Título: Um Brizola na Esplanada
Autor: Correira, Karla; Braga, Juliana
Fonte: Correio Braziliense, 01/05/2012, Política, p. 06
Depois de quase cinco meses da novela em torno da substituição do pedetista Carlos Lupi no comando do Ministério do Trabalho, a presidente Dilma Rousseff oficializou ontem o retorno da pasta para as mãos do PDT, mas com um nome que está longe de representar um consenso na legenda. Escolhido por Dilma, o deputado Brizola Neto (RJ) chega ao ministério com o apoio das centrais sindicais, sobretudo da Força Sindical, mas enfrentando uma dura resistência da bancada pedetista no Congresso.
“Há um enorme desconforto na bancada com a escolha de um nome que não tem trânsito no partido e não representa uma escolha da legenda”, diz o deputado Giovanni Queiroz (PDT-PA). A ala de insatisfeitos da sigla reclama não ter sido recebida pela presidente para discutir as opções para o ministério. “A presidente não pode querer que assuma um nome definido por ela nessas condições. Essa atitude atrapalha a relação com a bancada, é uma intromissão indevida em uma escolha que deveria ser do partido”, reclama o deputado.
Brizola Neto foi um dos líderes do movimento que, no início do ano, se opôs ao retorno de Lupi à Presidência do PDT, depois do escândalo envolvendo contratos entre o Ministério do Trabalho e organizações não governamentais que acabou levando à queda do antigo titular da pasta. O ex-ministro reassumiu o comando do partido mostrando que as sequelas do embate com Brizola Neto estavam longe de serem superadas. Em março, vetou o primeiro convite feito por Dilma ao herdeiro político de Leonel Brizola para assumir o ministério. Reforçou a indicação de seu aliado, o secretário-geral do PDT, Manoel Dias, e abriu a possibilidade de indicação do deputado Vieira da Cunha (PDT-RS).
A escolha de Brizola Neto aprofunda as fissuras internas na legenda. A saída da base aliada, contudo, é vista como uma hipótese distante por deputados da bancada. “O voto do PDT é ideológico, já votamos contra o governo em matérias que não se alinhavam com os princípios do partido”, lembra o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ). Ele cita como exemplos a criação do Fundo de Previdência Complementar dos Servidores Públicos Federais (Funpresp) e o novo Código Florestal. “Não será um ministério que vai mudar esse comportamento”, diz Miro.
Sem consulta
Aconselhada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a não deixar passar o feriado do Primeiro de Maio com o ministério na interinidade, Dilma deixou claro que não submeteria pela segunda vez sua escolha ao crivo do partido. Enquanto a presidente conversava com Lupi, ontem pela manhã, Brizola Neto já esperava pela reunião com Dilma no Palácio do Planalto. No entendimento dos pedetistas, o presidente da legenda foi comunicado da escolha de Brizola Neto, não consultado.
O ministro Gilberto Carvalho foi destacado para participar da conversa com o presidente do PDT por conta de sua participação nas negociações com as centrais sobre o novo ministro. Para o deputado Paulo Rubem Santiago (PDT-PE), o apoio dos sindicalistas foi crucial na escolha de Brizola Neto. “As centrais sindicais saíram da toca e sinalizaram claramente a preferência por ele”, diz o deputado. O novo ministro defende a transferência da prerrogativa de criar novos sindicatos, hoje pertencente à Secretaria de Relações do Trabalho do Ministério do Trabalho, para uma comissão tripartite formada pelas entidades sindicais. Com posse marcada para a próxima quinta-feira, Brizola Neto participa hoje em São Paulo do ato em comemoração ao Dia do Trabalho, promovido pelas centrais.
Perfil
Linhagem pedetista
Nascido em Porto Alegre (RS), Carlos Daudt Brizola mudou-se com a família para o Rio de Janeiro (RJ) em 1982, quando seu avô, Leonel Brizola, foi eleito para o governo fluminense. Criado na capital fluminense, apaixonou-se pelo surfe e a prática do esporte, e integrou o projeto Favela Surf Club, que ensina crianças e adolescentes das comunidades do Cantagalo e Pavão-Pavãozinho a fabricar pranchas e “pegar onda”.
Aos 16 anos, o jovem surfista da Zona Sul passou a dividir seu tempo entre a escola, a praia e a função de secretário particular do avô. O emprego lhe permitiu acompanhar de perto a vida partidária de Leonel Brizola e acabou atraindo-o para a política, a exemplo de seus dois irmãos, os gêmeos Leonel Brizola Neto e Juliana Brizola. Carlos, que passou a assinar como Brizola Neto, filiou-se ao PDT três anos depois, aos 19 anos, mas só foi conquistar um cargo eletivo em 2004 — ano da morte do seu avô — ao se eleger vereador pelo Rio.
O sobrenome de peso, a convivência com Brizola e o trânsito no meio do eleitorado, por conta dos projetos sociais, facilitaram a eleição de Brizola Neto para deputado federal em 2006. Na Câmara, foi líder da legenda em 2009 e 2010, mas retornou à Casa em 2011 como suplente do deputado Sérgio Zveiter (PSD-RJ), que deixou o cargo para assumir a Secretaria de Trabalho e Renda do governo do Rio.
Com a crise política que tirou por cinco meses o comando do Ministério do Trabalho das mãos do PDT, Brizola Neto despontou como uma liderança contrária ao ex-ministro da pasta e presidente da legenda, Carlos Lupi, e tomou espaço do adversário em sua base eleitoral, ao ser eleito presidente do Diretório Metropolitano do PDT no Rio, em março deste ano.