Correio braziliense, n. 20188, 29/08/2018. Cidades, p. 21
Promessas para um DF melhor
Pedro Grigori e Augusto Fernandes
29/08/2018
DEBATE 2018 » Questões sociais, como as políticas de combate à violência de gênero e ao desemprego foram temas abordados no último bloco de discussões entre os postulantes ao Buriti
Os candidatos ao GDF utilizaram as considerações finais do debate promovido ontem, pelo Correio, para expor dados sobre violência contra mulher, criticar o atual governo e prometer soluções para problemas como mobilidade urbana, saúde e educação. Após dois blocos de confrontos diretos, os postulantes ao Palácio do Buriti também aproveitaram os dois últimos minutos de microfone livre para responder críticas e questionar propostas e posicionamento dos adversários.
No posto de mais criticado durante o debate, Rodrigo Rollemberg voltou a destacar a situação de crise na qual pegou o Governo do Distrito Federal. “Foram muitas madrugadas em claro, procurando saber como pagar os servidores públicos e terceirizados”, afirmou. Na hora de fazer promessas para a reeleição, o governador destacou ações que estão em andamento e que serão ampliadas em um eventual segundo mandato. Entre elas, o aumento nas vagas em creches — foram criadas 16 mil em três anos e oito meses, segundo o socialista — e o acesso será universalizado em um novo mandato.
No tema saúde, apontado como prioritário pelos brasilienses em pesquisa realizada pelo Instituto Opinião Política e publicada pelo Correio, Rollemberg prometeu ampliar o Saúde na Família. “Iniciamos o governo com 28% de cobertura, hoje temos 66%”. O governador também destacou as obras em andamento no metrô e prometeu a construção de mais estações em Ceilândia, em Samambaia e na Asa Norte.
Entre os oponentes de Rollemberg, críticas ao governo foram unânimes nas considerações finais. Rogério Rosso (PSD), com quem o governador bateu boca no segundo bloco, afirmou estar entre os 73,4% que não conseguem enxergar o DF tão bem assim. “As famílias não conseguem atendimento em hospitais e postos de saúde, 90% das escolas estão sucateadas, nossas crianças e jovens estão sem perspectivas de futuro e de emprego”, criticou.
Rosso ainda comparou o seu governo, que ocorreu entre abril e dezembro de 2010, com o de Rollemberg, e afirmou que assumiu o cargo em uma situação ainda mais complicada do que a do atual governador. O candidato do PSD ocupou o posto após José Roberto Arruda (DEM), Paulo Octávio (DEM) e Wilson Lima (PR) deixarem o poder em um intervalo de três meses. “Trabalhei de madrugada, de manhã, de tarde e à noite para salvar o DF”, destacou.
O momento nostálgico continuou com Júlio Miragaya (PT), que destacou ações dos governos do ex-presidente Lula e do ex-governador Agnelo Queiroz (PT). Citou o Bolsa Família, geração de 12 milhões de empregos e valorização do trabalho a nível nacional. “Aqui no DF, foi criado o DF sem miséria, recurso complementar ao Bolsa Família”, relembrou.
Espaço da mulher
As mulheres representam 54% do eleitorado do DF, segundo informações do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-DF). Para conquistar esse eleitorado, os candidatos aproveitaram as considerações finais para discutir as situações de violência que as mulheres são expostas. Foram 20 casos de feminicídios no DF nos últimos oito meses, mais do que em todo ano passado.
O candidato do MDB, Ibaneis Rocha, lembrou os casos recentes de feminicídio. “Temos um problema muito grave de emprego e respeito às mulheres no DF, por isso fiz questão de vir de (camisa) rosa, para deixar bem claro que, no governo que eu estiver à frente, a mulher será protegida”, afirmou no começo do discurso. O candidato também lembrou que a Casa da Mulher Brasileira, espaço para acolhimento de mulheres vítimas de violência, está fechada.
Alberto Fraga (DEM) continuou no tema, destacando que é um dos autores da Lei do Feminicídio. O democrata aproveitou para criticar novamente Rollemberg, citando que no plano de governo do atual chefe do Buriti é prometido “proteção às mulheres”.
