Correio braziliense, n. 20189, 30/08/2018. Política, p. 3

 

Bolsonaro é alvo de outros candidatos

Rodolfo Costa e Antonio Temóteo

30/08/2018

 

 

O candidato do PSL, Jair Bolsonaro, se tornou de vez o alvo dos ataques dos principais presidenciáveis. Ontem, em sabatina organizada pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Geraldo Alckmin (PSDB), Henrique Meirelles (MDB), Alvaro Dias (Podemos) e Marina Silva (Rede) dispararam críticas veladas ao deputado federal ou a propostas sustentadas por ele, como a liberação do porte de armas de fogo.

Os comentários dos postulantes foram estratégicos. Afinal, Bolsonaro tem um forte apoio de ruralistas de norte a sul do país e lidera as pesquisas em todos os cenários sem a participação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso e inelegível pela Lei da Ficha Limpa. A defesa dele na liberação de armas como mecanismo de reforço para a segurança no campo é bem-visto por grandes empresários. Esse, por sinal, foi um dos motivos pelo qual Ciro Gomes, candidato do PDT, não compareceu à sabatina. O pedetista justificou a ausência alegando que parte da diretoria da CNA defende ideias das quais ele discorda. A vice dele, a senadora Kátia Abreu (PDT-TO), foi presidente da entidade e se queimou com a diretoria após votar contra o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.

As mais duras críticas a Bolsonaro foram feitas por Meirelles. Em resposta às declarações do deputado de que policial que mata “10, 15 ou 20” deve ser condecorado, ditas em sabatina ao Jornal Nacional, o emedebista classificou a colocação como “selvageria”. “O momento em que nós vamos condecorar militares, seja policial militar, seja militar que mata bandido sem julgamento, vamos instaurar a selvageria”, criticou.

A retórica foi endossada por Marina. A presidenciável sustenta que segurança pública é uma obrigação do Estado. “Não se pode achar que vamos combater violência distribuindo armas para as pessoas. Desse jeito é muito fácil se eleger presidente em uma situação em que a segurança pública está um caos e dizer para a população ‘compre uma arma e defenda sua família, sua vida, sua propriedade’”, criticou. Alvaro não se mostrou totalmente contrário ao porte de armas: defendeu uma flexibilização, mas com ressalvas. “Não é com revólver na cinta que vamos resolver o problema de segurança no país”, avaliou.

Sem citar Bolsonaro, Alckmin afirmou que o Brasil não precisa de “showmen” no comando do país ou candidatos que apostam no “berro” ou que deem “murro na mesa”. No entanto, sinalizou ser favorável à posse de arma “facilitada” no campo. “Sou favorável a ter na área rural porte de arma facilitado”, admitiu. Bolsonaro foi convidado para a sabatina, mas não compareceu.

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Nada de  "Jairzinho paz e amor"

30/08/2018

 

 

O candidato do PSL, Jair Bolsonaro, afirmou que não será “Jairzinho paz e amor” nesta disputa presidencial. Bolsonaro fez referência ao slogan criado por Luiz Inácio Lula da Silva na campanha vitoriosa na eleição de 2002. O presidenciável participou de uma agenda em Porto Alegre, quando afirmou também que o país está “cansado do politicamente correto”. Ele chegou às 10h, ao Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, sendo recebido por centenas de apoiadores. De um carro de som,  agradeceu os presentes e afirmou que, se eleito, irá “varrer a corrupção do Brasil”. “Eles podem me chamar de tudo, menos de corrupto”, discursou.

Bolsonaro esteve no Rio Grande do Sul, onde visitou a Expointer, em Esteio, e se reuniu com empresários ligados ao agronegócio no estado. Perguntado pela organização do evento sobre sua estratégia para o segundo turno, ele criticou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). “Não vou ser o Jairzinho paz e amor. As cartas estão na mesa. O FHC reiterou que, num possível segundo turno, se aliaria ao PT”, disse. “Quero agradecer o Fernando Henrique, que disse que se unirá com o PT para me derrotar. FHC, continue com sua marcha para liberar a maconha, porque não haverá segundo turno.”

O capitão também comentou sobre a entrevista dada ao Jornal Nacional, da TV Globo, na terça-feira. Nele, o candidato do PSL discutiu com os apresentadores sobre temas como suas declarações relacionadas a gays, mulheres e direitos trabalhistas. Segundo ele, a entrevista no horário nobre da Globo “quase garantiu sua presença no segundo turno”. “A entrevista me deu uma exposição enorme, já que não vou ter tempo de tevê”, disse.

Repercussão

As declarações de Bolsonaro têm repercutido fora do país. Ontem, Zeid Al Hussein, alto comissário da Organização das Nações Unidas (ONU) para Direitos Humanos, disse que discursos como o do candidato do PSL à Presidência podem representar “um perigo” para certas parcelas da população no curto prazo e para “o país todo” a longo prazo. “Ao dar uma resposta simplista e tocando nas emoções naturais das pessoas — e talvez olhando para uma liderança mais forte, firme — é uma combinação que é bastante poderosa”, disse Zeid. “O perigo é que isso venha às custas de um certo grupo no curto prazo e, no longo prazo, de todo o país”, afirmou.