Correio braziliense, n. 20188, 29/08/2018. Cidades, p. 18

 

Saúde, o maior problema

Alessandra Azevedo

29/08/2018

 

 

DEBATE 2018 » Candidatos atacaram o modelo do Instituto Hospital de Base, enquanto o governador Rodrigo Rollemberg buscou destacar ações como o fim do Lixão da Estrutural

Entre muitas alfinetadas e nem tantas propostas, saúde e desenvolvimento econômico do Distrito Federal foram alguns dos principais assuntos abordados no terceiro bloco do debate realizado ontem pelo Correio Braziliense e pela TV Brasília. Enquanto o atual governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg (PSB), candidato à reeleição, se esforçou para mostrar o que considera avanços do mandato e passar uma imagem de humildade em relação ao que ficou por fazer, os outros seis postulantes ao cargo se uniram, em blocos, para tentar desconstruir o discurso do atual ocupante do Buriti.

Em um dos embates diretos, com Alberto Fraga (DEM), Rollemberg defendeu a desativação do Lixão da Estrutural feita durante seu mandato — uma “ferida aberta do coração do país” — e afirmou que fez um governo “de muita preocupação social e ambiental”. Para Fraga, a medida, “por incrível que pareça”, foi positiva, mas falta acompanhar da população que mora na região. “Você dá uma bola dentro e cinco fora”, criticou Fraga.

Em geral, os candidatos disputaram o título de “novo”. Por um lado, Rollemberg afirmou que essa concepção é de quem “faz política com honestidade e responsabilidade”. “Aqui tem um consórcio da volta ao passado, do tudo combinadinho, divididinho, que quer voltar o DF para as mesmas práticas do passado, que foram as que levaram Brasília à situação que nós herdamos”, criticou o governador. Por outro lado, Ibaneis Rocha (MDB) chamou o título de “novidade” para si e fez o possível para se descolar da imagem do presidente da República, Michel Temer (MDB), que enfrenta um fim de governo sem popularidade e envolvido em escândalos de corrupção.

O debate foi marcado por momentos de “camaradagem” entre candidatos, com dobradinhas pensando em futuras alianças contra o atual governador, que atualmente lidera as pesquisas de intenção de votos (mas, na margem de erro, quatro estão com possibilidades de irem para o segundo turno).

Fátima Sousa (PSol) e Júlio Miragaya (PT) também protagonizaram alguns desses momentos. Em embate direto entre os dois, eles focaram em críticas quanto à gestão da saúde, um tema caro aos brasilienses. “Sabemos que o governador não teve coragem de fazer prestação de contas, dizendo que, de fato, errou nessa área”, disse Fátima. No mesmo sentido, Miragaya afirmou ser uma “inverdade” que Rollemberg pegou a saúde em uma situação ruim. “Pegou em situação muito melhor do que está deixando neste atual governo”, disse o candidato do PT, legenda de Agnelo Queiroz, antecessor de Rollemberg no Palácio do Buriti.

Desenvolvimento

Em um dos raros momentos em que a situação econômica do DF foi citada, a candidata Eliana Pedrosa (Pros) defendeu como um dos caminhos para recuperá-la investir na indústria do turismo — “a atividade que mais emprega rapidamente”, ressaltou. Prometeu um calendário “com muitos eventos, aproveitando a nossa rede hoteleira, de bares e restaurantes”. Eliana também garantiu que buscará trazer ao DF empresas de tecnologia, “dando todas as condições necessárias, garantia de licenciamentos rápidos, e benefícios para que possam empregar, principalmente a juventude e as mulheres do DF”.

Fátima Sousa (PSol), ao debater diretamente com a candidata do Pros, questionou por que ela não fez esses investimentos quando foi secretária de Desenvolvimento Social. “Agora, a senhora vem diante das câmeras dizer que vai gerar emprego e renda, inclusive revolução tecnológica”, criticou. Após relembrar pela terceira vez que é professora universitária, Fátima ressaltou que o mais importante é convocar a indústria do conhecimento, incluindo a “querida UnB (Universidade de Brasília)”, para pensar em projetos de longo prazo. “Vamos cuidar da cidade que ainda não foi cuidada”, disse.