“Os números são assustadores, foram quase 15 mil ocorrências de violência doméstica contra a mulher no governo dele. No primeiro ano, foram 620 estupros no segundo, subiu para 670 e no ano passado, 880. Isso não é cuidar da mulher”, questionou. Fraga prometeu também a criação de uma Delegacia Especial de Atendimento à Mulher na Ceilândia. Atualmente, só existe uma no DF, na 204/205 Sul.
Após as falas de Ibaneis e Fraga, Fátima de Sousa (PSol) soltou críticas aos oponentes pelo Palácio do Buriti. Ela afirmou que os postulantes ao GDF trouxeram apenas estátisticas, mas que não fazem ações que ajudem efetivamente as mulheres. “(Eles) votam emendas constitucionais para diminuir recursos, não atendem as ações das mulheres nas maternidades e não têm condições nenhuma, sequer morais, de dizer que vão cuidar das mulheres”, criticou a candidata.
Eliana Pedrosa (Pros) prometeu criar mais empregos para as mulheres, principalmente para as negras e mães. Afirmou também que, caso chegue ao poder, irá abrir mais creches e criar programas sociais que abram espaço para que as mulheres possam dialogar com o governo sobre os problemas sociais nas comunidades onde vivem.
Rejeição
Pesquisa do Instituto Opinião Política, encomendada pelo Correio Braziliense, mostrou que 73,4% dos entrevistados desaprovam o governo de Rodrigo Rollemberg (PSB). Na fala de Rosso, o candidato do PSD se inclui neste índice.
Crimes
No último domingo, uma mulher de 44 anos foi morta pelo marido a facadas. A filha, de 9 anos, assistiu ao assassinato. O crime ocorreu no conjunto B da Fazendinha, no Itapoã, por volta de 20h30. Ela levou facadas nas costas e no pescoço.
Mulher
A Lei do Feminicídio completou três anos em março. Ela altera o artigo 121 do Código Penal e passa a ser circunstância qualificadora do homicídio. A morte de uma mulher é, segundo a lei, considerada um homicídio qualificado quando a razão do crime é o gênero da vítima ou questões associadas, como violência doméstica e familiar, menosprezo à condição de mulher ou discriminação à condição de mulher. Prevê reclusão de 12 a 30 anos e determina aumento de pena em algumas circunstâncias, como quando o crime ocorre durante a gestação.
O que eles disseram
“Tenho a sorte de estar ao lado de um dos maiores especialistas na área da saúde, que é a área mais danificada no Distrito Federal, que é o Jofran Frejat. Tenho certeza de que ele estará do nosso lado, dando conselhos para que a gente possa recuperar isso com segurança”
Alberto Fraga (DEM)
“Nosso programa é de uma gestão mais eficiente, que traga celeridade. É principalmente voltado para o lado social, da geração de empregos para pessoas de todas as faixas etárias. Dos jovens, das mulheres, especialmente as negras. Das mulheres que criam os filhos com dificuldades”
Eliana Pedrosa (Pros)
“O PSol nunca foi governo no Distrito Federal e não vamos assumir a responsabilidade desse grupo que está aqui. Quando o governador fala de consórcio, ele deve estar falando dessa outra banda daqui e do Ibaneis. Não de mim, e muito menos do Júlio”
Fátima de Sousa (PSol)
“Brasília está passando por um processo de favelização, por conta da desatenção com o nosso público e com as pessoas nas nossas cidades. Uma ausência total de programas para essas pessoas de baixa renda, os programas habitacionais não olham para essas pessoas, a cidade não tem a sensibilidade e não existe inclusão.
Ibaneis Rocha (MDB)
“Vocês sabem muito bem que quem cuida do trabalhar e do povo é o PT. Isso se deu na esfera federal com o Lula. Todos sabem que a criação do Bolsa Família e a geração de 12 milhões de empregos e postos de trabalho, além da valorização do salário mínimo, aconteceram no governo do PT”
Júlio Miragaya (PT)
“Tenho convicção de que não fizemos tudo o que gostaríamos de fazer e reconhecemos que temos falhas no governo. Certamente, nós fizemos muito para as condições que nós pegamos a nossa cidade”
Rodrigo Rollemberg (PSB)
“Nunca houve na história do DF um desemprego tão forte. Falta um ambiente favorável ao desenvolvimento. Mas tenho muita fé de que no meu governo, já na transição, caso o governo tiver a grandeza em deixar eu tomar medidas, essa história começa a ser diferente”
Rogério Rosso (PSD)