O globo, n. 30992, 14/06/2018. País, p. 3

 

De portas abertas

Bruno Góes e Catarina Alencastro

14/06/2018

 

 

Maia admite sair da disputa presidencial, e DEM acelera negociação com outros partidos

-BRASÍLIA- Com a pré-candidatura do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, prestes a sair de cena, como o próprio admitiu ontem, durante evento em Brasília, o DEM dá fôlego a três frentes de negociação com outros partidos para oferecer seu apoio nas eleições de outubro. Com uma bancada de 43 deputados e cobiçados 28 segundos de tempo de TV, pretende barganhar até o início das convenções de julho, quando terá de optar por um projeto a seguir.

A fragmentação das pré-candidaturas dos partidos do chamado campo de “centro” e o fraco desempenho de nomes tradicionais, como o do pré-candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, são os principais combustíveis para o leilão promovido pelo DEM. O partido conta com uma ala numerosa e importante que deseja a composição com os tucanos, aliados históricos nas urnas, mas reluta em firmar posição.

Ontem, Maia admitiu que, se tiver algum candidato de centro com boas chances de ir para o segundo turno, ele poderá desistir da pré-candidatura em julho.

— Se a gente tiver transparência no debate, eu não tenho problema nenhum de chegar no dia 30 de julho e entender que tem um caminho que tem mais viabilidade do que o meu. Se houvesse alguém nas pesquisas que tivesse clareza que ganharia no segundo turno, eu já teria desistido. Esse não seria o problema. Não vejo ninguém no nosso campo, neste momento, com capacidade de liderar — afirmou o deputado, que não perde de vista a chance de se reeleger e, eventualmente, construir uma possível reeleição ao comando da Casa em 2019.

Alckmin tem a agenda econômica e fiscal mais afinada com as lideranças da legenda. Mas não há nenhum acordo fechado porque o tucano patina nas pesquisas — o ex-governador teve entre 6% e 7% das intenções de voto na última pesquisa Datafolha — e teve sua candidatura questionada recentemente até mesmo dentro do PSDB. Ontem, em Santa Catarina, ele enviou mais um recado ao partido.

— O Democratas nós respeitamos. O Rodrigo Maia é um bom quadro da nova geração. Se pudermos estar juntos lá na frente, é tudo que queremos. A campanha vai começar mesmo depois do horário do rádio e da TV. Vamos ter os melhores palanques no Brasil — disse Alckmin, em Santa Catarina.

 

CONVERSAS COM CIRO, DIAS E JOSUÉ

Enquanto fica em cima do muro em relação ao projeto eleitoral tucano, o DEM abre negociações menos prováveis com o pré-candidato do PDT, Ciro Gomes, e com o pré-candidato do Podemos, Álvaro Dias. Até o PR, do ainda não declarado candidato Josué Gomes, empresário e filho do ex-vice-presidente José Alencar, figura nas especulações do DEM.

As negociações ocorrem em Brasília, na residência oficial da Câmara, onde Maia tem recebido caciques de diferentes siglas para analisar cenários e definir qual pré-candidato oferece mais vantagens. Enquanto o partido não se decide, a pré-candidatura de Rodrigo Maia — desacreditada até mesmo por seus aliados mais próximos — vem sendo usada como biombo para as negociações de alianças nos bastidores. Enquanto tiver um pré-candidato, o DEM livra seus quadros de terem que falar publicamente em potenciais alianças, como diz o presidente da sigla, o prefeito de Salvador (BA), ACM Neto:

— Nós temos hoje um pré-candidato, que é o Rodrigo. No entanto, não temos deixado de conversar com ninguém. Não há neste momento que se falar ainda que as conversas caminham nesta ou naquela direção. Mas se todo mundo quer conversar com o DEM, por que eu não vou conversar com todo mundo? — diz Neto.

Maia tem feito acenos às diferentes alas do partido, favoráveis à união com os tucanos ou com o candidato do PDT. O irmão de Ciro, Cid Gomes, principal articulador político da campanha, estava em Brasília ontem e marcou um jantar com Maia. Para a próxima semana, há tratativas para uma reunião do próprio Ciro com a cúpula do DEM e integrantes de outros partidos do chamado “centrão” — PRB, PP, PR e Solidariedade.

— Tem gente surtando (com a possibilidade de irmos de Ciro). Eu disse: “Calma, gente!” — ironizou Maia.

 

PAES É ENTUSIASTA DE CIRO

O ex-prefeito do Rio Eduardo Paes, agora principal parceiro de Maia no DEM fluminense, simpatiza com o projeto pedetista. Paes tem boas relações com Ciro há tempos e, por pouco, não entrou no PDT, na janela partidária deste ano. O ex-prefeito também lembra da lealdade de Ciro em 2016, quando anunciou publicamente seu apoio ao deputado Pedro Paulo na disputa pela prefeitura do Rio. ACM Neto também é mais um a despertar para a hipótese Ciro.

