O globo, n. 30984, 06/06/2018. País, p. 4

 

Alckmin acusa aliados de corpo mole na campanha

Silvia Amorim 

06/06/2018

 

 

Irritado, ex-governador chegou a sugerir a líderes que o substituam

-SÃO PAULO E BRASÍLIA- O pré-candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, manifestou de forma dura o descontentamento com o corpo mole dentro do partido, especialmente em São Paulo, estado que governou por sete anos. E admitiu que sua campanha apresenta desempenho negativo até o momento. Em um jantar com lideranças tucanas na capital paulista, anteontem, o tucano chegou a sugerir, em tom de desabafo, que a legenda poderia substituí-lo, caso não estivesse satisfeita. O resultado foi imediato. Ontem mesmo, a bancada do PSDB da Câmara fez uma verdadeira fila para gravar mensagens de vídeo, de 20 a 30 segundos de duração, em apoio ao colega.

A reunião em São Paulo havia sido marcada pelo presidenciável para discutir questões de organização para as eleições estaduais e nacional. Mas acabou servindo para uma ampla avaliação da campanha. E para uma discussão sobre mudanças de rumo e cobranças pela definição de um coordenador político de peso. Bastante nervoso e mostrando cansaço, Alckmin, segundo os presentes, “explodiu”.

— Eu estou fazendo tudo que posso, estou andando, viajando sem parar, resolvendo problema de Minas Gerais, Maranhão. O que vocês querem que eu faça mais? O PSDB me escolheu como candidato, preciso de ajuda nos estados — desabafou Alckmin.

Um dos presentes avalia que Alckmin está nervoso por causa de delações que podem impactar sua campanha, e pela divulgação de pesquisas em que aparece atrás de Marina Silva e Ciro Gomes.

— Nós falamos que é preciso ele ter um coordenador político para tomar conta das articulações. Ele não pode fazer tudo sozinho. O pessoal vê a estrutura de campanha do (João) Doria em São Paulo azeitada, muito bem estruturada, com uma equipe de comunicação que funciona, e olha para a campanha nacional e não vê nada disso, cobra — disse um dos presentes.

Alckmin acredita que as lideranças nos estados estão fazendo campanha apenas com foco regional, esquecendo do cenário nacional. E revelou temor com o avanço de Jair Bolsonaro em seu eleitorado tradicional. Na visão de aliados que participaram do jantar, o pré-candidato não deu sinais de que cogite desistir da candidatura, apesar da irritação com a falta de apoio interno.

A conversa em um apart-hotel começou em tom bastante informal, regada a pizza. Elogios a Alckmin eram alternados com reclamações sobre a preparação do partido. Entre as queixas, ouviu que negociações de alianças estaduais estariam correndo de forma frouxa, o que estaria permitindo que partidos aliados lançassem candidaturas a governador onde o PSDB teria candidato próprio. Falta de interlocução nas diversas regiões também foi apontada como uma falha, assim como a exposição do presidenciável, considerada abaixo do esperado. O financiamento das campanhas também entrou no cardápio do jantar.

O próprio Alckmin disse que é preciso esperar o fim da Copa do Mundo e que tem como meta fechar uma aliança com o DEM. Ele mantém o tom otimista, de que estará no segundo turno contra um candidato do PT. E avalia que Bolsonaro cairá nas pesquisas depois de iniciada a campanha eleitoral.

— O Geraldo é assim, tem o passinho dele. É preciso saber traduzir o Geraldo — disse um dos seus conselheiros.

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Políticos de centro lançam frente contra ‘radicalismo’

06/06/2018

 

 

Grupo é formado por integrantes de sete partidos e conta com apoio de FH

-BRASÍLIA- Parlamentares lançaram ontem, na Câmara dos Deputados, o “Manifesto por um polo democrático”, documento que conclama as forças “reformistas” a se unirem durante a disputa eleitoral deste ano. O movimento, idealizado pelo senador Cristovam Buarque (PPS-DF) e pelo secretário-geral do PSDB, Marcus Pestana (MG), ganhou o apoio do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e de cientistas políticos. A ideia é criar um canal de diálogo com pré-candidatos e consolidar um grupo de oposição a candidaturas consideradas por eles “radicais”, como as de Jair Bolsonaro (PSL), Ciro Gomes (PDT), Guilherme Boulos (PSOL) e Manuela D’Ávila (PCdoB).

Com o crescimento nas pesquisas de Jair Bolsonaro e a desarticulação do centro, o propósito é aglutinar forças e dar sustentação a um candidato do que chamam “campo democrático". Assinaram o manifesto, entre outras pessoas, 16 deputados e um senador de sete partidos (PSDB, PPS, DEM, PTB, PV, PSD e MDB). No fim do ato, o deputado Betinho Gomes (PSDB-PE) leu uma mensagem do ex-presidente Fernando Henrique:

— O Brasil precisa recuperar a confiança no seu futuro. Não chegaremos lá voltando ao passado do autoritarismo ou ao passado mais recente do lulopetismo. O país precisa da convergência das forças políticas que possam ter propósitos semelhantes — diz a mensagem de FH.

O ex-presidente argumenta que está em jogo “a recuperação da legitimidade democrática da autoridade pública ou a desorganização política, econômica e social do país”. No ato, o presidente do PPS, Roberto Freire, desenvolveu pensamento parecido ao comentar as reações à greve dos caminhoneiros. Segundo ele, assistiu-se, nas últimas semanas, a “uma simbiose do petismo com o bolsonarismo”, pois “as duas forças se uniram ao locaute” e demonstraram “descompromisso com a democracia”.

Marcus Pestana diz que o grupo vai dialogar com os précandidatos Rodrigo Maia (DEM), Marina Silva (Rede), Álvaro Dias (Podemos), Geraldo Alckmin (PSDB), Flávio Rocha (PRB), Paulo Rabello de Castro (PSC) e João Amoêdo (Novo). Um site também será criado para divulgar os propósitos do grupo.

No documento, são listados 17 compromissos assumidos pelos signatários. Entre os pontos, estão a “defesa intransigente da liberdade e da democracia”, a “luta contra todas as formas de corrupção”, “a busca incansável do equilíbrio fiscal”, a reforma do “sistema previdenciário injusto e insustentável” e “o combate a todas as formas de autoritarismo e populismo”.

“Tudo que o Brasil não precisa, para a construção de seu futuro, é de mais intolerância, radicalismo e instabilidade”, diz o texto.

À frente do movimento, Cristovam Buarque diz que o momento é muito ruim para o país, pois a população está inclinada a “votar com raiva” e que é preciso tomar cuidado com as escolhas políticas.