Correio braziliense, n. 20188, 29/08/2018. Cidades, p. 29

 

A voz dos bastidores

Alexandre de Paula e Pedro Grigori

29/08/2018

 

 

Enquanto candidatos duelam e apresentam propostas nos holofotes do estúdio, um grupo de assessores, políticos e marqueteiros fica nos bastidores a postos para checar informações, dar dicas e municiar os postulantes com algo que tenha passado batido ou possa fortalecer os discursos.

Ontem, no debate do Correio e da TV Brasília, os candidatos ao Governo do Distrito Federal contaram com o suporte de aliados e integrantes das equipes de coordenação de campanha. Ao longo do confronto e, sobretudo, nos intervalos, eles reagiram ao desempenho dos candidatos, passaram dicas e deram direcionamentos para os postulantes ao comando do Palácio do Buriti.

O coordenador de comunicação da campanha de Ibaneis Rocha (MDB), Paulo Pestana, detalha o trabalho feito nos bastidores. Segundo ele, tudo começa antes, na preparação para o debate. “Nós fazemos uma prévia, discutimos os temas e delimitamos algumas estratégias”, explica.

Apesar da preparação, Pestana comenta que, muitas vezes, o candidato desvia do que foi previsto e vai por outros caminhos. “Isso é natural. Quem está lá dentro sente o clima de uma maneira diferente de quem está de fora. Nós vamos apontando o que deu certo ou não.”

É função de quem apoia o candidato neste momento observar de fora o que está acontecendo e apontar acertos e falhas do desempenho, de acordo com o jornalista. “Nós temos também uma equipe externa que vai nos enviando reações das redes sociais e as impressões. Durante as pausas, trocamos ideias com o candidato e apresentamos isso a ele”, conta Pestana.

O atual secretário de Comunicação do DF, Paulo Fona, foi o responsável por auxiliar o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) nos estúdios da TV Brasília ontem. Fona explica que há uma equipe responsável por analisar a postura e as propostas dos outros candidatos.

Durante o debate, ele diz que é fundamental passar segurança e tranquilidade para o candidato conduzir as falas. “Quando ele vai bem, você transmite isso a ele, diz o que as pessoas estão comentando, fala sobre os elogios”, comenta. Outra questão importante, segundo o secretário, é mostrar ao candidato como ele pode responder a críticas. “Quando o adversário fala isso ou aquilo, nós fazemos observações para ele saber que tem condições de responder e esclarecer depois.”

Fátima Sousa, candidata do PSol, levou dois assessores para auxiliá-la no debate. Um deles —  Alexandre Varela —  mais voltado para análise política — e o outro —  Lincoln Macário — especialista em comunicação. Eles contam que também fazem um resumo com pontos fracos dos outros candidatos e da própria Fátima. “Com isso, vemos em que podemos encontrar uma contraproposta. Por outro lado, os adversários podem também saber um ponto fraco nosso que nem imaginamos. Quando somos surpreendidos, temos que ter agilidade para chegar lá e acalmar”, explica Varela.

No caso de Fátima, a principal preocupação dos assessores era com o tempo, pois, por ser professora, ela está acostumada a explanações mais longas. “Às vezes, um agente político, como o Fraga e a Eliana Pedrosa, fala com muita tranquilidade em três minutos. Já a Fátima, como professora, tende a elaborar mais”, diz Albuquerque. Além das conversas nos intervalos, eles passaram dicas para Fátima durante o debate, apostando em certa dose de mímica.

Detalhes e rapidez

Ex-secretário de Justiça e Cidadania e vice-presidente do PSD-DF, Arthur Bernardes acompanhou o candidato do partido, Rogério Rosso, ontem nos estúdios. Antes do debate, ele disse que Rosso praticamente nem precisaria de auxílio, por estar bastante preparado e pronto para as discussões que seriam propostas. Apesar disso, Bernardes correu para conversar com o candidato logo que o primeiro intervalo foi anunciado.

Além dele, o candidato a vice da chapa, Pastor Egmar Tavares (PRB), e o marqueteiro Roberto Bueno assessoraram o deputado federal licenciado. “O Rosso é muito ligado, muito ativo. Então, nos bastidores, nós temos que ficar também sempre muito atentos e ter rapidez”, diz Bueno. Rosso protagonizou com Rollemberg um dos momentos mais quentes do debate. Ele chamou o atual governador de mentiroso depois de receber críticas sobre sua gestão- tampão à frente do GDF, em 2010.

