O globo, n. 31008, 30/06/2018. País, p. 4

 

PSB pernambucano defende apoio ao PT e racha partido

Sérgio Roxo

Luís Lima

30/06/2018

 

 

Em SP, França apoia Alckmin; Ciro é nome forte em outros estados

Dois dias depois de o pré-candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes, visitar Pernambuco e se encontrar com o governador Paulo Câmara (PSB) e com a viúva de Eduardo Campos, Renata Campos, o diretório do PSB no estado defendeu, pela primeira vez, que o partido feche aliança com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a disputa pelo Palácio do Planalto. Embora Lula esteja enquadrado na Lei da Ficha Limpa, o PT insiste em registrar a sua candidatura em agosto.

Pernambuco é o estado com o maior número de representantes no diretório nacional do PSB. O estado também tem importância histórica para a legenda por causa de Campos e de seu avô, Miguel Arraes (1916-2005).

Nos últimos dias, políticos da legenda, como o deputado Júlio Delgado (MG), afirmaram que o acordo com Ciro estava próximo, mas o movimento do diretório pernambucano pode reverter o quadro. Integrantes do PSB de São Paulo, o segundo estado com o maior número de representantes no diretório nacional, também são contra a aliança com o pedetista. O governador de São Paulo, Márcio França (PSB), já disse que vai fazer campanha para Geraldo Alckmin (PSDB), de quem foi vice.

Ciro se reuniu, na tarde de terça-feira, com Câmara e com o prefeito de Recife, Geraldo Júlio (PSB), no Palácio Campo das Princesas, sede do governo pernambucano. O presidenciável postou uma foto do encontro nas redes sociais com a frase: “Sigo na luta por uma aliança com o PSB.” Em seguida, fez uma visita a Renata Campos e ao seu filho João, que será candidato a deputado federal.

Ao divulgar uma nota para desmentir que o acordo com Ciro estivesse fechado, o diretório pernambucano do PSB afirmou: “O partido em Pernambuco, seguindo a orientação do governador Paulo Câmara, permanece no diálogo com lideranças nacionais e locais de diversos partidos do campo democrático. Continuaremos a defender, dentro e fora do PSB, uma aliança com o Partido dos Trabalhadores, priorizando a candidatura do ex-presidente Lula.”

No mesmo dia em que a nota foi divulgada, Câmara havia se reunido com o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, e com a presidente nacional do PCdoB, Luciana Santos.

Os líderes do PSB em Pernambuco querem que o comando nacional do PT force a vereadora Marília Arraes, neta de Miguel Arraes e prima de Campos, a deixar a disputa pelo governo do estado. Impulsionada pela memória do avô e pela popularidade de Lula em Pernambuco, a petista Marília se transformou em ameaça ao plano de reeleição de Câmara no estado. Uma eventual derrota do atual governador seria um duro golpe no legado de Campos, que era o seu padrinho político.

PT QUER APOIO FORMAL

No PT, a posição majoritária entre dirigentes nacionais é que Marília só deve deixar a disputa se o PSB apoiar formalmente a candidatura do ex-presidente Lula ou de seu substituto.

— A candidatura da Marília (Arraes) só deixa de existir se o PSB, em nível nacional, apoiar formalmente o presidente Lula — afirmou o secretário-geral do PT, Romênio Pereira.

No começo de junho, os petistas aprovaram uma resolução determinando que as candidaturas estaduais estejam alinhadas ao projeto nacional do partido. No documento, o partido cita formalmente a intenção de buscar acordo com o PSB e o PCdoB.

Dirigentes do PSB em outros estados se opõem a uma aliança com o PT. Diante do impasse, um dos caminhos para o partido seria liberar os diretórios estaduais para apoiarem o presidenciável que fosse mais conveniente para os interesses locais. A solução agradaria também o PSB de São Paulo, segunda força da legenda. Neste cenário, o PSB de Pernambuco declararia adesão a Lula, mas o movimento dificilmente seria suficiente para que o objetivo principal, a retirada de Marília da eleição pernambucana, seja alcançado.

Desde a morte de Campos, em 2014, o PSB sofre com divisões internas e tem dificuldade de encontrar uma unidade. A decisão sobre o rumo do partido na disputa pelo Palácio do Planalto só deve ser anunciada no final de julho.

A posição do PSB pode influenciar também o PCdoB. A expectativa é que, se Ciro conseguir o apoio do PSB, pode também atrair os comunistas na formação de um bloco de centro-esquerda, isolando o PT.

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

‘Estamos trabalhando com a hipótese de não coligar’

Miro Teixeira

Maria Lima

30/06/2018

 

 

Deputado diz que Marina Silva (Rede) não vai oferecer cargos em um eventual governo em troca de apoio na campanha eleitoral

Como avalia a pesquisa CNI/Ibope, que mostra Marina em empate técnico com o Jair Bolsonaro?

Eu credito o empate à luz própria da Marina. A campanha ainda não começou, mas Marina é uma incansável peregrina: vai a todos os lugares para onde é convidada e fala para pequenos grupos. Ela não tem orgulho, vaidade nem arrogância.

