Título: Dinheiro guardado em paraísos fiscais
Autor: Valadares, João; Mascarenhas, Gabriel
Fonte: Correio Braziliense, 11/05/2012, Política, p. 3
A organização criminosa comandada pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira tinha um braço internacional bastante ativo e sólido. Depoimento secreto do delegado da Polícia Federal responsável pela Operação Vegas, Matheus Mella Rodrigues, prestado ontem à CPI do Cachoeira, confirmou que boa parte do dinheiro arrecadado ilegalmente com jogos de azar no Brasil era transfer ido para paraísos fiscais do Caribe. Havia também um bingo pertencente à organização criminosa que funcionava numa das Ilhas Virgens Britânicas, que funcionava como um canal de evasão de divisas. A Polícia Federal descobriu que Cachoeira é dono de vários imóveis em Miami, nos Estados Unidos.
De acordo com o relato do delegado aos parlamentares, a conexão no exterior tinha a finalidade de lavar o dinheiro sujo arrecadado no Brasil, sobretudo em Goiás. Uma das empresas investigadas no exterior chama-se Souza Ramos. O investigador fez uma pequena conta e demonstrou que, em apenas 30 máquinas, a organização faturava R$ 1 milhão por mês. “Desse total, Cachoeira ficava com 30% livre. Foi isso o que disse o delegado”, revelou o senador Randolfe Rodrigues (PSol-AP).
A Polícia Federal listou 13 empresas que se interligavam e constituíam uma pirâmide com base rentável para o grupo de Cachoeira. O depoimento jogou ainda mais lama na construtora Delta. Aos integrantes da comissão, o investigador informou que a empreiteira realizou depósito no valor de cerca de 40 milhões nas contas das construtoras de fachada Alberto Pantoja, Brava e JR. Todas, segundo a investigação, estão em nome de laranjas e são controladas por Cachoeira.
Durante o depoimento, foi apresentada uma lista com o nome de 81 pessoas, grande parte agentes públicos, mencionadas pelos integrantes da organização criminosa nos diálogos obtidos por meio de interceptações telefônicas. O policial fez questão de ressaltar que várias pessoas citadas nos diálogos não têm um vínculo criminoso com o grupo de Cachoeira.