Correio braziliense, n. 20188, 29/08/2018. Cidades, p. 19

 

Confrontos, ofensas e tensão

Jéssica Eufrásio

29/08/2018

 

 

DEBATE 2018 » A temperatura subiu no segundo bloco do programa, principalmente com embates entre o governador Rodrigo Rollemberg e o candidato ao Buriti pelo PSD, Rogério Rosso. Ambos trocaram acusações usando o termo “mentiroso” ao comentarem sobre reajustes e promessas

O segundo bloco do debate de ontem, promovido pelo Correio Braziliense e pela TV Brasília, ficou marcado por confrontos diretos entre os candidatos, discussões que duraram além do tempo disponibilizado e críticas ao governo atual. Por ordem de sorteio prévio, cada concorrente ao Palácio do Buriti escolheu a quem direcionar as perguntas. Os sete participantes abordaram problemas nas áreas de saúde, segurança pública, mobilidade urbana e desenvolvimento econômico. Além disso, cobraram justificativas em relação ao apoio a projetos que tramitaram na Câmara dos Deputados e no Senado, como as reformas trabalhista e a  Emenda Constitucional nº 95 (EC 95).

A primeira sorteada foi a professora Fátima Sousa (PSol). A socialista questionou se a adversária Eliana Pedrosa (Pros) havia realizado estudos para propor a implementação do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) até a Asa Norte. Eliana respondeu que o projeto tem base em pesquisas de governos anteriores. A ex-deputada distrital acrescentou que a execução do serviço é “perfeitamente possível”. “Não estamos trabalhando só com essa hipótese, mas também com a da via férrea entre a Rodoferroviária e Planaltina. Os dois projetos são executáveis por meio de parceria com o governo federal”, defendeu. Fátima contestou a proposta do VLT afirmando que um trem não terá como alcançar a região norte, parte mais alta do DF. “A senhora sabe que o VLT não subirá a serra de Sobradinho. Sugiro a senhora estudar mais. O problema do transporte público é, de fato, sério.”

Eliana permaneceu no tema economia quando perguntou a Rogério Rosso (PSD) sobre as propostas para aumento das receitas do DF. O pessedista enfatizou que não aumentará impostos e reforçou a promessa de pagar a paridade do salário dos policiais civis em relação ao da Polícia Federal. “Se temos eficiência na arrecadação, conseguimos recuperar uma série de compromissos com os servidores públicos. Vamos obter receitas só com base na eficiência da arrecadação e sem aumentar impostos”, comentou Rosso.

Candidato à reeleição, Rodrigo Rollemberg (PSB) foi o terceiro a ser confrontado. No tempo de fala, o petista Júlio Miragaya relembrou pontos da história política do socialista e perguntou se o governador está alinhado à esquerda ou à direita. Rollemberg acusou o PT de ter mudado e mencionou feitos do GDF nos últimos quatro anos, como a liberação da orla do Lago Paranoá e as reformas no Hospital da Criança. Na réplica, Miragaya citou os índices de rejeição ao governo, ao que Rollemberg rebateu se dizendo “impressionado com tanta má-fé, desconhecimento e demagogia”.

Críticas

Em fala direcionada ao ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil no DF (OAB/DF) Ibaneis Rocha (MDB), o deputado federal Alberto Fraga (DEM) quis saber os planos do emedebista em relação às áreas do serviço público que apresentam defasagem de funcionários. Ibaneis criticou o GDF e elencou saúde, segurança e educação, além de emprego e renda, como as áreas mais problemáticas no DF.

Fraga voltou ao centro do debate para responder à pergunta de Rollemberg sobre os planos para a regularização de condomínios. O democrata prometeu legalizá-los, além das áreas rurais, e completou dizendo que a proposta se trata de uma obrigação. Fraga criticou o socialista, acusou-o de derrubar casas e igrejas e prometeu acabar com a Agência de Fiscalização do DF (Agefis) no primeiro dia de governo. “Você foi maldoso, cruel. Deixou pessoas construírem asas, obterem empréstimos e mandou a Agefis passar com um trator por cima delas. Você acabou com o sonho de milhares de pessoas”, completou. Por fim, ele se comprometeu a construir três hospitais: em São Sebastião, no Recanto das Emas e no Sol Nascente.

Congelamento de gastos

Promulgada em dezembro de 2016, a Emenda Constitucional nº 95 foi encaminhada como proposta ao Congresso Nacional pela Presidência da República. A norma determina a criação de um limite para os gastos públicos durante 20 anos, a partir de 2017, e com possibilidade de revisão em 2027. O objetivo é evitar que as despesas orçamentárias da União cresçam mais do que a inflação. Os órgãos que não respeitarem a medida ficam impedidos de oferecer aumentos salariais, contratar funcionários ou criar despesas. As transferências de recursos da União para estados e municípios, as eleições e as verbas para o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e Valorização do Profissionais da Educação Básica (Fundeb) são os únicos gastos que não ficam sujeitos ao teto.