A candidata do Pros, Eliana Pedrosa, estava acompanhada por dois assessores de comunicação da campanha, Lenilton Costa e Maurício Junior. Eles também destacaram a preparação prévia para o debate. Os dois conversaram com a candidata durante as pausas e passaram dicas para o desempenho dela.

Segundo Costa, que coordena a equipe de comunicação de Pedrosa, o mais importante é estar atento aos detalhes e às falas de outros candidatos. “Durante o debate, o candidato fica muito focado nas propostas e no que se preparou para dizer. Então, nossa missão é ficar ligados o tempo todo nos detalhes para podermos chamar a atenção para isso quando fazemos alguma orientação”, detalha.

O ex-presidente do BRB Jacques Pena é o coordenador geral da campanha de Júlio Miragaya (PT). Ao lado de outros dois assessores, ele deu suporte ao petista ontem. Explica que debates anteriores ajudam na preparação, mas que a campanha é que dita o tom que o candidato assume. “Nós debatemos com nossos candidatos o que entendemos como prioridade naquele debate, segundo a evolução da própria campanha”, diz.

No confronto de ontem, ele explica a estratégia adotada por Miragaya e Fátima Sousa na segunda rodada de perguntas. Os dois candidatos de esquerda fizeram questionamentos apenas entre si. “Vendo que estávamos sendo excluídos pela vontade política daqueles candidatos que fizeram os questionamentos no bloco anterior, nós decidimos por fazer as perguntas entre nós”, argumenta.

Candidato do DEM ao GDF, o deputado federal Alberto Fraga contou com a ajuda de dois membros da equipe de campanha. O publicitário João Paulo Oliveira e a assessora de imprensa Camila Calazans foram os responsáveis por passar orientações ao candidato durante o programa.

Frase

“O Rosso é muito ligado, muito ativo. Então, nos bastidores, nós temos que ficar também sempre muito atentos e ter rapidez”

Roberto Bueno, assessor de Rogério Rosso (PSD)

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Mais do mesmo

Dad Squarisi

29/08/2018

 

 

Sete candidatos. Duas horas de debate. Regras claras e tempo rigorosamente cronometrado. Eleitores atentos na televisão e nas mídias sociais. A expectativa: o confronto de programas de governo. Afinal, os postulantes têm um único objetivo — o assento no Buriti. Precisam do aval das urnas.

De olho no voto, apresentam-se embalados para presente. Blindam-se com palavras. Imperam promessas genéricas, que soam como música aos ouvidos de quem as faz. Problemas complexos, como saúde, segurança e transporte ganham soluções simplistas. De tão repetidas, viram chavão.

Chavão, na origem, é chave grande. Também molde de metal. Serve pra imprimir figuras e adornos em bolos e massas. Ou pra marcar gado. Tem a ver com repetição, ausência de frescor, de novidade. Num sentido mais amplo, é o que se faz, se diz ou se escreve por costume. Do mesmo jeitinho. Sem esforço. Como tirado de um molde.

A palavra tem sinônimos. Um é lugar-comum. Outro, clichê. Alguns dizem ladainha. Também vale estribilho e bordão. O povo lhe dá um nome — propaganda eleitoral ou discurso político. O debate de ontem não fugiu à regra. Faltaram propostas concretas, capazes de falar à população, de levá-la a decidir entre este ou aquele. Não só. Quando um candidato fazia pergunta pra outro, o interrogado respondia o que queria. Diálogo de surdos.

Se faltaram novidades, sobraram tropeços linguísticos. Eliana Pedrosa maltratou a concordância. Disse que “os Estados Unidos progrediu”. Alberto Fraga foi atrás. Citou “Recanto das Ema, os trabalhador” & cia. Júlio Miragaya apelou pra redundância do sujeito. “O Aécio Neves, ele fugiu da raia”. Rosso recorreu ao politicamente incorreto ao falar em “denegrir pessoas honestas”.

Etc. Etc. Etc.

Quem mais bateu na língua? Alberto Fraga foi impiedoso com o português nosso de todos os dias. A taça é dele. Mas nem tudo são pancadas. No final, o homem fez bonito. Pronunciou o s de subsídio como o de subsolo. Fez bonito.