Uma eventual aliança com o DEM esbarra, no entanto, no próprio Ciro. No auge do mensalão, o pedetista chamou ACM Neto de “tampinha” e “anão moral”. Mendonça Filho, ex-ministro da Educação de Temer, defende fortemente a aliança com o PSDB e se mobiliza contra a aproximação com o PDT. Ele integra a ala do DEM que acha inconcebível apoiar um candidato de esquerda, que tenha feito tantas críticas a quadros do partido e que ainda padeça de um temperamento tão explosivo e imprevisível como Ciro. Recentemente, um fato que irritou os dirigentes do DEM foi a declaração do próprio Ciro de que a sua prioridade era ter uma aliança com PCdoB e PSB, para garantir “autoridade moral” de sua candidatura, e só então discutir o apoio do DEM.

Enquanto é cortejado por Alckmin (PSDB) e por Ciro, o DEM demonstra interesse na possível viabilidade eleitoral da candidatura do empresário Josué Alencar, do PR, e do pré-candidato do Podemos, Álvaro Dias. O senador paranaense disse que na conversa que teve com Rodrigo Maia, há algumas semanas, ele defendeu a possibilidade de uma convergência em torno do nome de centro que estivesse melhor posicionado.

— Não tem nenhuma definição (o DEM). No nosso encontro a ideia era analisar o quadro e sinalizar na direção de um projeto único — disse Dias.

No caso do empresário Josué Gomes, presidente da Coteminas, o DEM avalia sua viabilidade com o eleitor. A pedido do partido de Maia, Valdemar Costa Neto, presidente do PR, encomendou uma pesquisa para avaliar o potencial eleitoral do empresário mineiro.

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Com garantia de vice, sigla anuncia apoio a Doria para governo de SP

Dimitrius Dantas

 14/06/2018

 

 

Aliança pode estimular acordo nacional da legenda com os tucanos

Enquanto ainda decide o rumo que deve tomar na eleição presidencial, o DEM decidiu ontem compor com os tucanos na maior disputa regional do país. O partido de Rodrigo Maia anunciou que irá apoiar o ex-prefeito João Doria na corrida ao governo de São Paulo.

O partido chegou a conversar também com o atual governador, Márcio França (PSB), mas preferiu manter a tradicional parceria com o PSDB.

O anúncio oficial da aliança será realizado hoje, com a presença do presidente da Câmara Municipal, Milton Leite, e do líder do partido na Câmara Federal, Rodrigo Garcia, um dos principais apoiadores do DEM de São Paulo ao presidenciável do PSDB, Geraldo Alckmin.

Na articulação pelo apoio, ficou acertado que a vaga de vice no acordo liderado por Doria será do Democratas. Garcia, que chegou a ser pré-candidato do partido para disputar o Palácio dos Bandeirantes, deve ser agora o escolhido do tucano para compor sua chapa.

Doria e Márcio França vêm disputando o apoio dos principais partidos para as eleições de outubro. Nesta semana, o PP anunciou que irá fazer parte da coligação do socialista. O evento de formalização ocorrerá amanhã, um dia após a oficialização da parceria do tucano com o DEM. Os dois travam uma batalha nos bastidores para garantir a maior fatia do tempo de televisão. DEM e PP tradicionalmente atuavam em bloco em São Paulo, mas se separaram nesta eleição.

França, que assumiu o cargo após Geraldo Alckmin renunciar para a disputa da Presidência, tem como objetivo aumentar seu reconhecimento junto à população. O ex-prefeito, por sua vez, terá que superar a rejeição, sobretudo na capital paulista, após deixar a prefeitura com 15 meses no cargo.

Doria ainda mantém a esperança de contar com o apoio de outro postulante ao Palácio dos Bandeirantes, o presidente licenciado da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) Paulo Skaf, do MDB. Ele conta com sua interlocução junto ao presidente Michel Temer para convencer Skaf a abandonar a corrida pelo Palácio dos Bandeirantes e tentar uma vaga no Senado.

Enquanto Doria tem apoio fechado de outros três partidos — PRB, PSD e PTB —, Márcio França diz já fechado acordo com pelo menos 15 siglas, entre elas PR, SD, PPS, PROS, PSC e PP, este último confirmado na última semana.

O apoio do DEM a João Doria anima a pré-campanha presidencial de Alckmin, que também espera reunir o DEM em seu arco de aliança para disputar a sucessão de Michel Temer. Até Rodrigo Maia anunciar o rumo que tomará na disputa presidencial, os tucanos pretendem manter o namoro com os democratas na tentativa de repetir a aliança também na esfera federal.