Liberação

Cerca de 1,7 milhão de metros quadrados da orla do Lago Paranoá foram desobstruídos após quase dois anos e meio de operações, finalizadas em janeiro. As regiões do Parque da Asa Delta e da Península dos Ministros foram as primeiras a serem liberadas. No período de recuo dos 454 lotes, a Agefis cobrou R$ 180 mil de moradores que não removeram cercas e muros irregulares por conta própria. A mudança valeu para terrenos que estivessem com área construída a até 30m das margens do lago.

O que eles disseram

“Para ser governador, deve-se acordar cedo e saber o que o povo pensa. De cada 10 pessoas, oito reprovam o governo atual. Quero pedir para o Rollemberg sair. Desista. É um clamor. Brasília nunca esteve tão abandonada como nesses últimos quatro anos”

Alberto Fraga (DEM)

 

“Tenham certeza de que vamos entregar um transporte de massa às populações de Sobradinho e Planaltina. (...) Há solução técnica e tecnológica para vencer todas as dificuldades. Não quero partir de propostas simplistas”

Eliana Pedrosa (Pros)

 

“Consultamos professores para apresentarmos um plano de governo consistente, viável, com a cara e a real necessidade da população. O transporte é um problema sério em Brasília. Não houve políticas públicas nessa área, apenas ações espasmódicas”

Fátima Sousa (PSol)

 

“Somos contra tanto a reforma trabalhista quanto a da Previdência. A trabalhista veio para penalizar o trabalhador e aumentou o nível de desemprego. Em relação à contribuição sindical, mudanças pontuais poderiam ser feitas sem tirar direitos. E a culpa da reforma da Previdência é decorrente da irresponsabilidade na gestão dos recursos federais”

Ibaneis Rocha (MDB)

 

“Vemos candidatos congressistas que votaram a favor da PEC 95 e prometem mundos e fundos. Votaram a favor da reforma trabalhista, que não foi capaz de gerar um único emprego formal no país. Estão jogando a população na informalidade. Aqui no DF, 160 mil pessoas entraram no mercado e apenas 4 mil conseguiram vagas. Delas, 156 mil engrossam a fila de desempregados”

Júlio Miragaya (PT)

 

“Não sei de onde sairão R$ 842 milhões para pagamento do reajuste da Polícia Civil, nem R$ 2,8 bilhões para a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros. Você (Rogério Rosso) tem o Mágico de Oz ou o Papai Noel como secretário da Fazenda? Se fizer isso, o DF quebra antes do aniversário de Brasília”

Rodrigo Rollemberg (PSB)

 

“Na economia do Distrito Federal, 90% da formação do PIB (Produto Interno Bruto) são serviços, e metade desses serviços são públicos. Nunca houve um achatamento tão grande da remuneração, e isso influenciou no desemprego e no desaquecimento da economia”

Rogério Rosso (PSD)

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Discussão acalorada

29/08/2018

 

 

Ainda no segundo bloco, Rogério Rosso e Rodrigo Rollemberg protagonizaram um dos momentos mais acalorados do debate. O candidato do PSD comentou sobre a proposta de pagar os reajustes dos servidores públicos e foi criticado pelo concorrente, que considerou a promessa como mentira e demagogia. Rosso também chamou o governador de mentiroso e disse que o DF está vivendo o “maior caos de serviços públicos da história”.

Na tréplica, o socialista mencionou os oito meses em que Rosso governou o Distrito Federal, substituindo o ex-governador José Roberto Arruda, e devolveu o adjetivo usado pelo adversário. “Quem está mentindo é você. A população lhe conhece. Você não foi capaz de cortar o mato, que chegou a alcançar a sua altura, e, agora, diz que vai fazer tudo. Isso lembra outro candidato, que prometeu resolver o problema da saúde em seis meses”, completou, em referência ao ex-governador Agnelo Queiroz.

Os candidatos Júlio Miragaya (PT) e Fátima Sousa (PSol) não foram questionados; por isso, tiveram dois minutos no fim do bloco para se manifestar sem direito a réplica ou tréplica. O petista observou o fato de apenas ele e Fátima não terem sido alvos das perguntas. “Aqui, de alguma forma, (os candidatos) se aliaram para não dialogar com representantes da esquerda de Brasília”, disparou. Ele também criticou a troca de insultos. “Todos estão mentindo. Essa discussão parece que não tem sentido. Não se debateu como podemos tirar o DF e o Brasil da situação em que se encontram”, completou.

Fátima também criticou as ofensas e se disse entristecida com o “grau de violência política” observado. “Um rouba, outro rouba. O Distrito Federal não tem homens à altura desta cidade.” A socialista censurou o fato de Ibaneis Rocha se apresentar como “candidato da OAB”. “O senhor é candidato do MDB. Todos que estão presos fazem parte do seu partido. Não existe candidato avulso. Tenho orgulho de ser uma professora universitária, uma enfermeira nordestina que ajudou a implantar o maior programa de saúde pública desse país”, finalizou.