O globo, n. 30983, 05/06/2018. País, p. 5

 

Sem sair da cadeia, Lula será testemunha em ação de Cabral

Tiago Aguiar

05/06/2018

 

 

Ex-presidente falará hoje ao juiz Bretas por videoconferência

-SÃO PAULO- O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai prestar seu primeiro depoimento de dentro da sede da da Polícia Federal (PF) em Curitiba, onde está preso desde o dia 7 de abril. Ele será testemunha do ex-governador Sérgio Cabral. A pedido da defesa, Lula não se deslocará até o prédio da Justiça Federal, e seu depoimento será prestado ao juiz Marcelo Bretas por videoconferência.

O pedido para que Lula não deixasse a PF partiu de seus advogados, e foi aceito pela Justiça, com concordância do Ministério Público Federal. Desde a determinação de sua prisão, o presidente tem demonstrado preocupação em evitar exposição de sua imagem como presidiário. Essa já havia sido a preocupação da defesa na ocasião em que Lula se entregou à Justiça, quando passou cerca de 48 horas entrincheirado no prédio do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo.

Para o depoimento de Lula na PF, equipamentos de videoconferência já foram levados para o prédio da Polícia Federal. Cabral foi autorizado a deixar o complexo penitenciário de Bangu para acompanhar o depoimento de Lula na sala de videoconferência com Bretas.

 

CASO DE COMPRA DE VOTOS DA OLIMPÍADA

Lula é testemunha de defesa de Cabral no processo da Operação Unfair Play, em que o ex-governador é acusado de participar de um esquema de compra de votos para fazer do Rio de Janeiro a sede da Olimpíada em 2016. É a mesma ação penal que levou à prisão do então presidente do Comitê Olímpico do Brasil, Carlos Arthur Nuzman.

O ex-governador do Rio comandaria um esquema de pagamento de propinas do qual fazia parte Nuzman, denunciado por corrupção ativa. De uma conta do “Rei Arthur", como é conhecido, teriam sido feito os pagamentos a Papa Diack e Lamine Diack para a compra dos votos que trouxeram os Jogos para o Rio. Papa é ex-diretor de marketing da Federação Internacional de Atletismo (IAAF) e Lamine é ex-presidente da instituição.

Nuzman foi preso em regime temporário no último dia 5, sua prisão foi transformada em preventiva, mas foi solto dias depois. Leonardo Gryner, ex-diretor do comitê Olimpíada 2016, também teve decretada prisão temporária e foi libertado ainda em outubro do ano passado. Ambos ficaram na cadeia pública de Benfica, na Zona Norte do Rio, onde Cabral esteve preso devido a outras acusações feitas pela operação Lava-Jato. (*Estagiário, sob supervisão de Flávio Freire)