O globo, n. 31008, 30/06/2018. País, p. 3

 

Impulso por fora

Juliana Dal Piva

30/06/2018

 

 

Sem financiador conhecido, páginas de apoio a Bolsonaro pagam para promover candidato

O pré-candidato do PSL, Jair Bolsonaro, possui nas redes sociais, sobretudo no Facebook, um de seus principais focos para alavancar sua disputa pela Presidência da República e, segundo ele próprio, tudo é feito sem patrocínio pago à empresa. No entanto, desde que o Facebook liberou a visualização dos anúncios ativos das páginas anteontem, o GLOBO identificou ao menos três páginas de apoio que pagam por impulsionamento. Até agora, não é possível saber seus donos e quem as financia.

A maior das páginas é a “Jair Bolsonaro 2018, a última esperança da nação”. Ela possui 482.985 seguidores e foi criada em 15 de março de 2017. A segunda maior é a “Bolsonaro — eu apoio”, que possui 299 mil seguidores e foi aberta mais recentemente, em 23 de fevereiro de 2018. Já a terceira é “Bolsonaro Minas Gerais”, que acumula 73.158 fãs e existe desde 2016. Em todos os casos, elas ampliam o número de pessoas que podem visualizar os conteúdos publicados — por meio de pagamento à rede social.

O conteúdo predileto das duas maiores páginas são textos de um site identificado como newsatual.com, elogiando Bolsonaro, ou então de textos com notícias distorcidas ou falsas. A terceira página publica mais imagens de apoio ao político do PSL. Procurado, Jair Bolsonaro disse desconhecer as páginas e o site.

— Desconheço. Não pago ninguém por fora — afirmou ele. — Já me sugeriram (impulsionar), mas o nosso é tudo orgânico — disse, ao explicar que é comum pessoas publicarem postagens sobre ele na internet. — Eu sou um cara que dá ibope.

O que todas as páginas possuem em comum é a dificuldade de identificar os responsáveis pelos posts e também pelo impulsionamento. A proximidade de Bolsonaro com uma delas foi identificada em um vídeo ao vivo no Facebook, chamado de live, e feito exclusivamente para a página “Jair Bolsonaro 2018, a última esperança da nação” em 18 de agosto de 2017.

A gravação possui 9min29s e foi feita em um ambiente fechado onde Bolsonaro aparece sentado em um sofá ao lado do filho e deputado federal, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). No post publicado para os usuários acompanharem, o perfil oficial de Bolsonaro foi marcado. Na ocasião, os dois comentaram um episódio no qual o presidenciável caminhava no Centro de Ribeirão Preto (SP) e uma militante do PCdoB se aproximou e apertou um ovo contra o peito dele.

— Obrigada por sua audiência — diz Eduardo. — Só estou aqui porque acredito em vocês — completou Bolsonaro, falando diretamente para a câmera.

Questionado sobre o vídeo, Jair Bolsonaro disse que fez um live para o Facebook do filho Eduardo.

— Essa live, pelo que me consta, foi específica para o Facebook do meu filho. Alguém deve ter copiado e botado na página dele — afirmou. O Facebook, no entanto, não permite que o conteúdo de uma live seja levado para outra página.

Quando se verifica as páginas curtidas pela “Jair Bolsonaro 2018, a última esperança da nação” e “Bolsonaro — eu apoio” é possível perceber que elas se associam a um grupo de outras cinco páginas. Todas remetem como contato o site newsatual.com. As demais páginas, embora não carreguem no nome uma menção clara à candidatura de Bolsonaro, também compartilham as mesmas notícias do site. A maior delas é a “Apoiamos a operação Lava-Jato — juiz Sergio Moro”, com 1,058 milhão de seguidores e que também paga patrocínio para promoção da página.

No site newsatual é possível ver publicações favoráveis ao pré-candidato do PSL, como quando ele deixou de receber o auxílio-moradia. “O fato, na realidade ocorreu em março, porém a mídia ignorou completamente, preferindo dar voz a polêmicas envolvendo o deputado”, dizia o texto.

