O globo, n. 30969, 22/05/2018. País, p. 4

 

Em novo aceno a ruralistas, Bolsonaro ataca sem-terra

Jeferson Ribeiro

22/05/2018

 

 

Para ele, MST e MTST são ‘terroristas’; Boulos cita uso de auxílio-moradia

O pré-candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro, defendeu ontem que invasões de propriedades privadas feitas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) devem ser tratadas criminalmente como atos de terrorismo.

— Nós temos que tipificar como terroristas as ações desses marginais (do MST e do MTST) — atacou Bolsonaro, que fez palestra para centenas de empresários na Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ).

Para ouvir o pré-candidato, que pouco falou sobre como pretende resolver os problemas econômicos do país, cada empresário desembolsou R$ 220 caso não fosse associado à ACRJ. Sócios tinham que investir R$ 180. Cerca de 300 ingressos foram vendidos.

— Propriedade privada é privada. É sagrado e ponto final. Invadiu, garantindo que é ato ilegal, chumbo — pregou o deputado, sob aplausos.

O argumento de criminalização dos movimentos sociais é mais um passo no discurso conservador do pré-candidato do PSL, que tem defendido a revisão do estatuto do desarmamento e, na semana passada, prometeu que daria “um fuzil” a cada produtor rural para que eles se defendessem da violência no campo e das invasões dos sem-terra.

MEIO AMBIENTE SEM MINISTÉRIO

Bolsonaro disse que é preciso ser “radical” em casos desse tipo. Ele classificou os militantes do MST e do MTST como “vagabundos e marginais”.

— Esse exército do PT (o MST) são (sic) vagabundos e marginais, não produzem nada. Esse pessoal tem que ser tratado como terrorista e ponto final — vociferou.

O MST disse, por meio da assessoria, que não iria responder aos ataques para “não entrar na agenda de discussão do Bolsonaro”. Já o pré-candidato do PSOL à Presidência e líder do MTST, Guilherme Boulos, reagiu aos ataques:

— Bolsonaro deveria seguir o conselho dos seus marqueteiros e ficar calado. Terrorista é quem foi “aposentado” pelo Exército brasileiro por planejar explodir um quartel. Além disso, vagabundo é quem recebe auxílio-moradia tendo casa própria — disse Boulos, por meio da assessoria, lembrando o benefício recebido pelo deputado federal.

O deputado, que é capitão da reserva, também defendeu, durante sua palestra no Rio, que a Segurança Pública também exige ações violentas das autoridades.

— A questão da violência se combate com inteligência, com energia e, em alguns casos, com mais violência ainda. Quem achar que estou errado, está cheio de pré-candidato aí querendo continuar com o politicamente correto. Vão continuar defendendo essa pauta de direitos humanos, audiências de custódia. Eu não quero que ninguém sofra, mas o objetivo do xadrez é tirar o marginal do convívio nosso — argumentou Bolsonaro.

Em outro aceno aos ruralistas, o deputado voltou a dizer que quer acabar com o Ministério do Meio Ambiente e deixar as questões ambientais no Ministério da Agricultura. Na avaliação do parlamentar, há exagero nas demarcações de terras indígenas no país.

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Em disputa, a conquista do ‘homem do campo’

22/05/2018

 

 

Na semana passada, Geraldo Alckmin prometeu dar armas a agricultores

Adefesa da criminalização do MST e do MTST, feita ontem, no Rio, pelo pré-candidato do PSL à Presidência, deputado Jair Bolsonaro, é mais um lance da disputa que ele tem travado com o pré-candidato do PSDB, o ex-governador Geraldo Alckmin, pelo eleitorado conservador. Os produtores rurais estão no centro desse debate.

Na semana passada, após ver Bolsonaro dizer que daria “um fuzil” para cada agricultor numa feira agrícola, em Brasília, o tucano ajustou o discurso para atrair o eleitorado do campo, que tem reclamado do aumento da violência e das constantes invasões de terras produtivas.

Alckmin foi à feira em Brasília horas depois do deputado, na terça-feira passada, e disse que preferia doar tratores aos agricultores. No dia seguinte, mudou o discurso.

