementá-las no Centro, onde o sistema está custando R$ 4 milhões. Se nós conseguirmos isso, quem sabe, reduzindo os custos, podemos levar o projeto para uma área que tem me preocupado muito, que é a de Laranjeiras, Catete e Cosme Velho, que tem tido muitos assaltos e onde precisamos tomar uma providência — disse o prefeito.

Foi justamente a escalada da violência que levou para o Centro o Segurança Presente, que também é mantido na Lagoa, no Méier e no Aterro, mas apenas com investimentos do Sesc RJ. Em julho de 2016, a região central do Rio vivia uma onda de roubos, com muitos ataques a faca. Com a implantação do programa, em dois anos, o número de assaltos a pedestres caiu 18,9%, enquanto, em todo o estado, subiu 4%. A comparação é entre os quatro primeiros meses de 2016 e o mesmo período deste ano.

 

PRAZO TERMINA EM DUAS SEMANAS

O contrato do Centro Presente termina no próximo dia 30. Ontem, em visita à Velo-City, conferência sobre bicicleta que acontece até hoje no Píer Mauá, Crivella foi abordado por alguns agentes do programa preocupados com o fim da iniciativa. Em tom cordial, o prefeito disse que, “se não renovar no Centro”, os policiais poderão ir para Laranjeiras. Questionado se haveria uma descontinuidade entre o fim do Centro Presente e a possível implantação do Rio Mais Seguro, o prefeito desconversou:

— Não diria um hiato, mas acho que a gente precisa adequar os custos para poder expandir. No momento de crise, a gente tem que fazer mais por menos. Estamos conversando com o pessoal do Centro, do estado e do Sesc.

O secretário de Ordem Pública (Seop), coronel Paulo Cesar Amendola, informou que a expansão do Rio Mais Seguro para Laranjeiras é uma ideia embrionária. Para levá-lo ao Centro, seriam necessários 25 dias de planejamento, mas o secretário ressaltou que o prazo pode ser menor, caso o prefeito queira. Segundo Amendola, a proposta é que o Rio Mais Seguro seja implantado na mesma área de atuação do Centro Presente. Como em Copacabana,guardas municipais atuariam ao lado de PMs inativos e da ativa dentro do horário de expediente e receberiam na folha de pagamento da prefeitura. Não seria um trabalho extra. Quanto ao efetivo, não se sabe se será o mesmo.

— Ainda estamos dimensionando os efetivos. Independentemente do tamanho, nós vamos focar para manter os resultados obtidos pelo Centro Presente — disse o secretário.

As equipes contratadas pelo Centro Presente atuam da Praça Mauá até a Candelária, passando por Praça Quinze, Largo da Carioca, ruas Uruguaiana e Sete de Setembro e Avenida Presidente Vargas até a Praça Onze. Desde sua implantação, há quase dois anos, foram registradas 3.376 prisões em flagrante. Entre as principais acusações contra os detidos estão posse e uso de drogas (1.041), porte de armas brancas (215), roubos (193), furtos (333) e tráfico (60). Também foram cumpridos 785 mandados de prisão no período.

Em nota, a Associação Comercial do Rio de Janeiro informou que o Centro Presente tem garantido aos lojistas a segurança necessária para suas atividades. “Qualquer interrupção, mesmo que para sua substituição por uma outra solução institucional de menor custo, deverá considerar um planejamento de transição com o objetivo de não desamparar comerciantes e cidadãos que merecem ter sua liberdade de ir, vir e fazer negócios assegurada”, diz o texto. A entidade ressaltou ainda que a adequação de custos “é sempre um bom caminho, desde que seja feita de forma responsável”.

Os modelos do Segurança Presente e do Rio Mais Seguro são diferentes. No Centro, as despesas incluem o pagamento dos salários de 538 pessoas que participam do projeto, entre policiais da ativa e da reserva, reservistas das Forças Armadas e assistentes sociais. Os salários variam de R$ 185 (diárias de policiais da ativa) a R$ 3.710 (salários mensais de PMs da reserva). A verba também banca combustível e uniformes. O Sesc RJ, que não quis comentar a negociação com a prefeitura, mantém o Segurança Presente em outras áreas da cidade.

Em Copacabana, o Rio Mais Seguro conta com 480 PMs da ativa e guardas municipais que trabalham em duplas, divididos em dois turnos. No orçamento, a prefeitura considera como despesa apenas os gastos com as diárias dos policiais e os uniformes. O restante da estrutura é paga com recursos da própria Guarda Municipal: salários dos agentes (que atuam dentro da escala de serviço) e combustível para toda a frota.

Nessa busca por mais segurança, entrou agora a região de Laranjeiras, onde moradores enfrentam o aumento de assaltos e até explosões de caixas eletrônicos (foram três só no mês passado).

— O batalhão de Botafogo, responsável por oito bairros, não é suficiente. Soubemos, há um mês, que o prefeito vê com simpatia a ideia de reforçar o policiamento aqui. Isso é excelente. Pena que, para cobrir um santo, precise descobrir outro. O ideal seria ter equipes suficientes — disse o presidente da Associação de Moradores e Amigos de Laranjeiras, Marcus Vinícius Seixas.

Nos quatro primeiros meses deste ano, o número de roubos na área da 9ª DP (Catete), que cobre Laranjeiras, chegou a 685, uma alta de 45% em relação ao mesmo período de 2017.