O globo, n. 30969, 22/05/2018. País, p. 3

 

Temer sob pressão

Cristiane Jungblut

Robson Bonin

22/05/2018

 

 

MDB quer que presidente anuncie desistência da reeleição e abra caminho a Meirelles

Isolado dentro do MDB, o presidente Michel Temer participará hoje do lançamento do documento “Encontro para o futuro”, da Fundação Ulysses Guimarães, em Brasília, pressionado por seus colegas de partido a anunciar publicamente que não será candidato à reeleição. Estimulado por diferentes diretórios do MDB a lançar a pré-candidatura do ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, Temer se mantinha, até ontem à noite, reticente em decretar o fim de sua carreira política.

Presidente mais impopular da história, com apenas 7% de aprovação, Temer tornou-se um fardo para os colegas de partido que disputarão as eleições de outubro. Decretar o fim das aspirações eleitorais do presidente e relegar seu governo ao passado é o desejo da maioria dos líderes do MDB, que pretendem levar aos holofotes a pré-candidatura de Meirelles como uma tentativa de tirar de cena o governo Temer a seis meses do fim. O presidente do MDB, senador Romero Jucá (RR), formatou o encontro da Fundação para forçar uma aclamação de Meirelles. Daí a intenção da cúpula do partido de usar o documento para discutir propostas para o futuro. Até ontem à noite, estava prevista uma fala de Temer no evento sobre economia, mas havia dúvida sobre o anúncio da desistência presidencial.

LARGADA DE NOVA CANDIDATURA

Há dez dias, O GLOBO revelou os bastidores da conversa que Temer teve com Meirelles no Palácio da Alvorada, em que confirmou ao aliado a intenção de não disputar as eleições. A demora em oficializar a decisão, no entanto, passou a provocar o descontentamento das lideranças do MDB. As articulações para convencer o presidente a anunciar o apoio a Meirelles se estenderam por todo o dia de ontem. Enquanto Temer ouvia seus ministros mais próximos, como o chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, e o ministro de Minas e Energia, Moreira Franco, contrários ao anúncio por considerar que ele precipitaria o fim político do governo, integrantes do parlamento articulavam para pressionar Temer a fazer o anúncio.

Pela manhã, Meirelles foi à sede da Fundação Ulysses Guimarães, no Lago Sul, para uma conversa com o coordenador do projeto eleitoral de Michel Temer, o secretário-executivo da Fundação Ulysses Guimarães, João Henrique de Almeida Sousa. O encontro, segundo revelou ao GLOBO uma fonte palaciana, terminou com o entendimento de que seria necessário convencer o presidente a desistir.

— Amanhã, você fala como candidato, que eu vou convencer o presidente a anunciar o seu nome — disse João Henrique a Meirelles.

Temer foi avisado de que os parlamentares do MDB querem que ele desista oficialmente de sua candidatura, durante o evento de hoje, e que o partido dê a largada na candidatura de Meirelles. Ontem, a bancada do Senado reagiu mal à informação de que Temer não desistiria com todas as letras, para manter o controle das negociações. Houve irritação com o núcleo palaciano, que está aconselhando Temer a não ter pressa.

ATÉ MARUN FALA EM MEIRELLES

Depois de participar de um ato político em favor da candidatura de Meirelles no Mato Grosso do Sul, no fim de semana, a líder do MDB no Senado, Simone Tebet (MS), disse ontem que o partido não pode mais esperar para lançar o nome do exministro. Os defensores da candidatura de Meirelles avaliam que é preciso dar tempo ao ex-ministro para ver se sua candidatura decola nas pesquisas até as convenções de julho. A indefinição de Temer só atrapalharia esse propósito.

— Houve a pressão de alguns ministros para que o presidente não oficializasse a sua não candidatura. Acredito que o presidente deve ter se convencido de que não dá mais para esperar. Já sabemos que ele não é candidato. Se ele não oficializa isso, daqui a pouco não se consegue viabiliOntem Tempo ruim. Temer hesita em abrir mão oficialmente da candidatura à reeleição para não abreviar fim do governo zar uma candidatura — disse Simone Tebet.

O apoio ao nome de Meirelles vem crescendo nos últimos dias. Espécie de porta-voz de Temer, o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marum, praticamente anunciou a candidatura do ex-ministro durante o evento no Mato Grosso do Sul, no último sábado.

— Vamos fazer barba, cabelo e bigode. (Waldemir) Moka senador, André (Puccinelli) governador e, quem sabe, Meirelles, o nosso presidente da República — discursou o ministro.

à noite, o ex-ministro da Fazenda foi a Belo Horizonte e voltou a colher manifestações favoráveis de emedebistas ao seu nome.

— Se você for o candidato do MDB, Minas estará com você — disse Toninho Andrade, vicegovernador de Minas Gerais e pré-candidato ao governo nas prévias do MDB.

— Meirelles é o nosso candidato. Você ajudou a dar rumo ao país — disse Leonardo Quintão, outro pré-candidato nas prévias do MDB ao governo mineiro.

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Economia não se confirma como plataforma

Martha Beck

22/05/2018

 

 

Projeção do PIB é reduzida, dólar dispara e queda da taxa de juros estaciona

Quando deixou o Ministério da Fazenda no início de abril para tentar se tornar o candidato do governo ao Palácio do Planalto, Henrique Meirelles considerava a virada do quadro econômico, com a volta do crescimento e a queda da inflação, como um de seus trunfos para conquistar apoio no MDB e votos nas urnas. De lá para cá, no entanto, a situação já não é mais a mesma.

Na mesma semana em que Meirelles tenta convencer o partido do presidente Michel Temer a lançá-lo como candidato o mais rápido possível, a equipe econômica vai reduzir sua projeção para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). O número oficial é de 3%, mas cairá para algo entre 2,5% e 2,3%. E essa ainda será uma projeção otimista, pois o mercado já caminha para um número próximo de 2%.

Ao mesmo tempo, a deterioração do mercado externo fez o dólar disparar nos países emergentes, levando o Banco Central a interromper sua estratégia de redução dos juros. Na semana passada, a autoridade monetária encerrou um ciclo de 12 quedas sucessivas na taxa Selic, estacionando o número em 6,5% ao ano.

O mercado de trabalho também não tem um cenário que dê para ser comemorado em campanha eleitoral. O IBGE informou na semana passada que 4,6 milhões de brasileiros estão em situação de desalento, ou seja, pararam de procurar emprego porque não acreditam em oportunidades profissionais.

Tudo isso, num momento em que a pauta econômica não evoluiu no Congresso. A privatização da Eletrobras — principal item da agenda que foi colocada no lugar da reforma da Previdência — enfrenta resistências no Legislativo. E mesmo projetos que o governo considerava que não teriam dificuldade junto aos parlamentares, como o do Cadastro Positivo, ainda não foram aprovados. O texto base do Cadastro Positivo já recebeu o aval do plenário da Câmara, mas ainda falta votar destaques que podem desfigurar completamente a proposta.