Miragaya criticou, indiretamente, a fala de Eliana ao dizer que “as pessoas falam, de forma genérica, em atrair empresas”, mas, segundo ele, “empresa não cai do céu como chuva”. E lembrou que, no caso do DF, falta infraestrutura, logística e mão de obra qualificada para que isso seja concretizado. ‘No meu governo, vou plantar a semente. Não para colher em curto prazo, mas que o próximo governo tenha maior condição de empregabilidade”, disse Miragaya. “Temos que ter pensamento estratégico”, defendeu.

Para a candidata do PSol, é preciso reconhecer que “não há, no DF, um plano estratégico de desenvolvimento a curto, médio e longo prazo”. Classificou os governos anteriores, inclusive o atual, como tacanhos, que “não conseguem olhar para o futuro, e fazem gestão emergencial”. “Não há caminho que não seja sentar à mesa com todos que se interessam por Brasília”, disse. De acordo com Fátima, “é de fazer vergonha esses governos que nos antecedem não ter inteligência suficiente para saber que Brasília não é mais a Brasília do início de sua implantação”.

Eficiência

Rogério Rosso (PSD) afirmou que dará mais autonomia para as cidades e descentralizará a gestão, “ao contrário do que é feito hoje em dia”. O objetivo é que cada cidade do DF tenha um departamento de obras próprio, que pense nas ações de cada local. Ele também defendeu que parte dos impostos fique na região administrativa dos contribuintes, “exatamente para que possam fazer obras e ações importantes para cada cidade”, explicou.

Eliana Pedrosa se comprometeu a transformar as administrações regionais, que hoje considera “cabides de emprego”, em “um grande Na Hora”, em referência aos postos de atendimento que fazem serviços em tempo real. Será possível, segundo a candidata, tirar carteira de trabalho, identidade, e fazer licenciamentos de empresas nesses locais.

Fim da Agefis

Protagonistas de uma das rodadas amigáveis de perguntas, Fraga e Eliana garantiram que vão extinguir a Agência de Fiscalização do Distrito Federal (Agefis). Em relação à fiscalização, Rosso defendeu setorizá-la de acordo com as demandas de cada região. Eliana defendeu que a fiscalização não deve ser responsabilidade da administração pública. “Não podemos colocar quem fiscaliza com quem executa”, explicou.

O candidato Fraga também criticou a atuação da Agefis, que, segundo ele, “faz demolições de forma seletiva”. ‘No meu governo, se não pode construir, não vai construir. Tem que agir de forma preventiva”, afirmou.

Saúde

As críticas à saúde foram consenso entre os candidatos que, de esquerda e de direita, se uniram para atacar a gestão de Rollemberg na área. Rosso classificou como deprimente e uma calamidade a situação da saúde no DF, e disse querer “fazer tudo o que o governador não fez”, o que inclui desde mutirão em hospitais para garantir equipamentos a extinção do Instituto Hospital de Base, com construção do segundo prédio do Hospital de Base — medidas que prometeu para 1º de janeiro, assim que assumir o mandato, caso seja eleito. “Quando eu falo, eu faço. Secretário de Saúde meu que ficar em gabinete vai ser demitido”, declarou Rosso, que estendeu a premissa a secretários de outras áreas, como Educação.

Rosso colocou parte do problema da saúde na conta da desvalorização dos servidores públicos. “Se não fosse a dedicação muito forte do servidor, estaria pior”, disse.

