Correio braziliense, n. 20188, 29/08/2018. Brasil, p. 5

 

Exército em Roraima

Rodolfo Costa

29/08/2018

 

 

CRISE MIGRATÓRIA » Presidente Temer assina decreto para que militares atuem com poder de polícia na fronteira do estado com a Venezuela

Pressionado após a saída de Romero Jucá (MDB-RR) da liderança do governo no Senado, o presidente Michel Temer assinou, ontem, decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) em Roraima. O texto permite que as Forças Armadas atuem com poder de polícia no reforço às faixas de fronteira Norte e Leste com a Venezuela, numa área de 150km. Os militares também estarão em rodovias federais que atravessam o estado.

De acordo com o ministro da Defesa, Joaquim Silva e Luna, o texto tem prazo de validade de duas semanas, até 12 de setembro, mas o governo avaliará a necessidade de prolongar ou não a ação das Forças Armadas no estado. “Havendo a necessidade, o presidente fará uma nova avaliação, se é o caso de continuar ou não”, declarou.

O reforço inicial será capitaneado pelo Exército, por meio da 1ª Brigada de Infantaria de Selva, localizada em Boa Vista. Segundo Luna, a tropa já está posicionada. “Vamos pensar a partir de agora o planejamento”, afirmou.

A medida foi tomada para “complementar” as ações humanitárias promovidas pelo governo no estado, sobretudo em Pacaraima e em Boa Vista, destacou Temer. “Já oferecemos, como sabem todos, atendimento médico e assistência social em abrigos que recebem as famílias de imigrantes em fluxos cada vez mais intensos”, declarou, em pronunciamento no Palácio do Planalto.

O presidente destacou, ainda, a promoção do processo de interiorização para minimizar os impactos do “desastre humanitário” causado pelo governo do país vizinho. “A onda migratória em Roraima é resultado das péssimas condições de vida a que está submetido o povo venezuelano”, analisou. Somente ontem, cerca de 200 imigrantes foram encaminhados para Manaus, João Pessoa e São Paulo.

A utilização das Forças Armadas ajuda, mas não resolve o problema, ponderou Romero Jucá. O parlamentar ressalta que a GLO garante apenas patrulhamento nas ruas, mas não o controle da segurança pública no estado. Nas redes sociais, ele não declarou explicitamente o desejo de uma intervenção federal nos moldes do Rio de Janeiro, mas frisou que o efetivo não resolve todos os problemas.

“A GLO não quer dizer controle das penitenciárias e das investigações. Não quer dizer nenhum tipo de ação que tenha consequência no processo de aplicação da lei. Simplesmente, é um sistema de garantia inicial por meio de rondas e da presença militar”, declarou o senador.