Correio braziliense, n. 20133, 06/07/2018. Política, p. 3

 

Donos da pasta-problema

Renato Souza

06/07/2018

 

 

INVESTIGAÇÃO » Sob o comando do PTB, integrantes do Trabalho colecionaram escândalos durante a gestão Michel Temer. Ida de Helton Yomura - afastado ontem - ocorreu depois de Cristiane Brasil, filha de Roberto Jefferson, se inviabilizar para assumir ministério

A terceira fase da operação Registro Espúrio, realizada ontem pela Polícia Federal, foi o estopim de uma série de problemas no Ministério do Trabalho. As adversidades começaram quando o presidente Michel Temer decidiu entregar a pasta para o comando do PTB. Entre janeiro e fevereiro deste ano, o governo federal travou uma verdadeira guerra judicial para formalizar a deputada Cristiane Brasil, filha de Roberto Jefferson, presidente do PTB no comando da pasta. A desistência só ocorreu após o caso ir parar no Supremo Tribunal Federal (STF).

Jefferson chamou de “perseguição” as ações judiciais que foram movidas contra a posse da deputada no ministério. Os problemas começaram por conta de uma condenação de Cristiane pela Justiça do Trabalho. Ela foi obrigada a pagar R$ 60 mil a um ex-funcionário em uma ação trabalhista. No processo, o autor afirmou ter atuado como motorista da parlamentar entre 2011 e 2014, recebendo R$ 4 mil mensais.

No primeiro ano, de acordo com a ação judicial, o funcionário era liberado para folgar apenas aos domingos. Depois, passou a trabalhar cinco dias por semana. Ele também contou à Justiça que era o responsável por levar os filhos de Cristiane a “médicos, escola, psicólogos, baladas etc”.

Com base na condenação, o juiz federal Leonardo da Costa Couceiro, da 4ª Vara da Fazenda Nacional, suspendeu a posse de Cristiane, atendendo a uma da seis ações movidas pelo Movimento dos Advogados Trabalhistas Independentes (MATI). Ao chegar no STF, a ministra Cármen Lúcia, presidente da Corte, manteve a proibição de Cristiane em ocupar o cargo e decidiu que o assunto deveria ser levado ao plenário.

Em maio deste ano, a Polícia Federal apontou a existência de um grande esquema no Ministério do Trabalho para cobrar propina pela emissão de registros sindicais. Na primeira fase da operação Registro Espúrio, foram alvos de buscas os deputados Paulinho da Força (SD-SP), Jovair Arantes (PTB-GO) e Wilson Filho (PTB-PB). A prisão deles chegou a ser pedida ao STF, mas foram negadas pelos ministros Edson Fachin.

A insistência do partido em manter Cristiane no comando da pasta pôde ser explicada na segunda fase da operação. Ela foi o principal alvo das ações deflagradas pela PF e pelo Ministério Público Federal. O material apreendido na fase anterior apontou que Cristiane indicou o servidor Renato Araujo Júnior, apontado como operador da propina no ministério. A parlamentar também é acusada de decidir sobre os registros sindicais.

Em nota, Cristiane Brasil afirmou que “reitera seu apoio total às investigações”, e destacou que “não tem ingerência sobre o ministro ou o ministério” e “espera que as investigações sejam concluídas o quanto antes para que fique provada sua inocência”.

Gestor precoce

Como se não bastassem os escândalos de corrupção, em março deste ano, mais uma polêmica recaiu sobre o Ministério do Trabalho. O protagonista das polêmicas do PTB foi um jovem de 19 anos, indicado para um cargo na pasta em que era o responsável por autorizar pagamentos de quase meio bilhão de reais com fornecedores. Os contratos gerenciados pelo adolescente giravam em torno de R$ 473 milhões.

Mikael Tavares Medeiros foi empossado em outubro de 2017 como coordenador de Documentação e Informação pelo então ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, do PTB. O salário inicial do jovem era de R$ 5,1 mil por mês. Mikael é filho de Cristiomario de Sousa Medeiros, delegado da Polícia Civil de Goiás e aliado de Jovair Arantes, o líder do PTB na Câmara dos Deputados. A mãe de Mikael é a diarista Luciana Tavares Dias, que figurava entre beneficiários do programa Bolsa-Família, para pessoas de baixa renda.

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Lobby forte

Leonardo Cavalcanti

06/07/2018

 

 

O deputado Nelson Marquezelli (PTB-SP) e o assessor parlamentar Jonas Antunes Lima — alvos da PF na operação Registro Espúrio, junto com o ministro do Trabalho, Helton Yomura — são conhecidos na Esplanada pelo lobby intransigente em favor dos donos de transportadoras. No sétimo mandato na Câmara, Marquezelli é também um dos maiores exportadores de suco de laranja no país.

Em abril de 2014, o Correio Braziliense flagrou — em vídeos e fotos — um grupo de 30 pessoas recebendo notas de R$ 20 e R$ 50 para ocupar as galerias da Câmara em defesa de projeto de ampliação da jornada de caminhoneiros. Conforme a reportagem da época, o repasse do dinheiro havia começado na chapelaria do Congresso, de onde o grupo se dirigiu ao gabinete de Marquezelli, de número 920, no 9º andar do Anexo IV da Câmara — a mesma sala onde ocorreu ontem a busca e apreensão de documentos pela Polícia Federal.

As ações de Marquezelli e do assessor Jonas Antunes Lima no Congresso e no Planalto já transformaram um simples projeto de lei de três artigos em um monstrengo de 69 páginas, boa parte delas com medidas de alto impacto nos custos dos transportes e no Tesouro. Uma dupla para lá de explosiva.