O Estado de São Paulo, n.45572 , 26/07/2018. Política, p.A9

Entidade do MP critica Ciro, que fala em ‘intriga’

Gilberto Amendola

Rita Soares

 

 

Em entrevista a uma emissora de televisão, presidenciável do PDT defende pôr Judiciário na “caixinha” e soltar o ex-presidente Lula

 

ESPECIAL PARA O ESTADO ANANINDEUA (PA)

Magistrados, promotores e procuradores de Justiça criticaram ontem as declarações do pré-candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes, que disse ser necessário “restaurar a autoridade do poder político”, fazendo com que juízes e o Ministério Público voltassem para suas “caixinhas”. O presidenciável se defendeu dizendo que suas declarações foram tiradas de contexto para gerar intrigas.

Em nota, o presidente da Associação Nacional dos Membros do Ministério Público (Conamp), Victor Hugo Palmeiro de Azevedo Neto, disse que o presidenciável “feriu de morte” a Constituição brasileira ao também afirmar que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva só terá chance de sair da cadeia se ele assumir o poder.

“Além de revelar grave ameaça, as palavras do pré-candidato são consideradas um ataque à instituição, à sociedade e ao Estado Democrático de Direito, ferindo de morte a Constituição Federal que deu autonomia e independência ao Ministério Público, e reservou-lhe a função de defender a ordem jurídica, a democracia e de garantir a efetividade dos direitos sociais e individuais”, disse.

Ao participar da quinta edição do Fórum Estadão da série A Reconstrução do Brasil, realizado ontem, o desembargador do Tribunal Regional Federal da 3.ª Região, Fausto De Sanctis, disse, sem citar especificamente o episódio, que “isso faz parte da reação de parte da política ao trabalho de juízes independentes. O mundo político precisa entender que o país precisa e quer trilhar outro caminho.”

As declarações de Ciro foram dadas em entrevista ao programa Resenha, da TV Difusora, no Maranhão, no dia 16 deste mês, e publicada ontem pelo Estado. “(Lula) Só tem chance de sair da cadeia se a gente assumir o poder e organizar a carga. Botar juiz para voltar para a caixinha dele, botar o Ministério Público para voltar para a caixinha dele e restaurar a autoridade do poder político”, afirmou.

Em Ananindeua (PA), Ciro Gomes se defendeu das críticas. “Quando eu disse a gente, eu não quis dizer eu. Quis dizer os democratas, os que têm compromisso com o Estado democrático de direito, com o restabelecimento da autoridade, do império da lei que, no Brasil, parece estar completamente deformada”.

Segundo ele, o termo “caixinha” foi uma figura de linguagem usada para explicar que Judiciário e MP “não podem se meter em tudo”.

“É uma expressão que todo mundo conhece. Só a fraude tenta fazer esse tipo de intriga. No Brasil, está cada um trabalhando fora da sua caixa.”

 

Pedetista

Após frase polêmica, Ciro afirmou que ‘caixinha’ foi uma figura de linguagem