Título: Cachoeira quis pôr fogo na República
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Fonte: Correio Braziliense, 06/05/2012, Política, p. 7
Araponga de bicheiro fez vídeo de José Dirceu para provar que o ex-ministro tramava contra Antônio Palocci
Com o objetivo de "pôr fogo na República", o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, utilizou um espião para monitorar o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. Interceptação telefônica divulgada ontem pelo blog Quidnovi, do jornalista Mino Pedrosa, ex-assessor do bicheiro, expõe diálogo entre Cachoeira e o senador goiano Demóstenes Torres (sem partido), de agosto do ano passado. Na conversa, o contraventor avisa ao parlamentar que o araponga Jairo Martins de Souza fez um vídeo do ex-ministro num hotel em Brasília, no início de 2011, provando que Dirceu estava tramando a queda do então ministro-chefe da Casa Civil do governo Dilma Rousseff, Antônio Palocci. Cachoeira conta a Demóstenes que o material seria publicado na imprensa em duas semanas.
"Ele planejou a queda do Palocci também. Recebia só gente graúda lá, tá? Isso quer dizer que os momentos importantes da República, o Dirceu comanda", diz o bicheiro ao senador. Entusiasmado, Demóstenes responde. "Exatamente. Aí é bom demais, uai. O que é isso?" Cachoeira continua relatando ao parlamentar os efeitos que o vídeo pode provocar. "É. Vai mostrar muita coisa, viu. Vai pôr fogo na República, porque vai jogar o Palocci contra ele (Dirceu)." Empolgado, Demóstenes concorda. "Exatamente. Aí é ótimo, fantástico."
O diálogo entre os dois foi interceptado pela Operação Monte Carlo. A conversa, que durou dois minutos e cinquenta segundos, ocorreu em agosto do ano passado. O araponga Jairo Martins de Souza foi denunciado pelo ex-deputado Roberto Jefferson, em 2005, quando estourou o escândalo dos Correios que culminou no caso do mensalão. De acordo com a investigação, Cachoeira financiava o esquema de arapongagem para obter vantagens de autoridades por meio de chantagens.
No diálogo, Demóstenes avisa a Cachoeira que o senador Blairo Maggi (PR-MT), da base governista, informou que "os caras" estariam querendo passar informações para a oposição com o objetivo de derrubar o governo Dilma. "É um momento bom para a oposição", responde Cachoeira. Maggi não retornou os contatos da reportagem para comentar o episódio.
Serra Matéria publicada pela revista IstoÉ neste fim de semana revela que a construtora Delta, no foco do escândalo, teria sido favorecida com contratos milionários pela Prefeitura de São Paulo nas gestões de José Serra (PSDB) e do atual prefeito, Gilberto Kassab (PSD). Conforme a reportagem, a Delta começou a prestar serviços à capital paulista em 2005, quando Serra assumiu o comando do município.
Inicialmente, os contratos somavam R$ 11 milhões. A partir de 2006, quando Serra deixou a prefeitura e venceu as eleições para governador, os negócios da empreiteira com o município se multiplicaram, em muitos casos sem licitação. A revista informa que a Delta venceu, em outubro do ano passado, uma concorrência para limpeza urbana no valor de R$ 1,1 bilhão. O Ministério Público abriu procedimento para investigar se houve algum tipo de fraude na concorrência. Há suspeitas de uso de documento falso e de edital dirigido.
Leilão rende mais de R$ 1 milhão O Senado arrecadou mais de R$ 1 milhão no leilão de 86 carros oficiais realizado ontem, no Núcleo Bandeirante. Todos os modelos leiloados eram Fiat Mareas pretos, ano 2003 ou 2005, com rodas de liga leve, air-bag duplo, ar-condicionado e motores 1.8 ou 2.4. Os lances iniciais foram de R$ 6,5 mil e R$ 7,5 mil. O veículo que rendeu mais dinheiro ao Senado foi vendido por R$ 20,2 mil — o mais barato saiu a R$ 11,1 mil. Os carros oficiais estavam parados desde novembro, quando o órgão substituiu a frota por veículos alugados. Os compradores que levaram os Mareas não vão saber quais eram os senadores que usavam os carros, uma vez que o Detran já alterou as placas.