Ainda na dobradinha com Fátima, Miragaya defendeu o diálogo com os trabalhadores da área da saúde e também aproveitou para alfinetar novamente Rollemberg, ao dizer que isso não tem sido feito pelo atual governador. “Não há diálogo com professores, nem com servidores da área da saúde ou da segurança”, disse. Miragaya levantou a bola de Fátima ao dizer que observa, no governo atual, “uma tendência à privatização da saúde pública”. Mantendo o tom amigável na discussão entre os dois, Fátima lembrou ser terminantemente contra qualquer privatização. Fátima garantiu que implantará um SUS real no DF, com agências comunitárias de saúde.

“Em postos de saúde, não há atendimento médico. O que aconteceu no Hospital de Base, com a criação do Instituto Hospital de Base, que gerou uma piora significativa do atendimento”, citou Miragaya. “A população não tem atendimento decente”, reclamou. Ele também afirmou que o programa Saúde na Família tem equipes incompletas. Para o candidato do PT, outra questão que precisa ser priorizada, no caso da saúde, é atendimento especializado, que “não existe” na rede hospitalar pública. Ele afirmou que instalará policlínicas em todas as regiões administrativas do DF.

Desastre

As críticas à gestão na área saúde foram também destacadas por Fraga, que, no embate direito com Rosso, afirmou que a saúde pública “está um desastre”. Com investimento em atendimento básico, segundo ele, é possível desafogar os hospitais. “Eu, chegando ao governo, vou dar uma resposta, porque infelizmente só tem acompanhado a falta de gestão em todos os serviços públicos do DF”, disse Fraga.

Entre as propostas, Fátima afirmou que vai recuperar rapidamente as creches que estão abandonadas e os hospitais públicos que estão fechados, além de investir em políticas voltadas para jovens e adolescentes, com primeiro emprego, esporte e lazer. “Vamos tirar as crianças que estão sendo jogadas para desemprego”, disse. Para Eliana Pedrosa, Fátima questionou se terá a mesma preocupação. “Não sei se a senhora vai se preocupar com essa questão, espero que sim, porque quando foi secretária não deu muita atenção aos jovens e adolescentes. Espero que a senhora não repita o que foi feito como secretária em outros governos, com jovens jogados para a violência e o crime”, alfinetou Fátima, no embate direto com a candidata do Pros.

Demolições

Citada por quase todos os candidatos no debate, a Agefis é responsável, em tese, por cumprir as normas de uso e ocupação do solo do DF, o que inclui fiscalização de terrenos irregulares, por exemplo. A atuação da agência nos últimos anos tem se relacionado a demolições na orla do Lago Paranoá e em regiões como Vicente Pires, o que a torna alvo de críticas por parte de postulantes ao Buriti, como Fraga e Eliana Pedrosa.

O que eles disseram

“Você (Rollemberg) dá uma bola dentro e cinco fora”

Alberto Fraga (DEM)

 

“Quando a (minha) empresa encerrar os contratos, não vai haver desemprego, porque outra empresa assume. Hoje, dentro da área de atuação das empresas da minha família, existe compromisso”

Eliana Pedrosa (Pros)

 

“É preciso entender que Brasília precisa mudar. Do contrário, teremos que ver essa vergonha aqui, sem propostas, usando o que os marqueteiros falam para dizer, e não tão preocupados em discutir as ações básicas”

Fátima Sousa (Psol)

 

“Temer veio com Lula e os dois estão em uma situação muito difícil”

Ibaneis Rocha (MDB)

 

“É inverdade que Rollemberg pegou a saúde em situação ruim. Pegou em situação muito melhor do que está deixando neste atual governo”

Júlio Miragaya (PT)

 

“Aqui tem um consórcio da volta ao passado (...). Isso é tão forte, é tão grave, que o candidato Frejat falou ‘estou fora, porque vou comprometer minha biografia se ficar ao lado dessa turma’”

Rodrigo Rollemberg (PSB)

 

“Quero fazer tudo o que o governador não fez. (...) Quando eu falo, eu faço. Secretário meu da Saúde que ficar em gabinete vai ser demitido”

Rogério Rosso (PSD)