Em 2014, ela tinha o apoio do Guilherme Leal, da Natura, da Neca Setúbal, do Itaú, do Alessandro Molon, que foi para o PSB. Houve uma debandada. Isso tem a ver com a personalidade da Marina? Ela é uma pessoa difícil?

A Marina não é nada difícil. É uma pessoa que tem um padrão de liturgia que impõe respeito nas conversas, mas é muito amistosa. Não creio que as pessoas tenham saído por causa de divergências com a Marina. Muitas saíram porque estavam prestando uma colaboração pelo Brasil e começaram a apanhar nas redes sociais. Presumo que tenha sido por isso. O que fizeram com a Neca e com o Guilherme Leal foi massacrante. Não é confortável para ninguém.

Essa posição que se consolida nas pesquisas pode tirá-la do isolamento e atrair alianças compartidos do centro?

Não é a pesquisa que atrai alianças. No nosso caso, eu entendo que a coligação, se existir, será com base na análise de propósitos. Não haverá trocas, não haverá um governo de cooptação. Nós queremos criar, efetivamente, uma administração republicana. E isso não é uma frase de efeito pura e simplesmente. Sempre existe muita cooptação, jogos subterrâneos, e nós estamos distantes disso. Agora, conversar, pode-se conversar sempre. Sempre se poderá ter um espaço aberto para verificar a identidade de propósitos, objetivos determinados, tudo feito publicamente.

Mas esse isolamento não inviabiliza a candidatura?

O que posso te dizer é que estamos trabalhando com a hipótese de não coligar. Se vier, será em torno de objetivos e propósitos. Não de negociações de cargos no governo. Para integrar o governo da Marina, será fundamental ser competente e ter a ficha limpa.

Mas quando os líderes com mais força não são atendidos, dão um jeito de minar o governo...

A integridade do presidente já impede isso, porque eleva o nível da conversa. Se você tem um presidente que não merece respeito, o Congresso identifica essa fraqueza e toma o poder na mão, que é o que vem acontecendo. O exemplo é Itamar Franco. Se tem um presidente íntegro, a relação com o Congresso é boa.

Caso ela seja eleita, o PT vai participar do governo?

A Marina diz que governará com os melhores de cada partido. O fato de ser vinculado ou filiado a um partido político não excluirá a pessoa. Mas também se constituirá um Ministério com especialistas sem qualquer vinculação partidária. O que não se pode é considerar a filiação partidária um obstáculo intransponível ao aproveitamento de uma pessoa de alta qualidade.

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Dilma disputa Senado e tira MDB de aliança

Fernanda Krakovics

30/06/2018

 

 

Participação da ex-presidente deve nacionalizar debate em Minas Gerais

A pré-candidatura da ex-presidente Dilma Rousseff ao Senado por Minas Gerais, confirmada na noite de anteontem, dificultou a reedição da aliança com o MDB no estado e deve nacionalizar o debate eleitoral. O principal adversário do PT na tentativa de reeleger o governador Fernando Pimentel será o senador Antonio Anastasia (PSDB-MG), que foi relator do processo de impeachment de Dilma e deu parecer favorável.

Presidente da Assembleia Legislativa de Minas, Adalclever Lopes (MDB) trabalhava para ser candidato ao Senado na chapa de Pimentel. Ele é filho do deputado federal Mauro Lopes (MDB-MG), que, mesmo tendo sido ministro de Dilma, votou a favor do impeachment. O PT negocia a outra vaga para o Senado com o empresário Josué Gomes , filho do ex-presidente José Alencar.

— A candidatura da Dilma vem sepultar qualquer possibilidade de o MDB compor com o PT — disse o vice-governador Antônio Andrade (MDB), que é rompido com Pimentel.

Independentemente de Dilma, a aliança com o MDB já era difícil, porque Andrade tem a maioria do diretório e é contra o acordo. Mas o lançamento da pré-candidatura da ex-presidente acirrou os ânimos com os antigos aliados.

— A Dilma fez o lançamento da pré-candidatura e veio dizer que a pauta do PT este ano é o combate aos golpistas. A gente quer entender o que é isso — disse o deputado Newton Cardoso Jr. (MDB-MG), que votou a favor do impeachment.

“TERCEIRO TURNO”

A intenção do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segundo petistas, ao bater o martelo sobre a transferência do domicílio eleitoral de Dilma do Rio Grande do Sul para Minas, foi fazer um “terceiro turno” contra o senador Aécio Neves (PSDBMG), com quem ela disputou a eleição de 2014. Inicialmente, Aécio tentaria a reeleição para o Senado, mas, depois de virar réu por corrupção passiva e obstrução da Justiça, avalia concorrer para a Câmara. Ele é acusado de receber propina de R$ 2 milhões da JBS e também de tentar atrapalhar as investigações da Lava-Jato.

— Aqui nós vamos defrontar os dois projetos para o Brasil. Um defende o desenvolvimento e o combate à desigualdade — afirmou Dilma, em entrevista após o lançamento de sua précandidatura, aproveitando para ressaltar que nasceu em Minas e fugiu de lá para não ser presa na ditadura.