— Porte de arma pode ter na área rural. Até deve ser facilitado, porque as pessoas estão mais distantes (dos grandes centros) — afirmou o tucano.

Ontem, Bolsonaro ironizou o adversário:

— Quero cumprimentar o Geraldo Alckmin. Falei a todos do agronegócio que ia dar fuzis para eles. Ele falou que ia dar trator. Produtor rutal não quer esmola, bolsatrator. No dia seguinte, ele mudou de ideia e disse que vai estudar dar armas para o homem do campo. Parabéns, o santo é ele, mas quem está fazendo milagre sou eu — disse, arrancando risos da plateia.

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Ciro: deputado do PSL é ‘candidato a ditador’

Luís Lima

Sérgio Roxo

22/05/2018

 

 

Pedetista diz que Bolsonaro nunca administrou ‘sequer um boteco’

O pré-candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes, disse ontem que o deputado Jair Bolsonaro (PSL), concorrente na disputa pelo Planalto, é o adversário “menos difícil” de se enfrentar porque nunca administrou “sequer um boteco”. Segundo Ciro, o parlamentar é “despreparado” e “candidato a ditador”, mas representa uma “grande ameaça, pelo extremismo”.

Bolsonaro aparece na liderança das pesquisas de intenção de voto nos cenários sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), preso em Curitiba.

— A rigor, gostaria muito de enfrentá-lo no segundo turno, pois me parece o candidato menos difícil de ser derrotado, pela inexperiência, pelo despreparo, porque não conhece o Brasil — acrescentou.

Para o pedetista, o pré-candidato do PSL tem “soluções muito toscas” para os problemas que são apresentados.

— Como todo fascista, ele (Bolsonaro) tem muita dificuldade com o antagonismo, com a crítica. Portanto, é a promessa certa de uma crise, de rupturas. Sabe-se lá para que caminho vai — disse Ciro, durante sabatina promovida por UOL, SBT e “Folha de S.Paulo”.

Em entrevista ao final da sabatina, Ciro afirmou, porém, que se vê no segundo turno com o tucano Geraldo Alckmin:

— Ele (Alckmin) é mais difícil, porque é uma pessoa mais qualificada. O Bolsonaro é um extremista caricato. O Brasil precisa se proteger do risco de um fascistoide.

O pedetista afirmou que acredita na chance de ter uma boa relação com o PSDB, caso seja eleito presidente, desde que o ex-prefeito João Doria, a quem chamou de “picareta”, não assuma o controle do partido:

— O PSDB está em transição. Se o PSDB em transição afirmar-se em direção do Alckmin, não tenho a menor dúvida que o espírito público presidirá a relação do partido com o poder brasileiro em um eventual governo meu. Se a hegemonia transitar para um picareta como Doria, aí você vai ver o PSDB virar um partido de picaretas, pura e simplesmente.

Segundo ele, no entanto, uma aliança com os tucanos na eleição está fora de cogitação, devido à “agenda antipovo e antinacional” da sigla. Ciro disse ainda que reconhece o risco de não entregar tudo que vem prometendo nos seis primeiros meses de mandato, mas ressaltou que esse será o seu objetivo, caso ganhe a eleição, para evitar o chamado estelionato eleitoral:

— Temo que não consiga entregar, mas todo mundo vai me ver agarrado com a tentativa de entregar. Porque não sou candidato a ditador do Brasil, candidato a ditador é o Bolsonaro.

PT VAI LANÇAR LULA

Também ontem, o deputado Wadih Damous (PT-RJ) disse que o PT vai lançar a pré-candidatura de Lula à Presidência no domingo, 27. Segundo o parlamentar, que ontem visitou o expresidente na prisão, a data foi escolhida por Lula. A ideia do partido é fazer o lançamento em um evento no Nordeste e, depois disso, elaborar um calendário de atos políticos nas capitais. A decisão de anunciar Lula como pré-candidato ocorre no momento em que governadores do partido começam abandonar o projeto lulista em nome de um plano B.