Título: Governo vai ouvir bancos privados
Autor: Martins, Victor; Hessel, Rosana
Fonte: Correio Braziliense, 11/05/2012, Economia, p. 10

O Palácio do Planalto vai continuar a insistir na queda das taxas de juros aos consumidores e também na portabilidade, mas está disposto a ouvir os bancos privados, ainda que as "afrontas" patrocinadas pela entidade que representa o segmento, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), tenham acirrado os ânimos. O governo, inclusive, deve abrir as portas para negociação, ao menos para os executivos das instituições de maior porte, e olhar com mais atenção para a lista de exigências entregue ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, em abril. A presidente Dilma Rousseff pode ceder em alguns pontos, porém, apenas se tiver garantias sólidas de que a queda nos juros serão repassadas verdadeiramente aos consumidores, sobretudo no crédito imobiliário. A despeito da melhora na relação, ainda não houve nenhuma conversa sobre esses temas e o governo deve avançar, nos próximos dias, apenas em relação à regulamentação do cadastro positivo e o aperfeiçoamento da portabilidade.

Durante as negociações, os banqueiros pretendem pressionar a equipe econômica principalmente em relação aos depósitos compulsórios, recursos que as instituições financeiras são obrigadas a guardar no Banco Central para que não haja excesso de dinheiro em circulação e aumento da inflação. Eles querem que o percentual depositado nos cofres do BC seja menor que o atual — até março esse montante somava R$ 407 bilhões. Os bancos devem pedir ainda uma redução dos encargos sobre os empréstimos e financiamentos. Segundo executivos dessas instituições, como o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) tem caráter regulador, uma redução daria um estímulo ao crédito e à economia.

Um ponto de discórdia, porém, pode ser o Imposto de Renda cobrado sobre a rentabilidade dos fundos de investimento. O setor financeiro reclama que a cobrança mina a competitividade desses produtos frente a poupança, mas o governo não aceita abrir mão da arrecadação. Sobre os depósitos compulsórios, a derrota dos bancos é quase eminente, já que uma mudança no percentual a ser depositado no BC depende também da inflação: se ela aliviar, a autoridade monetária pode afrouxar, mas se a carestia subir, o Banco Central pode apertar ainda mais.

Negativas Integrantes da equipe econômica, ontem, negaram que esteja em debate uma diminuição dos compulsórios e do IOF. "Redução de compulsório e de IOF já entra na âmbito da política macroeconômica, depende de espaço fiscal e da programação monetária do Banco Central. São iniciativas que neste momento não estão sendo consideradas", afirmou Nelson Barbosa, secretário-executivo do Ministério da Fazenda. Ele tocou no assunto durante um evento no Rio de Janeiro.

O ministro Guido Mantega, ontem, passou o dia reunido com a presidente Dilma para debater novas medidas de estímulo à economia. Ao sair do encontro, no entanto, tentou se esquivar das perguntas, mas afirmou que o governo tem uma "infinidade" de medidas macroprudenciais à disposição e ainda que elas poderão ser utilizadas para garantir o crescimento da economia este ano. Disse também que todas essas opções estão em análise. "Temos várias medidas disponíveis e, ao contrário dos países avançados que não têm mais política monetária para fazer nesse quesito, o Brasil tem muita política para executar e esse é o nosso lastro. Usando esses instrumentos, podemos assegurar que a economia brasileira vai crescer mais do que no ano passado", argumentou. "Não vou mencionar medidas específicas. Vocês na imprensa falam todo dia e várias delas poderão ser tomadas", disse.

O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, também tratou de descartar mudanças nos compulsórios. "O governo certamente tem todos os instrumentos e se algum dia ajustar algum, certamente os senhores saberão. No momento, não há nada nesse sentido", garantiu. Ainda segundo Tombini, a perspectiva é de que o crédito cresça 15% em 2012, porém, o ritmo de concessão está mais lento do que o previsto.

O que tem ocorrido recentemente é que a concessão de crédito vem vindo mais lenta do que se esperava"

Alexandre Tombini, presidente do Banco Central

A GUERRA DOS JUROS 4 de abril Por determinação do Palácio do Planalto, o Banco do Brasil anuncia redução de juros em diversas linhas de financiamento. Nos dias seguintes, a medida é adotada também pela Caixa.

13 de abril A presidente Dilma Rousseff afirma que as taxas de juros praticadas no país são entraves ao crescimento.

20 de abril O Correio Braziliense informa que o governo vai mexer na Caderneta de Poupança para poder reduzir as taxas cobradas no sistema financeiro.

30 de abril Em pronunciamento na TV, Dilma reforça o ataque aos bancos e diz que eles não conseguem explicar por que o Brasil, com economia sólida, tem uma das taxas de juros mais altas do mundo, o que considera "inadmissível".

3 de maio O ministro da Fazenda, Guido Mantega, anuncia mudanças no rendimento da poupança.

8 de maio Informe da Febraban irrita o governo ao afirmar que "você pode levar um cavalo até à beira do rio, mas não conseguirá obrigá-lo a beber água", indicando que os bancos não devem aumentar o crédito.