Correio braziliense, n. 20188, 29/08/2018. Cidades, p. 24

 

O confronto que rende ou afasta apoios no DF

Simone Kafruni

29/08/2018

 

 

DEBATE 2018 » Ao apresentar os candidatos à corrida ao Buriti de maneira aberta, debate leva ao eleitor a chance de escolha mais consciente na hora do voto, segundo especialistas

Em uma campanha eleitoral com tempo e dinheiro reduzidos, a confrontação direta dos candidatos pode ser determinante para escolha do voto, sobretudo quando a disputa é acirrada como a corrida pelo Buriti. O debate realizado pelo Correio e pela TV Brasília apresentou os postulantes ao governo do Distrito Federal de forma aberta para permitir as críticas às propostas. Dos sete participantes — o atual governador Rodrigo Rollemberg (PSB), Eliana Pedrosa (Pros), Rogério Rosso (PSD), Alberto Fraga (DEM), Júlio Miragaya (PT), Fátima Sousa (PSol) e Ibaneis Rocha (MDB) —, os quatro primeiros estão tecnicamente empatados, conforme pesquisa do Instituto Opinião Pública encomendada pelo Correio.

Para Paulo Calmon, diretor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), os debates têm grande impacto nas preferências da população. “O desempenho em um debate pode mover entre 2 e 3 pontos percentuais. Portanto, é mais decisivo quando se tem uma disputa eleitoral muito acirrada. Esses pontos podem fazer toda a diferença ao darem determinada vantagem ou desvantagem que podem gerar um processo favorável ou desfavorável para um ou outro candidato”, avaliou.

Calmon ressaltou a importância do momento do debate realizado ontem. “O eleitorado está começando a conhecer os candidatos e isso pode causar uma primeira impressão positiva ou negativa”, disse. O especialista também assinalou a importância da multiplicidade de fontes de informação, como a veiculação nas mídias digitais. “Os eleitores têm estratégias diferentes conforme a faixa de idade e vão buscar se informar em diferentes plataformas”, avaliou.

Desempenho

Conforme Roberto Piscitelli, professor de finanças públicas da UnB, faltou objetividade aos candidatos, que perderam muito tempo com acusações pessoais. “O observador percebeu que houve uma espécie de complô entre os três favoritos contra o Rollemberg. Deixaram isolados os candidatos de esquerda Júlio e Fátima”, pontuou.

“De uma forma geral, foram pouco propositivos. Todo mundo parecia muito preocupado em agradar servidor público e ocupante de áreas irregulares, prometendo pagamento e regularização fundiária”, avaliou. Para ele, os candidatos não aproveitaram a oportunidade de apresentar propostas concretas. “Houve muita declaração de intenções do que pretendem fazer. Mas parece não haver conexão entre os planos de governo e os recursos disponíveis”, criticou.

Piscitelli ressaltou que Rosso e Fraga disseram que vão pagar a terceira parcela do acordo que foi feito com os servidores no passado, enquanto Rollemberg argumentou que isso quebraria o DF e os demais alegaram que terão dificuldades financeiras. “Apesar de dizer que vai deixar uma situação melhor do que a que encontrou, o governador não falou nada sobre a não utilização dos recursos disponíveis, os tais R$ 330 milhões, a maior parte do governo federal”, destacou.

No entender do professor, o debate revelou que “continua faltando transparência dos números do governo, sobretudo na hora da transição”. Piscitelli disse que a proposta de Fraga e Rosso, sobre equiparação salarial das polícias, tem implicações políticas e a questão da segurança é nacional. “Nem sempre, as promessas podem ser cumpridas”, afirmou.

Sobre a proposta de extinção da Agência de Fiscalização do DF (Agefis), prometida por alguns candidatos, o professor afirmou que o órgão pode até ser criticado por excessos, abusos e arbitrariedade, mas o governo não pode se omitir de fiscalizar. “Há procedimentos discutíveis, a Agefis deve atuar mais preventivamente. Agora, não dá para simplesmente tirá-la do caminho sem criar um mecanismo de controle”, destacou.

O especialista considerou rasas algumas discussões sobre temas importantes. “Muitos projetos não são factíveis. Não se definiu modelo para os transportes, por exemplo. Se há condições técnicas e financeiras para ampliar metrô, VLT ou BRT. Não se define a matriz nem a articulação dos diversos modais. Ficou tudo em aberto. Só houve críticas sobre os R$ 600 milhões de subsídios às empresas de transporte urbano. Mas ninguém tem coragem de abrir essa caixa-preta”, disse.

Outro tema importante, na opinião de Piscitelli, foi saúde. “A discussão se concentrou na deterioração do Hospital de Base e em programas que foram paralisados por Rollemberg e que, de alguma forma, descentralizavam o atendimento”, disse. O professor lamentou, ainda, que nenhum dos candidatos tenha falado sobre construção civil, que é uma atividade empregadora. “Também comentaram em aumentar a eficiência da arrecadação sem elevar a carga tributária, mas ninguém disse como. Tampouco explicaram como será a indicação para as administrações regionais”, criticou.

Para Ricardo Caldas, professor de Ciência Política da UnB, a corrida eleitoral do Distrito Federal está muito disputada e indefinida. “Claramente há vários candidatos em condições de chegar ao Buriti. Vai ser assim até o último dia. Não dá para prever quem chegará ao segundo turno”, destacou.

O que eles disseram

“Sempre é bom debatermos, evoluirmos e apresentamos propostas. A população saberá, cada dia mais, reconhecer aqueles que falam com propriedade e com números. E a verdade daqueles que simplesmente usam do estilo teatral para tentar convencer essa cidade que não está convencida”

Rogério Rosso (PSD)

 

“A discussão ficou restrita a acusações, a um certo tom de denuncismo. A população espera propostas. Passamos por alguns anos de crise, boa parte dela nesse governo Temer, então, a população quer ouvir o que fazer para resolver. O debate é oportunidade para isso”

Júlio Miragaya (PT)

 

“Tive oportunidade de apresentar algumas das minhas propostas. E quero deixar claro que, tudo que falo nessas oportunidades, cumpro. Minha marca é o trabalho. Nossos projetos estão bem calculados. Peço para a população apostar em uma mulher, que está trazendo o coração de mãe para governar o DF”

Eliana Pedrosa (Pros)

 

“Acho que foi um momento realmente de colocar propostas e de saber quem é que realmente estava nos governos anteriores, que realmente tem vontade de fazer alguma coisa por Brasília. Eu me coloco nessa situação. Eu vim para debater propostas, não tenho compromisso de debater passado”

Ibaneis Rocha (MDB)

 

“Essas pessoas não se conformam de ver um governo honesto, que governa com seriedade. Mas a população teve muita oportunidade de perceber que se tinha um consórcio de candidatos tudo combinado e dividido para enfrentar o governador, que pegou Brasília em uma situação difícil”

Rodrigo Rollemberg (PSB)

 

“Minha expectativa era de fazer um debate de ideias e propostas. Teve acusações uns com os outros, e falas para confundir a população. Não é verdade que o único novo é o Ibaneis. Se tem alguém que está colocando seu nome pela primeira vez é a professora Fátima Sousa. O PSol é um partido que nunca governou o DF”

Fátima Sousa (PSol)

 

“As ideias foram colocadas. Foi um debate mais propositivo. A gente percebe que têm pessoas que se desviam do assunto. Exatamente o candidato que fica falando que a gente está desviando do assunto é o que mais desvia. Lula não tem nada a ver com Brasília. Ele tem que aprender a diferença entre presidiário e presidente”

Alberto Fraga (DEM)