Título: Estímulo para poupar, comprar e quitar dívidas
Autor: Bonfanti, Cristiane
Fonte: Correio Braziliense, 05/05/2012, Economia, p. 14
Estímulo para poupar, comprar e quitar dívidas
Nova caderneta permanece atraente, permite a queda ainda mais agressiva da taxa básica de juros, a Selic, com reflexo no bolso do consumidor na hora de realizar o sonho da casa própria e de fugir da inadimplência
ANA D%u2019ANGELO» CRISTIANE BONFANTI
Indispensável para o crescimento econômico e benéfica para o bolso dos brasileiros, a queda das taxas de juros em geral favorece quem toma empréstimos, quer comprar a casa própria ou tem dívidas atreladas à taxa básica de juros (Selic), mas reduz o rendimento dos que têm aplicação financeira. Por isso, os consumidores devem planejar suas contas para tirar o melhor proveito dos juros menores. A mudança no cálculo de rentabilidade da caderneta de poupança só terá impacto de fato nos ganhos dos poupadores quando a Selic estiver abaixo de 8% ao ano, conforme cálculos de especialistas.
Hoje, ela está em 9% e deve cair para 8,5% no fim do mês.
Por enquanto, a poupança continua com uma das melhores opções de investimento, ganhando de boa parte dos fundos de renda fixa oferecidos pelos bancos. Mesmo com a Selic entre 8% e 8,5% no ano e a nova forma de cálculo do rendimento, a mais tradicional aplicação do país garantirá ganhos em torno de 6,5% a 6,9% ao ano, ou 0,53% a 0,56% ao mês, próximo dos percentuais atuais, que estão em 7,2% no acumulado de 12 meses, ou 0,58% ao mês. Já para os consumidores com dívidas ou que pretendem comprar seu imóvel, os bancos públicos estão oferecendo excelentes condições para fazer o orçamento render mais ou colocar as contas em dia.
Ontem, o Banco do Brasil anunciou a terceira redução nos juros cobrados nas suas linhas de crédito, o que facilitará mais ainda a renegociação dos débitos de quem está com o orçamento apertado. Também entraram em vigor as taxas menores para quem quer financiar a casa própria pela Caixa Econômica Federal. É a redução da Selic, fixada pelo Banco Central, que baliza o rendimento pago pelo governo aos investidores que compram títulos e permite que os juros cobrados dos consumidores também caiam. Foi para manter a atratividade dos fundos de renda fixa dos bancos, formados por títulos públicos, que o governo mudou a regra de cálculo do ganho da poupança, hoje de 0,5% ao mês ou 6,17% ao ano, mais a Taxa Referencial de Juros (TR), para os novos depósitos que ocorrerem a partir da data em que a Selic cair para 8% ou menos.
Nova fórmula Quando a Selic cair para 8,5% ao ano ou menos, o rendimento da poupança passará a corresponder a 70% dela mais a variação da TR. Mas assim mesmo somente os novos depósitos feitos a partir da vigência da Selic menor receberão o ganho definido pela nova fórmula. Caso a taxa seja reduzida para 8% ao ano dia 30 deste mês, quando ocorre a reunião do Conselho de Política Monetária, os depósitos feitos a partir dessa data já terão rendimento definido pela nova regra. Já quem aplicar no próximo dia 15 terá o rendimento creditado em 15 de junho com base nos 0,5% mais a TR.
O sócio-diretor da DX Investimentos, Felipe Chad, afirma que o poupador só vai sentir de fato o reflexo da mudança de cálculo nos seus ganhos quando a Selic estiver por volta de 7,5% ou 7% ao ano. "Na prática, muda muito pouco. O pequeno investidor não sai prejudicado", diz. Nesse caso, a rentabilidade anual ficará, respectivamente, em torno de 6,1% e 5,7% ao ano, fora a TR. Esses percentuais são, portanto, abaixo do rendimento mínimo garantido hoje de 6,17%, que continuará assegurado para os depósitos feitos durante o período em que a Selic estava acima de 8,5% ao ano e que continuarem nos bancos nos próximos meses ou anos.
Ou seja, se as taxas de juros no país continuarem em trajetória declinante, será um bom negócio para o poupador que já tem dinheiro na caderneta até a próxima mudança da Selic não mexer nessas economias, pois estará com rendimento bem atraente, até mesmo em relação aos grandes investidores. Apesar das mudanças, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, reafirmou que a caderneta é a melhor opção para os pequenos investidores. "Quem já está na poupança não deve fazer nada", recomendou.
É bom lembrar que, embora o rendimento dos novos depósitos da poupança fique menor com a Selic mais baixa, o ganho dos fundos de renda fixa também diminui pois é lastreados em títulos públicos que seguem a taxa definida pelo Banco Central.
"Quem já está na poupança não deve fazer nada" Guido Mantega, ministro da Fazenda
Para saber mais Alforria Criada pelo Decreto nº 2.723, de 12 de janeiro de 1861, a Caixa Econômica da Corte — hoje Caixa Econômica Federal — teria no documento assinado pelo então Imperador Dom Pedro II, entre outras, a função de "receber, a juro de 6% ao ano, as pequenas economias das classes menos abastadas (...)". Já pelo Decreto nº 5.153, de 13 de novembro de 1872, as Caixas Econômicas poderiam recolher os depósitos feitos pelos "escravos de ganho", isto é, aqueles que trabalhavam em atividades que auferissem renda tanto para seus senhores como para si mesmos. Esse dinheiro suado, com a rentabilidade garantida de 6% ao ano, permitiu a muitos escravos comprarem a alforria. Vem dos tempos do Império a tradição da aplicação.