Nele, também é possível ler exemplos das chamadas fake news, uma delas envolvendo a senadora Ana Amélia Lemos (PP-RS). Nela, o site dizia que as Forças Armadas apoiavam a senadora para ela assumir “o comando do Senado e colocar em pauta o impeachment dos Ministros pró-corrupção do STF”. Procurada, Ana Amélia negou contatos dos militares com essa intenção e disse que não possui controle sobre o que postam na internet.

— Nenhum comandante militar, e conheço todos, faria uma coisa dessas. Eles sabem que o processo não pode ter atalhos — disse a senadora.

Os posts pagos nas redes sociais são uma das novidades para a eleição de 2018, mas o que ficou estabelecido em lei é que apenas candidatos, partidos e coligações poderão promover conteúdo. Procurado, o Tribunal Superior Eleitoral disse que “eventuais interpretações da norma serão discutidas oportunamente em Plenário pelos ministros do TSE”.

O GLOBO tentou ontem contato com o site e as páginas ao longo do dia, mas não obteve resposta.

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Nas redes, Ciro aposta em Wesley Safadão e Caetano para bombar

Catarina Alencastro

Dimitrius Dantas

Jeferson Ribeiro 

30/06/2018

 

 

Marina e Alckmin reforçam baterias para combater onda de boatos

Acampanha do presidenciável Ciro Gomes (PDT) vai pedir a ajuda de artistas famosos para fazer o candidato bombar nas redes sociais. Wesley Safadão, Caetano Veloso, Beth Carvalho, Patrícia Pilar (ex-mulher de Ciro), Beth Faria, Fagner e até Tirulipa, filho do palhaço deputado Tiririca, serão procurados. Caso aceitem, farão vídeos para divulgar em seus perfis no Facebook, Instagram e WhatsApp.

Ciente de que as redes sociais são especialmente importantes em tempos de poucos recursos financeiros e de uma campanha mais curta do que as anteriores, Ciro tem a ambição de chegar aos 2 milhões de seguidores até o dia 16 de agosto, quando começam a ser veiculadas as campanhas no rádio e na TV. Hoje, ele tem cerca de 170 mil seguidores no Twitter e 275 mil no Facebook.

Nos últimos 30 dias, Ciro teve apenas o nono melhor desempenho no Facebook entre os principais pré-candidatos, segundo dados da ferramenta Crowdtangle. No Twitter, a situação é mais favorável: teve o quinto melhor desempenho.

Na campanha de Marina Silva, a principal estratégia, por enquanto, é comprar publicações patrocinadas nas redes sociais. A ambientalista, no primeiro dia da divulgação de posts patrocinados pelo Facebook, foi a que mais impulsionou publicações. Com a experiência de duas campanhas presidenciais, a pré-candidata da Rede tem um número de seguidores respeitável tanto no Facebook, com 2,2 milhões, como no Twitter, com 1,9 milhão, mais do que Jair Bolsonaro, por exemplo. Mesmo assim, a única orientação dada a quem atua no dia a dia das páginas é jamais atacar os adversários. A campanha também evitará responder aos ataques pessoais.

Por outro lado, o partido deve ter uma atenção especial com possíveis ataques com notícias falsas. No último mês, o partido fez uma primeira representação no TSE e conseguiu retirar das redes sociais, pela primeira vez, uma notícia que atribuía a Marina acusações de corrupção.

Já a campanha do tucano Geraldo Alckmin está agindo em três frentes para reagir a ataques e denunciar práticas irregulares dos adversários. Duas dessas frentes já estão no ar. A campanha criou dois sites que permitem aos apoiadores cadastrados denunciar uso de fake news ou propagandas ofensivas ao tucano. Em outra frente, o PSDB está treinando os militantes a identificar e documentar as denúncias contra campanha ilegal ou ofensiva contra Alckmin